A RELIGIÃO E A APROPRIAÇÃO INDÉBITA DO DINHEIRO PÚBLICO

"SALVEM A MATRIZ DE SÃO FRANCISCO XAVIER". Ao ler uma matéria com este título no Jornal Atual (periódico semanal que circula todas as sextas-feiras nas bancas de minha cidade, Itaguai/RJ) da semana passada, fiquei bastante assustado e ao mesmo tempo indignado, pois num país onde o estado é laico, como é o caso do Brasil, é inadimissivel que o dinheiro público ainda sirva para patrocinar reformas de templos religiosos, sejam lá quais forem eles, evangélicos, católicos, espíritas, etc... Penso que a manutenção dos templos religiosos é de total responsabilidade dos membros das instituições as quais eles fazem parte, pois mesmo que elas sejam filantrópicas, seus membros contribuem mensalmente para sua manutenção. No nosso caso, cristãos reformados, em nossas igrejas, é utilizada a doutrina bíblica do dizimo de onde saem os recursos que precisamos, e que diga-se de passagem, é muito criticada pelos demais. Essa doutrina está baseada no livro de Malaquias 3:10 e diz que devemos “Trazer todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na casa de Deus, e que depois devemos fazer prova de Deus nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se ele não nos abrirá as janelas do céu, e não derramará sobre nós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolhermos”. Pelo que sei, os cristãos católicos também utilizam a doutrina do dizimo, e é exatamente por isso que me indignei. Ao pesquisar sobre o assunto, descobri que a posição da Igreja Católica a esse respeito está baseada no 5º Mandamento da Lei da Igreja, que diz que os católicos devem ajudar a Igreja em suas necessidades, e que o padre deve recordar aos fieis para irem de encontro das necessidades materiais da Igreja, cada um conforme as próprias possibilidades, dizimando regularmente. (Catecismo da Igreja Católica, nº 2043). Se é assim, por que então o dinheiro público ainda patrocina essas reformas? Por que será que em pleno século XXI, ainda há essa diferença num país que se diz laico? O fato é que na igreja católica, existe sim a campanha do dizimo nas paróquias, mas quando se fala de dizimo, os primeiros a serem criticados são os cristãos reformados. Só que nós não pedimos ajuda ao governo, enquanto que os Católicos, mesmo cobrando o dizimo de seus fieis e sobretaxando cerimônias que eram pra ser gratuitas, como casamentos, batizados e até mesmo missas póstumas, vivem se encostando nas verbas publicas, o que se torna uma atitude por demais incoerente. Segundo o bispo da Diocese de Itaguaí, Dom José Ubiratan Bispo, a liberação da verba para a restauração da igreja vem sendo aguardada por todos. “Temos que preservar a igreja, os altares têm que ser preservados, os cupins já avançaram. Hoje eles estão escorados e é muito arriscado, por isso fechamos...” Um outro detalhe que quase ninguém sabe é que a prefeitura também libera verba para a igreja católica. O mesmo jornal informa que há cerca de dois anos, a Prefeitura de Itaguaí ‘salvou’ o teto da referida igreja, com forro de madeira. Mas qual será o critério utilizado para que a prefeitura entre em parceria na reforma de templos. Será que alguma igreja evangélica, das milhares que existem na cidade, também já recebeu alguma ajuda da prefeitura para sua reforma? Acho que não! E não concordo com isso! Vejo essas atitudes como protecionismo e desigualdade! Penso que o estado não tem que patrocinar estas reformas, pois quando o faz, em detrimento de muitos ele privilegia a poucos. Graças a Deus que pastoreio uma igreja que se mantém com seus próprios recursos. Não quero aqui alfinetar meus amigos católicos, mas apenas chamá-los a uma profunda e sincera reflexão imparcial deste assunto, e creio que, feito isto, até eles mesmos me darão razão.

No amor de Cristo, e em defesa de um estado imparcial,

Pr. Antônio Ramos