Menina Maísa:  o que ela quer? 
 
O que é que uma criança de seis ou sete anos de idade quer? Proteção, amor dos pais e brincar, certo? E se essa criança for um prodígio? Deve ser tratada diferente? Depende do ambiente onde ela vive e dos adultos que a acompanham.
 
O que é uma criança prodígio?
Entende-se que a criança prodígio é aquela especialmente muito talentosa para a sua idade em alguma área. Ela costuma revelar talento a um nível similar ao de um adulto e surpreende pela capacidade brilhante de resolução de problemas. Os prodígios são crianças excepcionalmente precoces em algum tipo de habilidade.
 
Nascemos com um potencial interno que se desenvolverá de acordo com a qualidade, a quantidade e o momento em que esse cérebro começa a trabalhar. Algumas pessoas acreditam que com condições favoráveis e estimulação adequada, qualquer criança pode atingir algum nível de sobredotação, talento ou prodígio. Partem do princípio que um ser humano normal dispõe, ao nascer, de estruturas (biológicas e psicológicas) que o tornam susceptível de ser elevado ao nível de sobredotação através da influência do meio, o que não é verdade. Todas as crianças nascem com mais ou menos potencialidades, mas algumas, por razões genéticas, estão mais bem preparadas para superarem a maioria das outras, mesmo quando a estas se proporcionem as mesmas condições e os mesmos estímulos.
 
É importante estimular a mente infantil desde cedo. Porém, é preciso tomar cuidado com os excessos, que ao invés de beneficiar o desenvolvimento intelectual, vai bloquear suas funções, pois nem sempre a predisposição biológica e psicológica da criança está voltada pra a área que está sendo estimulada. Os pais que se preocupam demasiadamente em estimular seus filhos acabam transmitindo uma enorme ansiedade e gerando, às vezes, frustrações desnecessárias nas crianças.
 
Maísa, menina que trabalha na SBT,  parece sim, uma criança prodígio, pois encanta a todos com sua inteligência e capacidade de verbalização e interação com o público, com apenas seis anos. Seu cérebro parece um centro complexo de sinapses velozes e relampejantes. É difícil não gostar de assistí-la. Não obstante, essa pequena notável revela algo da ordem, não da inteligência e intelecto, mas da ordem das emoções, que a fragiliza e pede socorro.
 
Há uma ação do MP para retirá-la do programa de TV do Silvio Santos, por ela ter, por duas vezes, chorado copiosamente em público. Numa das vezes, ela explica em off ao Silvio Santos que tem medo de máscaras e ele, assim mesmo, chama um mascarado no palco. Maísa grita e chora desesperadamente sendo retirada do programa.
De outra vez, SS a repreende em público e ela, dizendo sentir-se magoada, chora novamente, desta vez se acidentando e batendo com a cabeça numa das câmeras.
Nos duas vezes, tanto o SS quanto o público, riem e aplaudem o sádico espetáculo. Maísa procura o apoio da mãe que lhe dá um copo de água dizendo que vai passar e manda-a de volta ao palco.
 
Perplexa com aqueles vídeos, me perguntei: “O que está acontecendo com o SS, os pais da Maísa e com o público? Não percebem que ela é apenas uma menininha de seis anos de idade? Que ela não entende certos tipos de brincadeira e ironia dos adultos?”. A bem da verdade, a pequena estava sendo atirada aos leões da arena televisiva e o público, inconsciente, aplaudia e gritava por mais. 
 
Fiquei a pensar o porquê daquela reação impensada do SS e daquelas pessoas na platéia. 

É certo que crianças prodígio, muitas vezes, confundem o adulto, pois sua inteligência e capacidade de interação é espantosa e se assemelha a um adulto. Porém, a diferença é que sua mentalidade e suas emoções são de uma criança. Maísa tem medo de máscaras. Podia não ter, mas tem. É bem compreensível nas crianças de sua idade. Ainda está afetivamente envolvida com fábulas e histórias infantis.
 
Os contos de fadas, como sabemos, são muito úteis na infância para se elaborar sentimentos de amor e ódio. Porém, infelizmente, muitos adultos usam os personagens de contos de fadas de forma distorcida, apenas para assustar as crianças. E, ao invés de lhes propiciarem o entendimento de seus próprios sentimentos, as confundem fazendo-as sentiram pavor e se bloquearem afetivamente.
 
Maísa está caminhando para uma fase que nós psicanalistas chamamos de latência – fase onde a criança recalca seus desejos edipianos e se prepara para a inserção social e a educacional. Essa transição tem que ser vivida com muita serenidade pela criança e pelos pais para que ela não desenvolva nenhuma fobia, paranóia ou outros traumas.
 
A menina Maísa, por ser precoce e celebridade muito cedo, deve estar também com muito medo do peso da fama. Seu descontrole emocional frente a uma máscara é bastante indicativo de que algo a aflige, algo que talvez nem ela mesmo saiba o que é. Mas certamente esse algo tem a ver com a fase que ela está passando. Os pais e adultos nessa hora têm a função de acalmá-la e protegê-la.
 
Nã obstante, o público e o próprio SS a tratou como “a chorona”, “ a medrosa” e outros termos agressivos, como se ela fosse um adulto fazendo cena. A mãe, que estava nos bastidores, também não a entendeu e a tratou como se fosse uma adulta ou uma criança manhosa, mandando-a de volta ao palco.
 
O inquérito do Ministério Público Federal está apurando quais as medidas legais cabíveis que podem ser adotadas em relação ao desrespeito de princípios constitucionais e legais sobre a produção de programas de rádio e televisão quanto à exploração indevida de imagem e violação de direitos da criança. Sim, isto deveria ser feito para todas as crianças que, disfarçadamente, são exploradas como força de trabalho e as condições de suas saúdes física e psicológica.
 
E os adultos deveriam saber que não se deve fazer medo a uma criança, muito menos em publico e em grupo. E, deveriam saber também que não se deve rir e debochar dos sentimentos de uma criança.
 
Enfim, o que uma criança prodígio de seis anos quer?
Exatamente o que qualquer outra criança de sua idade deseja: amor e proteção dos pais e espaço para brincar e se desenvolver. O melhor lugar para Maísa é em sua casa, com os pais, e na escola onde pode brincar com crianças de sua idade e ter um desenvolvimento emocional saudável, de acordo com suas necessidades.
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