Flexão de gênero: uma abordagem além de uma simples distinção de sexo.

Flexão de gênero: uma abordagem além de uma simples distinção de sexo.

Na Língua Portuguesa há uma distinção de gênero entre os nomes, em masculinos e femininos, porém esta é uma questão complexa e abordada de forma superficial, tanto nas gramáticas quanto nos processos de ensino/aprendizagem da língua, uma vez que, o indivíduo acaba sempre associando gênero ao sexo, sem distinguir os verdadeiros mecanismos de flexão e suas particularidades.

Na realidade sabemos que não devemos confundir gênero com sexo, pois estaríamos generalizando todo um processo de formação das palavras, seja ele lexical ou sintático. O gênero em nossa língua não é atribuído apenas a seres providos de sexo, mas também para seres inanimados, que logicamente são assexuados.

Dentro da classificação de gênero temos os substantivos biformes, que apresentam duas formas, uma para o feminino e outra para o masculino, tendo como regra geral a troca da desinência o por a, como por exemplo:

Menino/menina

Aluno/aluna

Existem palavras que também apresentam as duas formas de gênero, mas que não são definidas por desinências ou morfemas, e sim por outra palavra diferente, são chamados de heterônimos, e é o caso de:

Homem/mulher

Pai/mãe

Bode/cabra

Nestes casos temos oposição de gênero, mas não seria correto afirmar que mulher é o feminino de homem, e sim entender mulher como uma palavra sempre feminina e homem como uma palavra sempre masculina, e que as duas possuem oposições semânticas entre si, e o mesmo ocorre com os outros heterônimos.

Ainda dentro da classificação, temos os substantivos uniformes, que apresentam uma única forma, tanto para o masculino quanto para o feminino. São divididos em: epicenos, comuns de dois gêneros e sobrecomuns. Vejamos as características de cada um.

* Epicenos designam alguns animais, e para especificar o sexo do animal, deve-se acrescentar as palavras macho/fêmea. Exemplos:

A cobra macho/ a cobra fêmea

A baleia macho/ a baleia fêmea

O jacaré macho/ o jacaré fêmea

* Sobrecomuns são substantivos invariáveis que nomeiam pessoas, e não é possível reconhecer o gênero apenas pelo substantivo. É necessário que se compreenda o contexto em que está inserido para a identificação do gênero. Exemplos:

O cônjuge

O indivíduo

A criança

A testemunha

Como por exemplo na frase: “ A testemunha, João, é protegida por lei”, pelo fato de testemunha ser sempre um substantivo feminino tanto para indicar homem ou mulher, só passamos a entender o gênero ao qual se referia depois de observarmos o contexto da frase.

* Comuns de dois gêneros são substantivos invariáveis que nomeiam pessoas, e só podemos distinguir masculino de feminino através da concordância com o artigo. Exemplos:

O artista/ a artista

O dentista/ a dentista

O estudante/ a estudante

O cliente/ a cliente

Há também substantivos de gênero vacilante, que apresentam dúvidas quanto ao seu gênero, e pode ser usado no masculino, no feminino, ou nos dois. Vejamos algumas ocorrências:

Masculinos

O dó

O champanha

O guaraná

O alvará

O eclipse

Femininos

A cal

A análise

A hélice

A omelete

A aguardente

Masculinos ou femininos

O personagem/ a personagem

O sabiá/ a sabiá

O suéter/ a suéter

Temos substantivos que apresentam mudança de significado de acordo com seu gênero. Exemplos:

O língua: intérprete / A língua: músculo, idioma

O cabeça: líder / A cabeça: parte do corpo

O capital: dinheiro / A capital: cidade sede de governo

O cisma: separação / A cisma: preocupação

Uma questão importante que devemos aprender, é a diferenciar a flexão de gênero com a derivação, se não cairemos naquele mesmo ciclo de apenas atribuir o gênero em relação de oposição ao sexo. Como por exemplo: se relacionarmos que IMPERATRIZ é feminino, apenas porque tem o masculino, IMPERADOR. Seguindo esta questão, vejamos como se dá o processo de derivação, que não é de flexão.

É importante observar que alguns sufixos derivacionais são verdadeiros atribuidores de gênero. Vejamos alguns exemplos:

1-Sufixos formadores de

Substantivos femininos

- ADA

- INHA

2-Substantivos primitivos

masculinos

BOI/ MOLEQUE

GALO

3-Substantivos derivados

femininos

BOIADA/MOLECADA

GALINHA

1-Sufixos formadores de

Substantivos femininos

-TRIZ

2-verbo

IMPERAR

3-Substantivos derivados

femininos

IMPERATRIZ

Assim como temos os sufixos que alteram o gênero para o feminino, também temos os que derivam gêneros para o masculino. Alguns exemplos:

1-Sufixos formadores de

Substantivos masculinos

-AL

-EIRO

2-Substantivos primitivos

femininos

LARANJA, POMBA

PALHA, FORMIGA

3-Substantivos derivados

masculinos

LARANJAL, POMBAL

PALHEIRO, FORMIGUEIRO

Os sufixos não precisam necessariamente, no processo derivacional mudar o gênero do substantivo primitivo. Como nos exemplos a seguir:

- A laranja( F) - A laranjada(F)

- A goiaba(F) - A goiabada(F)

Transferindo esses pressupostos para uma abordagem do processo de ensino / aprendizagem, notamos que para um melhor desempenho, é preciso deixar de lado os ensinos prescritivos e mecânicos da gramática normativa, e transformar o indivíduo em um sujeito ativo no aprendizado, para que este passe a refletir sobre a língua e a perceber seus usos, podendo assim, saber discernir que a flexão de gênero não é apenas uma relação ao sexo dos seres.

Enfim, podemos observar como a categoria de flexão de gênero é estabelecida dentro do nosso sistema linguístico, e suas características particulares, seja em casos especiais, ou na sua diferenciação a respeito da derivação.

Dayane Pereira
Enviado por Dayane Pereira em 27/05/2009
Código do texto: T1617264
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