BITOROCARA, FREGUESIA DE SANTO ANTONIO DO SURUBIM...O QUE HÁ EM COMUM?
BITOROCARA, ARRAIAL VELHO, FREGUESIA DE SANTO ANTONIO DO SURUBIM, FREGUESIA DO LONGÁ, ALONGASES E CAMPO MAIOR... O QUE HÁ EM COMUM?
Omar Brasil*
Grande parte da história que se refere principalmente às origens da antiga Freguesia de Santo Antonio do Surubim, atual Campo Maior, Piauí, ainda não foi devidamente esclarecida, visto que, a única e fidedigna fonte escrita sobre os fatos perdeu-se num incêndio proposital em fevereiro de 1823, período conturbado e de rebelião que antecedeu à “BATALHA DO JENIPAPO” – embate sangrento em prol da Independência do Brasil, acontecido a 13 de março de 1823, em Campo Maior, Piauí, entre as tropas portuguesas sob o comando do Governador das Armas do Piauí, oficial português João José da Cunha Fidié, a mando do Rei de Portugal D.João VI, (que queria a qualquer custo manter a região norte do Brasil, incluindo Pará, Maranhão e Piauí como colônia portuguesa), e um punhado de brasileiros despreparados militarmente (cearenses, alguns maranhenses e piauienses, na sua maioria campomaiorenses).
A Freguesia de Santo Antonio do Surubim, povoada e dominada por abastados fazendeiros de origem portuguesa, localizada estrategicamente na região norte da Província, de fácil acesso e intercâmbio entre as demais regiões, logo se transformou em palco das manifestações das idéias revolucionárias, assumindo o centro das decisões do movimento brasileiro contra o regime português.
O incêndio foi provocado por brasileiros patriotas, quando estes, revoltados com os procedimentos do vigário da Freguesia João Manoel de Almendra, filho de Portugal, de resistir em colaborar com as causas da independência, invadiram a residência (casa paroquial) do padre, quando este já se encontrava preso sob as ordens do Alferes Leonardo de Carvalho Castelo Branco (considerado pelos estudiosos como um dos precursores do movimento que veio a se consumir com o encontro frontal entre as duas tropas), quebraram tudo que encontraram e incendiaram os arquivos da paróquia, entre eles, o Livro do Tombo, único registro oficial da história da Freguesia de Santo Antonio do Surubim.
Por esse feito impulsivo e instintivo de uma turba enfurecida, a história da Freguesia ficou comprometida, visto que tal procedimento acarretou prejuízos irreparáveis e irreversíveis à memória do seu povo.
Frente à questão e muitos outros fatos que obscureciam a verdadeira história da atual Campo Maior e no propósito de resgatar esses “buracos”, surge o filho da terra, Padre Cláudio Melo, pesquisador e escritor, (infelizmente falecido muito antes de concluir as suas pesquisas), viajando a Portugal, tendo mergulhado nos arquivos públicos na busca incansável de desvendar e esclarecer os “brancos” da história da Freguesia, bem como deixar a limpo algumas controvérsias ocasionadas pelas interpretações de historiadores de renome referentes às reais origens da atual Campo Maior, concluiu, portanto, que Bitorocara não seria Piracuruca, mas o “curral” encravado nas confluências dos rios, Surubim, Jenipapo e Longá, dando origem a Freguesia de Santo Antonio do Surubim, e que a Capela sob as bênçãos do Santo Português foi erguida distante da fazenda, onde realmente aconteceu a povoação, ou seja, no lugar da atual Catedral.
Padre Cláudio Melo foi mais além quando fez renascer a figura da eminente personagem portuguesa Bernardo de Carvalho e Aguiar, até então desconhecida, porém foi quem instalou os primeiros “currais” na região norte da Capitania de São José do Piauí e responsável pela unificação de todo o norte e grande parte do Maranhão, tendo sido o precursor da instalação de São Miguel do Tapuio, Barras, São Bernardo do Maranhão e o idealizador de Caxias, também no Maranhão.
Bernardo de Carvalho e Aguiar, o último Mestre de Campo das conquistas do Piauí e do Maranhão, precisamente em 1692, vindo da Capitania de Pernambuco, através da Serra da Ibiapaba (ao contrário do restante da colonização do Piauí, cujos colonizadores, de origem da Capitania da Bahia, adentraram pelo sul), vindo instalar currais de gado do lado de cá do maciço rochoso, penetrando no norte do Piauí. Após ter situado o primeiro curral no lugar chamado Cabeça do Tapuio, hoje São Miguel do Tapuio, Bernardo de Carvalho e Aguiar ao tomar conhecimento de uma região mais abundante em águas e pastos, ou seja, melhor adaptada para a criação de gado, veio fincar outro “curral” (1696) numa planície rodeada por campos e carnaubais, batizando-a de Bitorocara, também conhecido como: Arraial Velho, Freguesia de Santo Antonio do Surubim, Freguesia do Longá, Alongases e atual Campo Maior, onde estabeleceu o quartel militar das conquistas do Piauí e do Maranhão por mais de trinta anos.
Padre Cláudio Melo ainda vai de encontro às afirmações de renomados historiadores ao concluir que a colonização do Piauí não se deu exclusivamente do extremo sul do Estado rumo ao norte (litoral).
Com referência à origem do nome Campo Maior, ainda hoje é motivo de controvérsias entre estudiosos. Para alguns Campo Maior está relacionada com os bonitos e extensos campos e campinas pontilhados por carnaubais e capões de mato. Entrementes se acredita que Campo Maior está intimamente ligada à “Campo Maior Portuguesa”. Praça de Guerra, sede do Condado Portalegre, com termo floral concedido por D. Manoel I, em 1512. Pelas semelhanças com a região e também propícias à criação de gado bovino e ainda Santo Antonio do Surubim ser habitada na sua maioria por fidalgos portugueses e também pela influência do Governador português, João Pereira Caldas que teria sensibilizado o Rei, D. José I na indicação do nome Campo Maior à povoação.
O município de Campo Maior foi pioneiro nos feitos relevantes que enobreceram e trouxeram soberania à Capitania de São José. Sem qualquer ufanismo, costumo afirmar que esta terra é uma dádiva para o Piauí e o Brasil, pois em diferentes períodos em que foram registradas relevantes decisões históricas, esse torrão serviu de palco, senão vejamos: Por um lado em abrigar e sediar por muitos anos o pacificador e desbravador Bernardo de Carvalho e Aguiar, responsável pela unificação do Piauí e do Maranhão, conquistando esse imenso território que hoje é o Estado do Piauí e, por outro lado, em solo campomaiorense foi travada a única e sangrenta batalha pela emancipação política e a unificação em definitivo do território brasileiro.
*José Omar Araújo Brasil é professor, escritor, poeta pesquisador da história de Campo Maior- PI e membro da Academia Campomaiorense de Artes e Letras- ACALE.