É a frase mais verídica do mundo: “se a sorte bater a sua porta saiba identificá-la de primeira, ela poderá sair e jamais voltar.” Quando o vendedor de fábrica e a datilógrafa, ambos escoceses, tiveram a pequena Susan em 1961 em Blackburn na Grã Bretanha, eles só sabiam que a vida seria ainda mais dura. Alimentação, educação, roupas e outros cuidados que temos que adotar para nossos filhos, lhes consumiria ainda mais tempo e dinheiro, mesmo na Europa dos anos 60.
 
Já ao nascer ela sofreu uma parada cardíaca, teve insuficiência de oxigenação e por seqüela, obteve uma anomalia cerebral com danos irreversíveis, os quais os médicos afirmaram que ela seria uma criança de difícil aprendizagem. A menina Susan até que se esforçou para estudar, mas sua vida didática sempre lhe rendeu predicados nada invejáveis. Deixou a escola e foi trabalhar na cozinha de um colégio para sobreviver e ocupar-se de modo ocupacional.
 
Desde menina Susan Boyle costumava freqüentar os teatros para ouvir os cantores profissionais; de tanto ouvi-los tentou cantar, chegou a gravar uma participação em 1999 para um CD de caridade, mas sua aparência não convencional para os padrões britânicos acabou lhe rendendo outra coisa, a humilhação. Ela foi descriminada por não ser bonita e quem a avaliou na época, de tanto citar sobre seu aspecto físico, fez com que a moça abandonasse as aulas de canto e se trancasse em casa de vergonha.
 
Nos anos 90 seus irmãos foram embora após a morte do pai e Susan teve que ficar sozinha com a mãe anciã cuidando de seus últimos dias de vida. A mãe de Susan morreu em 1999 aos 91 anos e ela jamais teve outra oportunidade de cantar em público até este ano, o ano que mudaria de vez toda a sua vida!
 
Morando apenas com um gato na mesma casa onde nasceu e viu seus pais morrerem, Susan Boyle contou com o incentivo da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes onde é voluntária em serviços comunitários para se inscrever no show Britain’s Got Talent da televisão inglesa ITV, famoso por revelar as melhores pérolas da música daquele país. Reticente e malcriada, Susan acabou se inscrevendo a contra gosto e logo em sua primeira apresentação, concorrendo com milhares de outras pessoas, a apresentação que lhe faria seguir ou sair de vez do concurso, ela brilhou e encantou a todos quando interpretou Dreamed a Dream do espetáculo Os Miseráveis, uma música difícil de ser cantada por comuns.
 
Começava ali, naquele palco a mudar o brilho da desempregada com problemas mentais; quando ela entrou no palco para ser entrevistada, deu respostas curtas e até grosseiras e quando ela disse qual música cantaria; muita gente ao ver aquela mulher feia e com cara de velha afirmar cantar aquela música; sorriram e debocharam dela claramente, fazendo-a crer que seria seus últimos minutos naquele palco e naquele show.
 
Para surpresa de todos, inclusive dos jurados, dentre eles o Presidente da Sony Music, Simon Cowell, quando Susan Boyle abriu a boca e cantou as primeiras notas, platéia e jurados tiveram um susto e já começaram a aplaudi-la, alguns mais atônitos e visivelmente emocionados, ficaram de pé e não pararam mais de aplaudi-la.
 
Aquele momento foi assistido por 10 milhões de pessoas e o vídeo de Susan foi parar no You Tube, batendo todos os recordes de audiência. Ela teria que passar por outros testes, mas os jurados adiantaram suas notas e já classificaram a escocesa feia e desengonçada para as semifinais do concurso; foi ingresso direto e creio que eles não se arrependeram.
 
Já durante as semifinais, junto com outras feras do canto, Susan Boyle mais uma vez fez com que muita gente se emocionasse quando ela cantou com toda pompa e brilho a música Memory, outra pedreira de ser cantada. Ela já estava famosa, mas não imaginava que após a interpretação de Memory ela estaria classificada para a grande final que ocorrerá em breve.
 
Hoje na Europa todas as rádios, jornais, televisões e redes de notícias na internet falam do grande fenômeno Susan Boyle, a menina feia e sem jeitos nobres que conquistou o mundo com sua voz de veludo. Já se fala em um filme onde Demy Moore interpretaria a vida de Susan, sem data para filmar ou estrear, mas quem afirmou isso foi a própria Sony Music.
 
A popularidade instantânea de Susan gerou uma série de comentários de por que a história se tornou tão abordada e o que isto significa, enquanto outros se prestaram a lecionar sobre os valores morais aí incluídos. Por exemplo, o jornalista Collette Douglas Home do The Herald descreveu o trajeto de Susan como uma parábola moderna da tendência das pessoas emitirem julgamentos errôneos, especialmente sobre atributos físicos. Como também, Lisa Schwarzbaum, em artigo do Entertainment Weekly, que observou a performance de Susan como representativa de uma vitória para a arte e o talento, postos em segundo plano dentro de uma cultura que se tornou obcecada pela aparência. Susan comentou sobre a reação das pessoas quando começou a cantar:
“A sociedade moderna é rápida ao julgar as pessoas. Não há muito que fazer sobre isto, é a maneira como pensam; o seu modo de ser. Mas talvez agora eles aprendam, ou reconheçam o exemplo.” — Susan Boyle, The Washington Post.
“No seu sucesso, nós percebemos uma fênix surgindo das cinzas da rejeição, tristeza e decepção. Nós vemos a bonança após a tempestade. Nós vemos a vitória da bondade sobre o mal, a renovação, a dedicação e perseverança como redentores.” — Nick Barron, Societrends.
 
Depois da apresentação, Amanda Holden, uma dos apresentadores relatou:
“Eu estou tão chocada porque todos estavam contra você. Eu vejo que nós fomos arrogantes, e você nos deu a maior lição que precisávamos. Só gostaria de dizer que foi um privilégio escutar você aqui.”
 
Cameron Mackintosh, o produtor do musical Os Miseráveis, louvou a interpretação:
“Tanto quando os jurados e o auditório, eu fui maravilhado pelo choque emocional da apresentação de Susan em uma sublime "I Dreamed a Dream". Do ponto de vista artístico, essa foi uma das melhores versões que já escutei da música, grandiosa, enriquecedora. Espero que ela cante isso para a Rainha.”
 
De outro modo, embora a reação do auditório tenha sido surpreendente, o fato pode ter sido produzido. Mark Blankenship, do The Huffington Post, afirma que os produtores do programa conheciam o potencial particular da história de Susan, induzindo o programa a articular as filmagens de uma maneira a realçar a primeira impressão negativa sobre ela. E aponta, entretanto, que "fabricado como foi, a história é incontestavelmente inspiradora." O fato de Susan estar na faixa dos quarenta anos contribuiu para a dramatização. Em outro artigo do Huffington Post, Letty Cottin Pogrebin descreve que as pessoas "buscam recuperar os anos de talento desperdiçado", assumindo que a maior parte da vida de Susan se passou às escondidas e esse tempo não podem ser resgatadas. A jornalista prossegue destacando a apresentação como o triunfo para uma "mulher de certa idade", percebendo o ocorrido como ilustrativo do sucesso perante uma cultura de jovens que isolam mulheres de meia-idade.
 
Tanya Gold publicou no The Guardian que a diferença entre a recepção hostil a Susan e outras impressões mais equilibrados na primeira apresentação, como sobre Paul Potts, refletem a expectativa da sociedade de que uma mulher deve ser bela e talentosa, não sendo o mesmo requisito para os homens. Já Mary Elizabeth Williams declarou no Salon.com que Susan fez lembrar as pessoas de que "nem todas as mulheres de quarenta anos são magras, produtos de plásticas", passando a afirmar que a fama repentina de Susan vem da habilidade de ressaltar isso a todos, que como nós ela é normal, tem seus defeitos e é frágil, suscetível à tristeza e preconceitos, mas que apesar de tudo insiste na busca pelos seus sonhos.
 
Vários meios de comunicação reconheceram o destacamento que a história sofreu, em especial nos EUA. O comentarista do The Scotsman, Craig Brown, citou um apresentador estadunidense que comparou a história de Susan ao "sonho americano", representado pela competência vencendo a adversidade. O Associated Press descreveu o episódio como "luta contínua" de acordo com aquele simples modo de vida, rejeitado por quem convive com as facilidades das metrópoles. Assim, David Usborne, através do The Independent, escreveu que os EUA são um país que corresponde ao "conto de fadas em que o desagradável se torna belo", desde Shrek até My Fair Lady." O jurado do Britain's Got Talent Piers Morgan, comentou o desfecho que a história vem tendo especialmente nos EUA, afirmando que lá "o povo consegue realmente se emocionar com este tipo de coisa", e comparando a ascensão de Susan da pobreza à fama com o filme do histórico boxeador Rocky Balboa.
 
Susan Boyle é para mim a verdadeira face de todos aqueles que sonham e tem medo de contar seus sonhos, o medo de parecer ridículo ou aberrante; o medo de amar e de ser mal interpretado; o medo de errar sem ao menos tentar acertar. Precisamos descobrir mais gente igual à Susan Boyle.
 
 
Carlos Henrique Mascarenhas Pires
www.irregular.com.br

CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 25/05/2009
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