APELOS DE MARKETING - embuste

APELOS DE MARKETING (embuste)

Um grupo de artistas vem se manifestando em defesa da Amazônia.com uma campanha sobre o desmatamento da floresta. Fizeram inclusive uma música, por sinal com bela harmonia, onde, em sua letra, fala que não se deve desmatar a mata para transformá-la em papel(?). Ora, é preciso que as pessoas - ao se engajarem em campanhas como essa - ainda que com a melhor das intenções, procurem se inteirar do assunto em pauta para não falar besteiras, como o que se diz nessa música. A informação errada é prejudicial, danosa, distorce a verdade e cria envolvimentos negativos que prejudicam a região amazônica e a própria campanha.

É necessário que se esclareça, de uma vez por todas, que não é possível a manufatura de papel, seja ele qual for, ou papelão ondulado a partir de floresta heterogênea, como no caso da Amazônia, ou seja, de mais de um tipo de madeira, misturadas. Vou expor de forma bem clara para que todos possam entender o assunto:

- Os papéis são fabricados a partir da celulose, através do cultivo e da utilização de madeiras de florestas homogêneas - de um só tipo de madeira - a exemplo das florestas de pinus (pinheiro), eucalipto, bambu, babaçu, cana (bagaço) Gmelina etc., de acordo com a fibra de celulose que se quer produzir, longa ou curta. Essas espécies, dependendo do tipo de cada madeira, são plantadas em regiões onde melhor se desenvolvem, com crescimento mais rápido, sendo utilizados hoje, processos de biogenética para enxertos de árvores de melhor formação, para reduzir o tempo de corte, como a Rigesa, em Três Barras – Santa Catarina, pioneira nesse estudo. Muitos outros grupos tem utilizado essa alternativa para ganhos de produtividade. Nesses casos, essas plantações são controladas, com manejos consolidados em avançada tecnologia. As árvores são plantadas para servirem a fins específicos, como fabricação de celulose e seus derivados – papéis para imprimir e escrever, embalagens de papelão ondulado, sacos de papel e etc,; para uso na construção civil, movelaria e a inúmeras outras atividades fabris. Os cortes, programados de acordo com a vida útil da espécie e o volume a ser produzido, conforme escala predeterminada em manejo controlado. É comum adequar o cultivo de cada espécie de acordo com o custo da própria terra. Por exemplo: no Maranhão, o grupo João Santos optou pelo cultivo do babaçu (uso do tronco), árvore natural da região e posteriormente do bambu, de baixa produtividade (ton/hectare) mas em consonância com o baixo custo da terra na região. O bambu possui uma fibra longa, clara, excelente para a fabricação de papel para embalagens, tem tempo de corte rápido e forma-se em touceiras, sendo necessário uma expressiva extensão de terras em seu cultivo. No sul, normalmente há a predileção por espécies de crescimento verticalizado, como o pinheiro e o eucalipto, onde a produtividade por hectare é muito mais expressiva e o custo da terra muito mais alto.

A única fábrica de celulose da Amazônia, que utiliza fibras virgens, no Jarí – interior do Pará – ainda que em meio à selva amazônica, funciona utilizando-se alternativas de plantio de árvores, de eucalipto e gmelina, fabricando celulose desses tipos de madeira, separadamente, obedecendo-se também ao manejo dessas espécies, sem o que, estariam fadados a pararem a produção por falta de matéria-prima, já que sequer se recomenda a mistura de fibras de duas espécies de árvores para a fabricação de celulose. Aqui em Manaus, apenas duas fábricas de papel – PCE e SOVEL – possuem processo verticalizado de fabricação de papel para embalagens de papelão ondulado e o fazem a base de reciclagem de papel, coletados no comércio e industrias locais.

Outro absurdo que se dá hoje, está na tão propagada utilização de papéis reciclados em substituição à utilização de papéis de fibras virgens, sob o argumento de se dar suporte a campanhas de apoio ao meio-ambiente, para não se derrubar mais árvores. Essas árvores são plantadas para serem cortadas, para se fazer celulose e papel e para nada mais. Esse é um apelo de logística de marketing, que promoveu o papel reciclado de tal forma, que o transformou em produto comercializado ao preço de papeis fibras virgens, conseguindo os fabricantes com isso um expressivo aumento de lucratividade em suas transações comerciais. A bem da verdade, se todos resolvessem somente consumir papel reciclado, os papéis deixariam de existir, pois sem o papel fibra virgem, não existiria o reciclado.

Portanto, não procede, de forma alguma, essa argumentação de que não se deve utilizar papéis branqueados tipo carta e ofício para proteger a floresta amazônica. É um embuste, que somente está servindo para engordar ainda mais o bolso dos empresários das fábricas de papel, aproveitando da inocência dos consumidores sob a égide da preservação do meio-ambiente.

Urias Sérgio de Freitas

Urias Sérgio
Enviado por Urias Sérgio em 26/05/2009
Código do texto: T1616276