Humanizar o que é do humano?

Um tema que sempre me inquietou foi a humanização da assistência na enfermagem. Independente de qualquer conceito que dê a esta “nova” tendência da prática em saúde, sempre achei incoerente falar em humanizar o que já é para o ser humano. Isto se traduz para mim de uma forma a entender que as antigas práticas não eram para humanos, talvez para animais.

Ora se profissionais da saúde estudam o cuidar do ser humano, não tem nada que humanizar, pois já é para o homem. Acredito que o que se busque é o resgate da ética, da lógica e do racional, mascarando com uma tentativa de “emocionalizar” estas práticas.

Nada contra essa emocionalização, mas sim contra o não reconhecimento do resgate do que se perdeu lá trás, com a mecanização da assistência, tanto no sentido tecnológico, como adestramento profissional, este entendido como sendo a prática repetitiva de reprodução de algum manual, e não atendendo a especificidade do cliente/paciente.

Quando falo em ética, lógica e racionalização não estou citando atividades de robôs, tão pouco na produção em massa como uma fábrica de bonecos, mas do desenvolvimento das atividades considerando o local de trabalho, a especificidade de quem se vai atender, o meio no qual ele se insere e o conhecimento técnico-científico do profissional. A soma desses quatro pilares forma a base da tão chamada humanização, que nada mais é do que cumprir aquilo que lhe é de competência, cumprir o que lhe é de responsabilidade nada mais é do que agir com ética.

Já a lógica e o racional ficam por conta do conhecimento técnico-científico a ser aplicado de forma a interpretar não só as necessidades do usuário que precisa de cuidados em saúde, mas, também, saber interpretar as informações por ele fornecida e da situação em si para a promoção da saúde. É ai que se insere o maior problema.

Geralmente essa sistematização de tentar humanizar o que já é destinado ao humano tenta singularizar as ações em saúde, de forma a fazer com que as práticas saem do universal para o singular, isto se contrapondo as novas políticas de saúde vigente que buscam a universalização, que por sua vez é entendida apenas como o direito de todos aos serviços de saúde.

A universalização deve ser entendida no sentido amplo, ou seja, entender que o indivíduo está inserido em um meio, e não só o que ele apresenta pode traduzir o meio, como pode acontecer do meio traduzir a especificidade do ser. Sendo assim, o conceito de universalização relacionada apenas a direitos se amplia para uma conceituação da inter-relação entre indivíduo e meio, levando assim a ampliação do conceito de integralidade.

Integralidade deixa de ser a relação entre serviços de atenção à saúde e ver o ser como um todo, passando a enfatizar a inter-relação social frente a manifestação da doença.

Vale agora uma reflexão sobre a humanização da assistência: Nas condições que o tema hoje é trabalhado, não seria uma forma mascarada de resgatar a negligência, a falta de ética e não utilização dos conhecimentos por parte de profissionais, que por sua vez poderiam estar em busca muito mais de algo pessoal do que social, talvez seja resultante de um egocentrismo

Lilian Gonçalves
Enviado por Lilian Gonçalves em 23/05/2009
Código do texto: T1610518
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