UM GOLPE ANUNCIADO, ABORTADO E SEU LEGADO

UM GOLPE ANUNCIADO, ABORTADO E SEU LEGADO

FlavioMPinto

Outro dia, na Serra gaúcha, a polícia prendeu uma quadrilha que se preparava para assaltar um banco. Com a boca na botija todos negaram, peremptoriamente, mas ante a evidência da quantidade de armamento, disposição da logística levantada nas imediações e “ficha” dos participantes, a polícia não teve dúvidas do que aconteceria. A esta altura, os meliantes já estão com meia dúzia de advogados os defendendo alegando arbitrariedade e cerceamento da liberdade de ir-e-vir por parte policial.

Pois bem, em 1964 foi a mesma coisa.

A geração de hoje, e muitos de ontem, não sabem a verdade, que foi ano a ano escamoteada. E anseiam em omití-la de todos os livros escolares, daí o seu desespero em mudar tudo no ensino e rapidamente.

Hão, e sempre, de dizer que a verdade contada pelos outros não é a verdade verdadeira, pois não é compartilhada pelas vítimas(?), como se possuíssem o monopólio da verdade. Vítimas , que algozes seriam, sem dúvida, quando foram apanhados. Hoje são algozes , demonstrando seu caráter belicoso e revanchista denunciando o que fariam, daqueles que os apanharam literalmente com a boca na botija.

Este é um assunto interessante que já deveria estar sendo esquecido, apenas constante dos livros de História. No entanto, ante a desfaçatez dos derrotados em 64 que ainda insistem em destilar seu ódio em detrimento da anistia e esquecimento propostos e aceitas em 1979, não se pode, de sã consciência, deixar de comentar algo, fazendo ouvidos moucos e sendo conivente com a farsa apresentada dia-a-dia após o exaurir do movimento de 1964. Hoje , no poder, “os patifes esclarecidos, se lambuzam no mel da corrupção, da prevaricação e do corporativismo sórdido”.

Quando se apresentam fatos e documentos alusivos ao antes e depois de 64 que incriminam a esquerda, simplesmente são desconsiderados, pois não interessa divulgá-los e assim é feito procurando-se apagá-los da memória nacional.

“ O criminoso sempre procura esconder seus rastros” é um ditado policial e bem se aplica aos esquerdistas golpistas de 64.

Mas vamos aos fatos.

O Brasil era a bola da vez para o Movimento Comunista Internacional capitaneado pela ex-União Soviética. Imaginava-se uma tomada do poder a semelhança do banho de sangue cubano em 1959, só que em maiores proporções, dadas as dimensões do país. A Venezuela já fora tentada por ser peça chave na produção de petróleo.

Um documento do cantado em verso e prosa Betinho, então assessor do Ministério da Educação, atuante na Aliança Popular-AP, entidade de cunho maoísta, previa uma luta armada interna em três vertentes: reivindicatória, através de greves e movimentos populares; política , através do fomento da guerrilha no campo; e ideológica, com a formação do exército popular.

Na área rural, a situação era protagonizada pelo MASTER, de Brizola, que aterrorizada fazendas no Sul e pelas Ligas Camponesas, de Julião, no Nordeste, com apoio explícito do governador de Pernambuco, Miguel Arraes e da Pastoral da Terra da Igreja Católica.

A estudantil era um barril de pólvora com a UNE de José Serra e a CGT pregando, com greves e os mais veementes protestos, o fechamento do Congresso com apoio da AP, POLOP, PC do B e PCB.

No campo militar, fomentava-se abertamente a indisciplina e quebra da hierarquia e disciplina com sargentos á frente da tropa, que exigiam as reformas de base.

A revolta dos marinheiros. Reunidos no Sindicato dos Metalúrgicos da Guanabara em 25 de março de 1964, em contraposição a uma ordem de Ministro da Marinha para prender o almirante Silvio Mota. Liderados pelo cabo Anselmo, reafirmavam o desejo pelas reformas de base. Foi mandada uma guarnição de fuzileiros navais prendê-los, mas adere ao movimento. Mais tarde todos foram presos pela Polícia do Exército e conduzidos a um quartel em São Cristóvão.

O Comício do Automóvel Clube. O Presidente da República fora convidado por Subtenentes e Sargentos da Policia Militar do Guanabara para participar, em 30 de março, de uma solenidade de aniversário da associação. Embora desaconselhado, Goulart comparece e no seu discurso solidariza-se com os marinheiros e policiais pelas reivindicações, rompendo o fio da legalidade esperado pela oficialidade.

A área política efervescia. Todos partidos esquerdistas uniam-se a sindicatos, ligas camponesas, associações de trabalhadores rurais e urbanos e a quem pudessem com fins espúrios de um golpe de natureza violenta. A esquerda dizia que só faltava ocupar o poder, pois já estava lá. A direita, liderada por Magalhães Pinto, Lacerda e Ademar de Barros, preparava seu “exército” na surdina para fazer frente ao caos que se avizinhava.

No plano governamental, totalmente aparelhado pela esquerda, era notório o apoio a todos setores que desejavam mudanças radicais tanto na área urbana como rural e a senha para tal materializou-se no Comício pelas Reformas, no Rio em 13 de março de 1964. Os radicais ansiavam pelas reformas de base de cunho socializantes e nacionalistas e que fatalmente conduziriam ao país a uma guerra civil.

Enquanto todos pregavam a revolução e as reformas de base, Luis Carlos Prestes, assalariado do Komintern, prestava contas aos soviéticos em Moscou e trazia o aval para o desencadeamento de uma revolução nos moldes cubano no Brasil, pois julgava-se estar maduro para tal.

A marcha da família com Deus e a liberdade. Organizada pela Igreja Católica ainda não totalmente engajada com a esquerda , contando ainda com a União Cívica Feminina, Campanha da Mulher pela Democracia e outras entidades, foi realizada em São Paulo e inúmeras capitais. Apartir do Comício das Reformas em 13 de março. Após a marcha em São Paulo, foi realizada missa na Sé e distribuído um manifesto ao povo, convocando para uma reação contra o governo de Goulart. Depois de consumada a queda do governo, transformaram-se em marchas da vitória.

Formação da cadeia da Liberdade. O movimento gerado em Minas Gerias, através da ação de seu governador Magalhães Pinto, toma corpo nas primeiras luzes de 31 de março com a ocupação da capital mineira por sua Policia Militar e adesão de civis. Ás 2000 hs do dia 31, o governador através de cadeia de rádio , fez sua palavra chegar aos outros Estados, cujos governadores apenas esperavam a ordem para o início do movimento nas áreas de sua responsabilidade. Foi a reação oficial da sociedade por seus representantes legislativos. Políticos, obviamente. Nem todos aderiram de imediato, sendo que a maior reação foi no RS, Estado de Brizola e Jango.

Enfim, e sem dúvida nenhuma, um golpe anunciado e abortado por lideranças políticas coadjuvadas por militares no cumprimento de sua missão constitucional.

Nada diferente do que vemos hoje em dia com a organização e atos do governo federal e impossível não comparar a situação de pré-64. Um menos avisado constataria que são bem semelhantes.

A diferença é que a violência revolucionária, ou reformas na marra, foi substituída por uma corrupção que não parece ter fim, um clientelismo sem limites, atitudes lesa-pátria disfarçadas de bom mocismo internacionalista, divisão da população em castas de competentes e incompetentes, a título de resgate histórico gerando divisões renegando a vocação miscigenadora da população brasileira e acirrando ódio racial e luta de classes, tentativas agressivas de reabertura de feridas em contraposição de desrespeito a leis e acordos firmados a título de reparação, tentativas de amordaçamento das decisões internas de militares em comando de tropa por juízes em decisões inconstitucionais, mas aceitas pelo Judiciário.

Ressalte-se ainda o apoio a uma plêiade de governos esquerdistas estatizantes do Foro de São Paulo, que tem por missão resgatar tudo o que foi perdido com a queda do bloco socialista soviético. Considerar ainda, o esbulho do Tesouro Nacional, fruto da Anistia política de 1979 e a imensa compra de consciências com as inúmeras Bolsas.

O campo político mergulha numa crise moral sem precedentes não tendo as mínimas condições de se impor como tal.

O governo não deixa também de apoiar com toda sua estrutura, destaque a econômica, grupos que geram insegurança e inquietação no campo e agronegócio, com suas invasões de propriedades, destruição de bens públicos e privados, assassinatos, roubos, furtos, matança de gado. Aquinhoa-os com todas as benesses que a população trabalhadora faz jus sem contrapartida social nenhuma, deixando o campo em constante pé-de-guerra.

Portanto, a grande diferença do pré-64 e agora, é o modo passivo e acovardado que, a população anestesiada pelas benesses federais e sem meios de deter a proteção a quem comete delitos, reage a estes fatos claros e explícitos de desestabilização e criação de um quadro caótico.

Na realidade é a busca incessante da solidificação de um país bandido e uma sociedade absolutamente corrupta e subserviente, objetivo final dos esquerdistas golpistas de 64, algo que desejavam na lei ou na marra. Esse é o maior legado, sem sombra de dúvidas, dia-dia revelado por aqueles que tiveram seu golpe anunciado e abortado, que agora desfrutam do poder.

E hoje é tal qual o resultado daquele brutal assalto seguido de seqüestro em que os criminosos fugiram com o produto, mas não maltrataram e trataram bem todos os reféns. Nem foram apanhados pela Polícia, pois fugiram em carros cedidos em troca da vida dos reféns!

Como consta no edital de memórias reveladas do governo federal, apenas busca-se dados sobre–“...diga respeito a toda e qualquer investigação, perseguição, prisão, interrogatório, cassação de direitos políticos, operação militar ou policial, infiltração, estratégia e outras ações levadas a efeito com o intuito de apurar ou punir supostos ilícitos ou envolvimento político oposicionista de cidadãos brasileiros e estrangeiros;

II – seja referente a atos de repressão a opositores ao regime que vigorou no período de 1º de abril de 1964 a 15 de março de 1985; ou

III – inclua informação relacionada a falecimentos ou localização de corpos de desaparecidos políticos.”

Nada do que eles fizeram se busca. Eram uns anjos, com absoluta certeza e não seqüestradores, assassinos e ladrões de banco cruéis. Demonstra-se que os criminosos tentam apagar suas pistas.

O maior legado dos que abortaram o golpe, apanhando a esquerda com a boca na botija, foi tê-lo feito sem o derramamento siquer de uma gota de sangue brasileiro. Uma sangrenta revolução avizinhava-se. Mas não o foi. Bem diferente de 1935 e como a esquerda desejava.

Não adianta a esquerda jurássica mentir, esconder, escamotear, falsificar, desvirtuar a verdade. Ela aparece. Não nos iludamos!

REFERÊNCIAS

- A HISTÓRIA OFICIAL DE 1964-Olavo de Carvalho

- 31 de março : continuidade no tempo e no espaço- Aimar Baptista da Silva

- 31 de março, uma data que não pode ser esquecida-VAlte(Ref) Sergio Tasso Vásquez de Aquino

- Falsificações da História - O soldado brasileiro e a contra-revolução de 64- Heitor De Paola

- A Nação que Salvou a si Mesma - A história secreta da legítima revolução do povo brasileiro- Clarence Hall- Seleções do Reader’s Digest

- A Revolução Democrática de 31 de Março de 1964-Gen Div (Res) Ulisses Lisboa Perazzo Lannes

- Anos de chumbo-Carlos I.S. Azambuja

- Assim se faz a História - Jarbas Passarinho

- Desfazendo alguns mitos sobre 64- Heitor de Paula

- História em julgamento- Jarbas Passarinho

- Lembrai-vos (sempre e com orgulho) de 31 de março de 1964!-Gen. Bda RI Valmir Fonseca Azevedo Pereira

- MEMÓRIA 1964 - O dossiê do braço armado de Brizola- diversos

- O PCB e a deposição de Jango (1a. Parte)- Carlos I.S. Azambuja

- O que as esquerdas não deixam o jovem saber-TERNUMA

- O saldo da derrota comunista- Jarbas Passarinho