O ELETROENCEFALOGRAMA SIMPLES (EEG)

O ELETROENCEFALGRAMA SIMPLES

Paulo Roberto Silveira

Médico Aposentado da Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro

• Medico Perito Legista de Primeira Classe. Neurologista Forense • Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto

Departamento Geral de Polícia Técnico-Científica

Secretaria de Estado de Segurança Pública • Estado do Rio de Janeiro

Advogado - Direito Médico

Membro Efetivo do Pen Clube do Brasil.

Escritor Médico

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“As mais agudas, as mais grave e as mais mortais das doenças são aquelas mais difíceis de se compreender devido à falta de conhecimento e inexperiência dos médicos: aquelas que atingem o cérebro”

Hipócrates (médico grego, nascido na ilha de Cos, em 460 a.C)

Resumo

O objetivo deste estudo é chamar a atenção a respeito da importância do método diagnóstico das doenças neurológicas e psiquiátricas: a eletroencelografia.

Unitermos: eletroencelografia básica.

Introdução

A eletroencelografia ocupa-se do registro e do estado da atividade elétrica encefálica.

O primeiro a demonstrar a existência de atividade elétrica espontânea do encéfalo foi Caton, em 1875, utilizando, para isso, eletrodos colocados sobre o crânio de animais (coelhos e macacos) ou colocados em contato direto com o córtex.

A eletroencelografia entrou na prática clínica depois que Adrian e Mathews demonstraram, em 1934, a veracidade dos registros e trabalhos de Berger. A Berger, portanto, corresponde a paternidade do método e sua aplicação clínica, apresentada em 1924). Após a divulgação das observações de Berger, foram desenvolvidas investigações sobre o assunto em diferentes centros de pesquisa. Desde então, pôde-se ver um rápido desenvolvimento da nova especialidade em diferentes setores da medicina, por meio de um grande número de publicações sobre o assunto. Entre os pioneiros da aplicação da eletroencefalografia clínica destacam-se no estudo das epilepsias os nomes de Gibbs, Davis e Lennox, assim como o de Walter na localização de tumores intracranianos.

O registro eletroencefalográfico é um método complexo, obtido por eletrodos dispostos sobre o couro cabeludo, mostrando, sobre um papel em movimento, a DDP ( Diferença de Potencial) entre os mesmos.

A atividade elétrica cerebral é espontânea e contínua, podendo ser evidenciada durante a vigília, o sono, a anestesia e o coma, cessando apenas nos estados extremos de anoxia cerebral. É captada sobre o couro cabeludo, base do crânio, sobre o cérebro exposto ou na profundidade do mesmo.

Quando captados através do couro cabeludo (prática mais usada), os potenciais são ainda menores (geralmente de 30 a 100 microvolts) e seu registro, por meio do oscilógrafo, só se torna possível após prévia amplificação.

Não são suficientemente conhecidos a origem e o modo de formação dos potenciais captados ao nível do couro cabeludo. O que se acha mais provável, no momento, é que resultariam de potenciais formados nos dendritos e/ou nas sinapses axossomáticas e axodendríticas, influenciados pela formação do tronco do encéfalo.

Aspectos técnicos

Condições ideais para uma boa tomada de registro:

— paciente em repouso sensorial (olhos fechados);

— sala em penumbra e refrigerada, a fim de se evitar os artefatos de sudorese livre, tão comumente encontrados;

— ambiente livre de interferências externas. Desta forma, evita-se os artefatos de interferência externa (ruídos). Em alguns casos, somos obrigado a lançar mão de gaiolas de Faraday.

Tipos de eletrodos

1. Superficiais – aplicados sobre o couro cabeludo.

2. Especiais ou basais – aplicados na base do crânio.

3. Neurocirúrgicos.

O tipo mais usado de eletrodo é o superficial, e consiste em um pequeno disco metálico soldado a um fio condutor isolado. Na prática, utilizam-se geralmente 15 a 20 eletrodos. O registro de atividade captada em quaisquer dos eletrodos denomina-se derivação. Um conjunto de derivações constitui uma montagem.

Quando uma derivação registra a atividade captada por dois eletrodos ativos é denominada bipolar; quando um dos eletrodos é pouco ativo, ou “indiferente”, a derivação se diz unipolar ou monopolar.

Freqüentemente se usam montagens em que um determinado eletrodo é comum a todas as derivações. Tais montagens se denominam montagens “com eletrodo de referência comum”.

Na maioria dos laboratórios, os eletrodos são colocados em oposição estabelecida de acordo com o denominado “Método 10-20”, recomendado pela Federação Internacional das Sociedades de Encefalografia e Neurofisiologia, com base em medidas que constituem de 10% a 20% de duas distâncias fundamentais: uma longitudinal — do Nasio ao Inio — e outra transversal, correspondente à distância entre os pontos pré-auliculares. As letras Fp, F, C, P, O e T referem-se, respectivamente, às linhas de eletrodos pré-frontais, frontais, centrais ou rolândicos, parietais, occipitais e temporais. Os índices ímpares correspondem ao hemisfério esquerdo e os pares ao direito. Os eletrodos da linha média são representados por Fo, Co e Po. O paciente deve ser instruído previamente quanto à inocuidade do exame, e apresentar-se alimentado, com a cabeça limpa, sem óleo, brilhantina ou laquê. Se o exame tiver de ser registrado durante o sono, é aconselhável que, na noite anterior, durma menos do que o habitual.

Artefatos

Durante a obtenção dos traçados, o registro eletroencefalográfico é freqüentemente perturbado pela presença de artefatos, isto é, potenciais de origem extra-encefálica, que podem dificultar ou mesmo impedir a interpretação do gráfico. Uma boa técnica de exame deve reduzi-los ao mínimo possível.

Os artefatos são devidos a diferentes causas: cabelos sujos ou muito oleosos, movimentos oculares exagerados, sudorese, eletrocardiograma — eletrodo situado sobre uma artéria, por exemplo — instrumental (mau contato de eletrodos), fatores externos (ruídos em geral provocados por alguns aparelhos elétricos, como, por exemplo, telefones).

Eletrocortigografia

Em casos especiais, são utilizadas técnicas diferentes. Assim, a eletrocorticografia consiste no registro de atividade elétrica captada por eletrodos em contato direto com o córtex. Exige o emprego de eletrodos especiais, é praticada em sala cirúrgica, e a distribuição dos eletrodos sobre o córtex é processada pelo neurocirurgião, que se mantém em constante comunicação com o eletroencefalografista. O traçado obtido é o eletrocorticograma, e seu valor resulta do fato de que permite localização mais precisa de focos epileptógenos, facultando assim a delimitação da área que deverá ser retirada no tratamento cirúrgico das epilepsias.

Eletrodos especiais

Além dos eletrodos usados habitualmente, podem ser utilizados, em certos casos, eletrodos faríngeos, esfenoidais e timpânicos. Destinam-se à investigação da atividade elétrica da base do cérebro e dos lobos temporais particularmente.

Métodos de ativação

São provas com a intenção de evidenciar anormalidades que não se manifestem espontaneamente durante o registro em repouso.

Reação de parada

A abertura e o fechamento dos olhos pode desencadear anormalidades no traçado, sobretudo em se tratando de um indivíduo epiléptico. Como resposta normal observa-se atenuação (ou desaparecimento) do ritmo alfa occipital.

Hiperpnéia

No adulto pode haver uma ligeira lentificação (desde que simétrica e difusa) do registro.

Estimulação fótica intermitente (FEI)

Na maioria dos indivíduos, a FEI não provoca troca alguma no registro de base, estando ou não o paciente de olhos abertos. Em outros, produz-se nas derivação occipitais um potencial eletropositivo com a mesma freqüência com que o estroboscópio envia seus estímulos luminosos. Isto é conhecido como efeito driving. Além deste fenômeno, existe outra resposta igualmente fisiológica, conhecida como resposta fotomioclônica. Esta consiste em potenciais musculares que têm a freqüência de estímulo luminoso e que podem ser acompanhados de abalos da cabeça e do pescoço. Uma das características notáveis da resposta fotomioclônica é sua interrupção total com a abertura dos olhos, ou mesmo com a abertura de um só olho, mesmo que o outro continue recebendo os estímulos luminosos.

Para a ativação fótica intermitente utiliza-se um estroboscópio que emite estímulos luminosos branco-azulados variáveis de 1 a 50 por segundo. Cada estímulo dura uma fração de segundo. A lâmpada que envia o estímulo é colocada a uma distância aproximada de 20 cm dos olhos do paciente. Começamos a ativação enviando um estímulo por segundo, durante cinco segundos, tendo o paciente os olhos fechados; cinco segundos com os olhos abertos, e finalmente, outros cinco segundos com os olhos fechados. Logo passamos a dois estímulos por segundo, observando-se o mesmo procedimento e, assim sucessivamente, percorremos toda a gama de impulsos. Pode-se repetir a prova enviando dois estímulos simultâneos ou mais por segundo. O máximo efeito em pacientes suscetíveis é não só a descarga subclínica ao EEG, como também uma convulsão clínica. Cooper e seus colaboradores consideram que se obtém maior efeito se estimularmos subitamente, de uma só vez, com 15 estímulos por segundo, sem aviso prévio.

Sono induzido

O sono é induzido normalmente com barbitúrico (seconal, por exemplo) ou com derivado de fenotiazinas. É importante que o sono deva ser superficial, já que ao se aprofundar o sono perdemos todas as possibilidades de se detectar anomalias. Portanto, ao se tomar o registro em sono, devemos, vez por outra, fazê-lo flutuar entre vigília e sono ligeiro, por meio de estímulos.

Considerações gerais

Quando o eletroencefalografista “lê” um EEG põe em jogo um processo ordenado e racional, pelo qual chega a uma conclusão final. Toda análise de um EEG começa com o conhecimento de dois fatores, sem os quais a interpretação correta não é possível: a idade do paciente e o seu estado de consciência.

Logo após, inicia-se a leitura do traçado, observando-se a calibração em cada canal. Com estes dados em mente, inicia-se a análise do registro. Aqui se agregam outros elementos, sem os quais a interpretação acertada não é possível. Assim é o conhecimento das montagens utilizadas. Processados mentalmente todos os passos anteriores, podemos analisar os elementos gráficos do EEG. Nesta segunda etapa, tem-se em conta uma série de fatores relacionados, dos quais surge uma conclusão final. Estes fatores são:

— relação das freqüências presentes com a idade e o estado de consciência;

— distribuição topográfica correta dos ritmos cerebrais;

— possível troca do estado de consciência durante o registro;

— simetria inter-hemisférica;

— presença de ondas ou ritmos anormais;

— presença de ritmos paroxísticos (normais ou anormais).

Eletroencelografia normal

O eletroencefalograma normal do adulto, assim como o da criança após os primeiros meses de vida, varia fundamentalmente, segundo se registra, em vigília ou durante o sono.

O eletroencefalograma em adulto normal em vigília ou em repouso (olhos fechados) caracteriza-se pela presença de dois ritmos fundamentais: o alfa, dominante nas áreas posteriores, e o beta, nas áreas anteriores e centrais principalmente.

A característica principal destas atividades é, sem dúvida, o sincronismo e a ritmicidade que apresentam.

Coerência inter-hemisférica

Pode-se aceitar uma diferença de voltagem de até 50% menos no hemisfério dominante. Se a diminuição de voltagem é verificada no hemisfério não-dominante, aceita-se com normal uma diferença de apenas 10%. Estas diferenças de voltagem se observam notadamente nas derivações posteriores.

Ritmos e ondas normais

Ritmo alfa (8 a 12 ou 13 ciclos por segundo, ou c/s)

Observa-se sobretudo com os olhos fechados. É atenuado ou desaparece com os estímulos, principalmente o visual (reação de parada presente). No adulto normal, a atividade alfa permanece mais ou menos constante, diminuindo com a velhice (alfa 8,0 a 9,0 c/s). Sua voltagem média encontra-se em torno de 50 microvolts, podendo-se aceitar como normais amplitudes de até 150 a 200 microvolts (sobretudo em crianças). Aceita-se que núcleos talâmicos atuem como reguladores e que promovam a sincronia entre os hemisférios (segundo Jasper). Precisamente agora predomina o conceito de que a atividade elétrica dos dendritos é a base do eletroencefalograma.

A atividade alfa desaparece rapidamente, tão logo o indivíduo entre em sonolência. Durante o sono, está totalmente ausente. A presença do ritmo alfa é um índice de que o paciente se acha desperto e em estado de relaxamento mental. Ao deixarmos o paciente de olhos abertos durante algum tempo, e quando ele já não está prestando atenção ao que olha, o ritmo alfa reaparece, mesmo estando o indivíduo com os olhos abertos. A ausência total de atenuação por ocasião dos olhos abertos constitui anormalidade ou índice de disfunção cerebral.

Ritmo beta

É todo ritmo com freqüência acima de 13 c/s. É predominantemente encontrado nas áreas anteriores e centrais. Algumas pessoas o apresentam em todas as regiões cerebrais (EEG de baixa voltagem ou bloqueado). É importante assinalar que os barbitúricos, meprobamato e outros agentes psicofarmacológicos produzem abundância de atividade beta. Outras substâncias tendem a desorganizar o registro, como, por exemplo, chocolate e certos queijos amarelados que contêm tiramina. A difenil-hidantoína em altas doses pode tornar o traçado isoelétrico ou retilíneo.

Ritmo teta

Varia de 4 a 7,5 c/s. É encontrado em jovens e crianças, sendo aceito em adultos, desde que em pequenas proporções e sincronicamente dispostos.

Ritmo delta

Varia de 0,5 a 3,5 c/s. É encontrado em crianças com até cerca de nove anos de idade.

Ritmo mu

Varia entre 7 e 11 c/s. É detectável nas áreas centrais e em forma de arco no traçado eletroencefalográfico. É fisiológico, podendo ser uni ou bilateral, e abolido ou atenuado pela contração do membro superior contralateral. Apesar de se assemelhar ao ritmo alfa, é atenuado pela abertura dos olhos. Não tem significado patológico.

Ondas lambda

Se pedirmos ao indivíduo para abrir os olhos e mostrarmos uma imagem complexa (uma foto ou quadro de paisagem, por exemplo), podem aparecer nas áreas occipitais, em certas pessoas, ondas eletropositivas de baixa a mediana voltagem, denominadas ondas lambda. Se trocarmos o objeto a ser olhado, ou se desfocarmos a imagem de um diapositivo, por exemplo, as ondas lambda desaparecem, voltando novamente, tão logo a imagem retorne em boas condições. É, pois, um potencial visual evocado. Em EEGs de baixa voltagem pode haver um fenômeno curioso: off effect.

EEG na velhice

Embora o EEG do velho sofra uma redução na freqüência correspondente a um índice de deterioração mental, a experiência diária nos mostra que os indivíduos com mais de 80 anos de idade, mas em boa saúde, apresentam traçados impossíveis de diferenciar dos de um indivíduo jovem.. Assim, embora a deterioração intelectual possa ser associada a uma redução alfa, os pacientes idosos que apresentam ritmo alfa similar aos dos adultos jovens manifestam comumente preservação de suas faculdades mentais.

Quanto mais severa for a deterioração, maior número de ondas lentas são observadas.

Ritmos normais do sono

Em um mesmo indivíduo, o EEG durante o sono espontâneo ou induzido por hipnótico revela acentuadas diferenças em relação ao obtido durante a vigília. As características do traçado dependem da idade do paciente e da profundidade do sono. Diferentes fases podem ser identificadas, da sonolência ao despertar espontâneo.

As considerações que se seguem dizem respeito apenas às modificações mais importantes que se observam no EEG obtido durante o sono. A transição de vigília para o sono (fase de sonolência) no adulto é acompanhada pelo desaparecimento gradual e progressivo das ondas alfa, que são substituídas por ondas teta irregulares de pequena amplitude. Em crianças com idades entre três e 10 anos, observa-se freqüentemente o aparecimento de surtos de ondas lentas (3 a 4 c/s) de amplitude elevada, generalizadas e muitas vezes acompanhadas por ondas pontiagudas, intercaladas ou superpostas de modo irregular. A semelhança de tais surtos com complexos ponta-onda (de significação patológica definida) pode dificultar a interpretação ou mesmo induzir a erro diagnóstico — “descarga de pseudo pequeno mal”.

Posteriormente, durante o sono leve, evidenciam-se elementos bastante característicos: os fusos (ritmo sigma), limitados às áreas frontocentrais e/ou temporais. Caracterizam-se por ondas compreendidas entre 10 e 14 c/s e se apresentam geralmente em grupos, freqüentemente com aspectos fusiformes. Podem ser identificados precocemente, em geral a partir dos três ou quatro meses de idade. Ocorrem em ambos os hemisférios, embora não obrigatoriamente de maneira simultânea. Sua presença em apenas um dos hemisférios sugere a existência de lesão no outro hemisfério.

Durante o sono mais profundo, a atividade elétrica é representada principalmente por ondas lentas generalizadas, de voltagem elevada. Durante o despertar espontâneo, o traçado apresenta um sentido inverso às modificações observadas desde a sonolência ao sono profundo. De maior interesse para o eletroencefalografista é, entretanto, o despertar provocado por estímulos auditivos ou táteis.

Na criança, traduz-se pelo aparecimento de ondas generalizadas lentas (4 a 5 c/s) de voltagem elevada, que devem ser simétricas (coerência inter-hemisférica).

No adulto, a transcrição é brusca, resultante de crescimento do ritmo alfa logo após a aplicação de estímulo. Quando de intensidade insuficiente para provocar o despertar, os estímulos determinam geralmente o aparecimento do complexo K, de morfologia variada, consistindo habitualmente em uma onda lenta de amplitude elevada, com ondas rápidas superpostas em sua porção descendente, predominando o vértex.

Sono paradoxal

Todas as trocas que descrevemos até agora no EEG se caracterizam pela presença de ritmos lentos. Conseqüentemente, essas etapas são globalmente denominadas sono lento. Durante este sono lento é relativamente fácil despertar o indivíduo. Depois de um período variável, ele chega em sua variação cíclica e a um estado de sono em que não há ritmos lentos — fase REM, de Rapid Eyes Movement (Movimento Rápido dos Olhos) — na qual existe atividade rápida de baixa voltagem, como pode ser observado nos estados de vigília. Nessa ocasião torna-se muito difícil despertá-lo. Esta parte do sono se denomina fase do sono paradoxal. As etapas na fase REM ocupam aproximadamente 25% do sono noturno no adulto.

Todos os estados indicam uma diferença qualitativa entre o sono paradoxal (rápido) e o sono lento. Sem dúvida, ambos vão unidos, sendo o sono lento, pré-condição para o sono paradoxal. Se privarmos o homem da espera do sono paradoxal, no período de recuperação subseqüente, o sono lento terá uma duração maior e compensadora. O que indica claramente que esta etapa é necessária para o indivíduo.

Fatores que modificam o EEG

Muitos são os fatores que podem influir, modificando o EEG normal. Os mais importantes são o estado emocional do paciente e os medicamentos a ele prescritos. Veremos também os fatores que relacionados ao sexo e hemisfério dominante. E também no que diz respeito a certos alimentos (queijos, chocolate).

Estado emocional

Indivíduos muito apreensivos, tensos no momento do exame, podem mostrar excesso de freqüência rápida de baixa amplitude em todas as áreas cerebrais. Obtém-se assim o traçado de baixa amplitude (plano) sem ritmo alfa.

Medicamentos

Muitas das inúmeras drogas introduzidas com o avanço da Psicofarmacologia modificam o EEG. No momento do exame, é recomendável conhecer qual ou quais drogas estão sendo administradas ao paciente. Em linhas gerais, os barbitúricos podem produzir excesso de ritmos rápidos. A difenil-hidantoína, utilizada em altas doses, podem dar origem a um EEG plano. Estudos com eletrodos intracerebrais têm demonstrado que a atividade rápida característica dos barbitúricos é essencialmente cortical.

A suspensão dos mesmos produz um estado de hiperexcitabilidade cortical, que por vezes se evidencia durante a estimulação luminosa intermitente. Muitos laboratórios de EEG aconselham a suspender os medicamentos dois ou três dias antes da tomada do registro. Isto não é aconselhável, pois só o médico assistente está em condições de determinar se o paciente pode ou não interromper o medicamento. Portanto, a suspensão de um barbitúrico pode gerar uma resposta falso-positiva durante a FEI (sacudidas mioclônicas) ou mesmo induzir a crise convulsiva generalizada.

Sexo

As diferenças que podem existir carecem de valor clínico. Assim, por exemplo, o EEG do sexo feminino pode variar em freqüência de acordo com o momento do ciclo menstrual. O ritmo pode estar mais lento (sempre dentro da faixa fisiológica) e reduzir sua voltagem no período pré-menstrual. A atividade teta pode ser mais abundante em mulheres jovens do que em homens da mesma faixa etária.

Hemisfério dominante

Podemos achar menos amplitude na derivação temporal posterior e occipital do hemisfério dominante, se compararmos à mesma derivação do hemisfério não-dominante.

Tipos de alimento

Certos tipos de alimento (queijo e chocolate), quando ingeridos em excesso, podem desorganizar, por vezes de maneira intensa, o ritmo normal do EEG.

Genética dos ritmos cerebrais

Não é possível compararmos o traçado dos pais com o dos filhos, pelo fato do traçado da criança ser sumamente diferente e apresentar características próprias. No entanto, podemos comparar o EEG dos pais com o dos filhos adultos. A esse respeito, não há muitas investigações realizadas. Mas Vogel & Gotze puderam demonstrar que o traçado de baixa voltagem (dito plano) se acha geneticamente determinado.

Eletroencefalograma anormal

Assimetrias

Assimetria evidente e persistente entre áreas homólogas constitui sempre anormalidade, quer se manifeste durante a vigília ou durante o sono, e isto em qualquer idade. Durante o sono, a assimetria resulta freqüentemente da presença — em apenas um dos hemisférios — de ritmos rápidos ou de elementos que, no sono normal, se apresentariam bilateralmente, tais como complexos K, atividade sigma, etc.

Ritmos paroxísticos

São modificações bruscas e temporárias da freqüência (dessincronização) e/ou da amplitude do ritmo fundamental. Têm significado patológico quando se apresentam durante a vigília.

Ondas anormais

As ondas lentas, isto é, as de freqüência menor que 8 c/s constituem anormalidade quando se apresentam em traçados de adultos durante a vigília. Podem também ter significação patológica em crianças e também durante o sono, dependendo, nesses casos, de sua freqüência e distribuição topográfica. As pontas ou espículas são ondas pontiagudas, de pequena duração (1/12 de segundo) e de amplitude geralmente elevada. As ondas agudas, ou ondas sharp, têm aspecto semelhante aos das pontas, mas possuem maior duração (são pontas mais lentas). Esses vários tipos de ondas anormais podem apresentar-se isoladamente ou em grupos (polipontas), ou ainda associar-se entre si, formando complexos (complexos ponta-onda e poliponta-onda). As alterações que se verificam podem ser divididas, grosso modo, em dois grupos principais:

- anormalidades do tipo irritativo, tais como pontas, ondas agudas, complexos ponta-onda, etc, geralmente paroxísticas e quase sempre indicativas de manifestações clínicas epileptiformes;

- aquelas que traduzem sofrimento cerebral determinado por agentes patogênicos de diferentes tipos (neoplasias, traumas cranianos, acidentes vasculares encefálicos), representados pelas ondas teta e delta.

Epilepsias

De regra, o exame eletroencefalográfico é praticado nos intervalos entre as crises, pois é relativamente raro que o paciente sofra uma crise epiléptica não-provocada durante o exame. A maioria dos traçados é, pois, do tipo interictal.

As anormalidades mais comumente encontradas nos intervalos entre as crises epilépticas são paroxísticas, isto é, temporárias e não contínuas. Consistem em descargas ou surtos de ondas de grande amplitude, de forma e freqüência variáveis, resultantes da sincronização das descargas individuais dos neurônios (hipersincronia).

Localização

As anormalidades podem se classificadas em três grupos principais: bilaterais sincronas, focais corticais e difusas.

Anormalidades bilaterais síncronas – apresentam-se em todas ou em quase todas as áreas cerebrais, com a particularidade de possuírem, em áreas homólogas, características de forma, freqüência e amplitude sensivelmente iguais. O exemplo típico pode ser encontrado nos surtos de complexos ponta-onda que se registram durante as crises de "ausência” do pequeno mal.

Anormalidades focais corticais – limitam-se a uma ou várias áreas cerebrais e indicam a existência de lesões de natureza diversa (cicatrizes meningocorticais, malformações, neoplasias). As anormalidades focais são evidenciadas com maior nitidez quando a lesão se situa na convexidade dos hemisférios cerebrais. Quando possui situação profunda, a identificação do foco torna-se difícil ou mesmo impossível.

Anormalidades difusas – como o nome indica, evidenciam-se nas várias áreas de ambos os hemisférios, podendo predominar nesta ou naquela região ou hemisférios. Diferentemente das disfunções paroxísticas bilaterais sincronas, as anormalidades não se apresentam — em áreas homólogas — com as mesmas características ao mesmo tempo. Em outras palavras, falta a sincronia que caracteriza as descargas provenientes da região centroencefálica. Nas disfunções difusas a anormalidade é contínua, generalizada, irregular, podendo também apresentar surtos bilaterais síncronos de ondas lentas com voltagem elevada, muitas vezes com pontas intercaladas de modo irregular ou grupos de complexos ponta-onda ou onda aguda-onda lenta. O exemplo típico de disfunção difusa se encontra na chamada hipsarritmia caraterizada por ondas lentas de voltagem elevada, generalizadas, com pontas e ondas intercaladas a intervalos variáveis e com localização também variável.

Espículas positivas – 14 e 16 por segundo

São pequenos grupos de espículas orientadas para baixo da linha de base (e por isto positivas). Normalmente são encontradas durante o sono, com predomínio nas áreas anteriores e médias. Associam-se à epilepsia diencefálica.

Neoplasias

As neoplasias são eletricamente inativas. As alterações que se evidenciam como resposta à presença do tumor não se originam, portanto, nas células neoplásicas, mas sim em neurônios ou grupos neuronais na vizinhança ou à distância do tumor (ritmos à distância). As anormalidades encontradas não são específicas. São mais intensas quando o tumor possui crescimento rápido e se localiza nos hemisférios cerebrais próximos à superfície. Os de crescimento lento e de situação profunda, assim como os da fossa posterior, podem não modificar o traçado ou dar origem apenas a alterações pouco evidentes.

Traumatismos cranioencefálicos

Informações úteis ao clínico podem ser fornecidas pela eletroencefalografia, tanto nos traumatismos recentes como nos antigos. Nos recentes, as anormalidades consistem geralmente de ondas lentas focais, lateralizadas ou generalizadas, e o grau das alterações é, grosso modo, proporcional à gravidade do trauma. Um traçado normal, obtido pouco tempo após o traumatismo, é sugestivo de evolução clínica favorável. Na maioria dos casos, a melhora clínica é acompanhada do desaparecimento progressivo das alterações, que podem, entretanto, persistir durante algum tempo após a recuperação clínica. Nos traumas antigos (ocorridos há mais de três meses) o EEG possibilita a identificação de eventuais focos epileptógenos (epilepsia pós-traumática), resultantes de possível formação de cicatrizes.

Hematomas subdurais

São observados por meio de alterações que consistem em ondas lentas focais ou lateralizadas. Outras vezes, há diminuição da freqüência e principalmente da amplitude (depressão) do ritmo alfa manifesto no mesmo lado da lesão, ou, ainda, desorganização desse ritmo, provocada por ondas lentas. Uma depressão acentuada ou moderada pode ser evidenciada, em certos casos, ao nível do hematoma.

Acidentes vasculares cerebrais

A existência de uma região de infarto pode acompanhar-se de alterações eletroencefalográficas representadas por ondas teta e delta, polimorfas, focais ou lateralizadas (assimetria inter-hemisférica). Pode-se observar apenas assimetria entre as áreas occipitais resultantes de diminuição da freqüência ou da amplitude das ondas alfa do mesmo lado da lesão.

Um eletroencefalograma único não permite, por si só, distinção entre neoplasia e outras lesões expansivas, de um lado, e lesões conseqüentes a acidente vascular cerebral, do outro. Exames seriados possibilitam, entretanto, o diagnóstico diferencial, pois as alterações devidas à presença de tumor geralmente intensificam-se progressivamente, o que não ocorre nos casos de lesões resultantes de acidentes vasculares encefálicos, que podem regredir e mesmo desaparecer.

Infecções e parasitoses encefálicas

Nas encefalites e meningoencefalites, as alterações, quando ocorrem, consistem na presença de ondas delta de voltagem elevada. Ondas teta, assim como alterações do tipo epileptógeno, podem ser também encontradas. Geralmente apresentam-se com distribuição irregular e difusa. Quando se observa predomínio muito acentuado de ondas delta em uma área, é provável a presença de um abscesso, que poderá ser confirmada com a tomografia computadorizada.

Panencefalite esclerosante subaguda

É com freqüência encontrado um tipo de anormalidade que, de acordo com a maioria dos autores, é característico deste tipo de enfermidade. Consiste na presença de surtos de ondas hipersíncronas, repetindo-se a intervalos mais ou menos regulares (peridiocidade), e de morfologia praticamente constante para o mesmo paciente, no decorrer do mesmo exame.

Intoxicações

As alterações que se encontram são geralmente generalizadas (difusas). Em alguns casos, como, por exemplo, na intoxicação barbitúrica, o eletroencefalograma permite fornecer dados úteis com relação à provável natureza do tóxico e também quanto à evolução e ao prognóstico. Assim, na fase inicial da intoxicação barbitúrica, o traçado apresenta ondas rápidas, de voltagem média, generalizadas, assumindo com freqüência o aspecto de fusos. Ulteriormente, nos casos graves, as ondas rápidas são substituídas por ondas lentas (delta) de amplitude elevada. Dependendo ainda da gravidade da intoxicação, poderão ser observados trechos de inatividade elétrica. A redução progressiva dos períodos de silêncio elétrico indica bom prognóstico.

Anoxia cerebral – parada cardíaca

Depois de uma parada cardíaca ou cardiorrespiratória, é possível obter-se distintos tipos de EEG que guardam relação com a duração da parada e a severidade do quadro clínico.

Nos casos em que os pacientes saem com aparente êxito da parada cardiorrespiratória, é importante estabelecer as possibilidades de sobrevida e, além disso, as possibilidades de recuperação das funções do Sistema Nervoso Central. Com tal finalidade, utilizamos o esquema de Pampiglione, que caracterizou cinco tipos de eletroencefalogramas. No tipo I o EEG é normal ou levemente desorganizado, o que indica uma boa conservação da função cerebral e um bom prognóstico. No tipo II, o traçado mostra abundância de ondas lentas. Pode haver sobrevida, mas o prognóstico é reservado no que diz respeito à recuperação neurológica. O tipo III caracteriza-se por apresentar estados de descargas permanentes ou complexos paroxismo-supressão, que mostram uma função cerebral seriamente perturbada e um prognóstico ruim, com duvidosa sobrevida. O tipo IV apresenta atividade tipo “alfa” de muito mau prognóstico e sobrevida rara (coma alfa). O tipo V é de um traçado isoelétrico que forma parte do quadrado de morte cerebral.

Para certeza absoluta de que há silêncio eletrocerebral, procedemos à seguinte conduta:

- utilização de pelo menos 12 eletrodos;

- provocação deliberada de artefato em cada eletrodo;

- utilização da CT normal e CT larga;

- utilização de prova de reatividade;

- utilização de amplas distâncias entre eletrodos;

- duração do registro não inferior a 30 minutos;

- repetir-se o estudo 24 horas após.

Conclusões

Como podemos deduzir, as alterações eletroencefalográficas não possuem especifidade com relação ao agente patogênico, pois a mesma resposta pode ser provocada por diferentes lesões. Elas podem revelar a existência de lesões do tipo irritativo ou degenerativo, mas não fornecem informação quanto à natureza do agente causal.

Freqüentemente, os dados fornecidos pelo EEG possibilitam orientar, afastar ou confirmar um diagnóstico em casos nos quais os elementos fornecidos por outros exames complementares e pela clínica não forem suficientemente elucidativos. Não é demais ressaltar que uma valorização justa e uma apresentação correta dos resultados oferecidos pelo EEG só podem ser feitas quando esses resultados são realizados em conjunto com os elementos que um exame clínico minucioso pode proporcionar.

Summary

The objetive of this study was to call attention to the important method of neurologics psychiatrics diseases diagnostics: the eletroencefalography.

Key words: the basic eletroencefalography

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COMENTARIOS RECEBIDOS:

ola doutor gostei muito do seu conteudo obtendo informações importantes para partes a serem esclarecidas.Gostaria eu de esclarecer uma duvida meu filho tem 5 anos ele teve um começo de crise foi efetuado alguns exames e no exame de eletroencefalograma e na conclusao foi de atividade epiletogenica frontal D o que seria isto

Enviado por sniane rosane marques (não autenticado*) em 05/11/2009 17:47

para o Livro de Visitas

Parabéns pelo texto, sendo uma excelente aula sobre o assunto!

Enviado por André (não autenticado*) em 23/10/2009 11:06

para o texto: O ELETROENCEFALOGRAMA (EEG) (T1616421)

PAULO ROBERTO SILVEIRA
Enviado por PAULO ROBERTO SILVEIRA em 26/05/2009
Reeditado em 19/06/2020
Código do texto: T1616421
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