Progressão Continuada: até quando?
Acabo de ler um artigo “Quem tem medo da progressão continuada? Ou melhor, a quem interessa o sistema de reprovação e exclusão social” de Rose Neubauer, ex-secretária da educação de São Paulo, defendendo a tese que a progressão continuada é boa para o aluno. Em muitos trechos ela afirma que antigamente a educação era para poucos e para os mais elitizados, e que a reprovação era uma vergonha para o aluno.
Desde 1984, o governo vem implantando políticas públicas para tentar salvar os índices da reprovação, garanto que melhoramos muito estes índices, porém formamos jovens e adultos totalmente analfabetos, pois antes tínhamos pessoas que falavam sem vergonha que não tiveram o acesso à escola e perderam a oportunidade, agora temos jovens que vão a escola e não sabem nem ao menos o nome do professor ou a série que frequenta.
Em um momento, Neubaeur responsabiliza a comunidade escolar pelo fracasso do aluno, questionando que o aluno passa por uma série com pelo menos quatro professores, um coordenador e um diretor e assistentes e que, estes não se incomodam com o aprendizado do aluno.
Ela fala ainda, "na reprovação, a marca do fracasso é do aluno, na progressão continuada em ciclos, a marca do fracasso é da escola". Então, continuaremos a aprovar estes alunos para que a escola não seja apontada como um fracasso.
Depois de uma década de progressão, as perguntas que ficam no ar são: Como continuaremos a promover o aprendizado, como fazer um planejamento digno de trabalho, como oferecer recuperação paralela, criar uma aula interessante e motivadora com quase cinquenta alunos na sala, na sua maioria crianças e adolescentes que já são alvos da marginalidade, droga, violência e criminalidade. Como ensinar crianças e jovens que nem abrem o caderno ofertado pela escola e que ficam às seis horas de aula encostados na janela com um fone no ouvido? Como motivar-se para o trabalho sem um material didático apropriado, sem pagamento e ainda tendo de compartilhar uma sala de professores com companheiros totalmente despreparados pedagogicamente, que só pensam em cumprir seu horário, de preferência sem alunos na escola, em bônus ou em uma pontuação que garantirá sua continuidade na rede.
Acredito que a reflexão sobre a nova escola do século XXI deve-se partir da questão "os excluídos querem realmente estudar ou simplesmente frequentar a escola?", pois dependendo da resposta, poderemos definir o panorama da escola de hoje e que escola pretendemos oferecer as crianças e jovens e nos prepararemos para enfrentarmos as mudanças que ocorrerão.
Enfim, se estamos cem anos atrasados na inclusão do saber, lamentavelmente levaremos mais cem anos para adaptarmos a esta tão fantástica democratização do ensino.