O QUE DEVEMOS SABER SOBRE A EPILEPSIA .
O QUE DEVEMOS SABER SOBRE A EPILEPSIA .
Paulo Roberto Silveira
Ex Médico da Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro • Sub-Secretaria de Atenção à Saúde • Superintendência de Vigilância em Saúde • Coordenação de Epidemiologia • Coordenação de Doenças Não Transmissíveis . Aposentado em 13 de outubro de 2009 após 37 anos de trabalho.
Medico Perito Legista. Neurologista Forense • Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto
Departamento Geral de Polícia Técnico-Científica
Secretaria de Estado de Segurança Pública • Estado do Rio de Janeiro. Ainda na Ativa
Advogado - Direito Médico
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Introdução
A epilepsia é tão antiga quanto a própria humanidade, uma doença conhecida desde vários séculos antes de Cristo. Pela incidência, manifestações — por vezes dramáticas — e repercussões sociais que acarreta, vem atraindo a atenção de médicos e leigos há mais de dois mil anos.
Que é a epilepsia?
Para compreendermos melhor o que é a epilepsia, vamos considerar o cérebro como uma espécie de máquina, cujas células são como fios elétricos conectados entre si e comunicando-se por impulsos elétricos. Quando esses fios (as células cerebrais) estão desencapados, causando curto-circuito, acontece a crise epiléptica. Se isso acontecer a alguém várias vezes, significa que a pessoa tem epilepsia, a doença que produz as crises. Uma crise é uma situação temporária, um período curto, no qual ocorrem descargas elétricas rápidas e fortes no cérebro.
Se o distúrbio elétrico afeta somente parte do cérebro, o resultado é o que se chama de crise parcial. A forma mais comum de crise parcial é a chamada crise parcial complexa. A pessoa pode se sentir tonta, confusa, ver manchas à sua frente, ouvir ruídos. Pode mover braços e pernas descontroladamente e não ter consciência de suas ações ao final da crise. Este tipo de crise pode ser erroneamente considerado de origem emocional ou mental. Mas não é.
Um outro tipo de crise parcial pode envolver a parte do cérebro que controla um grupo específico de músculos. O do braço direito, por exemplo. Neste caso, em uma crise, o braço direito pode ficar rígido e depois mover-se de forma incontrolável. Mas outros músculos não são afetados. Em alguns tipos de crise, o problema existe na parte do cérebro que controla as funções vitais automáticas. O resultado pode ser enjôo ou cólicas, ou uma alteração na freqüência do pulso. Tudo dependerá da parte do cérebro atingida.
Quando o cérebro inteiro é afetado, o resultado é uma crise generalizada. Um tipo de crise generalizada é a chamada tonicoclônica, conhecida mais tradicionalmente como grande mal. Independente de nome, este é o tipo de crise que a maior parte das pessoas associa à epilepsia. Alguém que tenha uma crise de grande mal pode, subitamente, perder a consciência e cair. Todos os músculos tornam-se rígidos e o corpo começa a tremer. Após cerca de dois ou três minutos, que parecem ser muito mais longos, o tremor termina. Na maioria das vezes, após descansar um pouco, a pessoa pode levantar-se e prosseguir com o que estava fazendo antes da crise.
Um outro tipo de crise generalizada é a chamada ausência (pequeno mal). Essa crise pode ser muito rápida, a ponto de não ser notada. Pessoas com ausência olham para o nada à sua frente por alguns momentos, como se estivessem sonhando acordadas, e depois continuam a fazer o que estavam fazendo antes. Não há movimentos violentos de pernas ou de braços, mas a pessoa fica inconsciente por um breve período de tempo.
Crises de ausência costumam durar poucos segundos mas, quando não tratadas, podem ocorrer muitas vezes ao dia.
As crises aqui descritas são aquelas presenciadas com mais freqüência. Mas há alguns outros tipos de epilepsia e um médico pode dar mais detalhes.
O que causa epilepsia?
Sabe-se que, na epilepsia, algumas células cerebrais estão descarregando, quando não deveriam. Mas muitas vezes não se sabe o porquê. Freqüentemente não há explicação óbvia para o fato de alguém ser portador de epilepsia. A epilepsia pode aparecer após um traumatismo craniano ou ser causada por problemas na gravidez, Pode também surgir como efeito tardio de doenças infantis, como o sarampo, por exemplo. Deficiências nutricionais ou tumores cerebrais podem ser também a causa, embora raramente.
No entanto, na maior parte dos casos, não é possível determinar especificamente a causa da doença. Quanto isto acontece, o problema é chamado epilepsia idiopática, o que significa que a causa não é conhecida.
Como o epiléptico deve se relacionar com os demais?
É bom enfrentar o problema: a epilepsia vai alterar a vida do epiléptico. Mas não demais. Ele não poderá se tornar um piloto de avião, por exemplo, nem trabalhar desprotegido em alturas. Mas poderá ir à escola e à universidade. Não há por que essa pessoa não possa ser um médico, um advogado, um executivo ou até mesmo um jogador de futebol. Na verdade, há muito pouca coisa que ela não poderá fazer. As pessoas com epilepsia podem casar, ter filhos e levar vidas normais.
Mesmo quando se é jovem, não há diferenças entre o epiléptico e outras pessoas de sua idade. Ele poderá namorar e se divertir em festas. Poderá ir à praia, passear com os amigos, etc.
Seria útil que se formasse nas cidades grupos de ajuda mútua, como uma sociedade de epilepsia, na qual as pessoas afetadas pudessem aprender com os problemas e a experiência dos demais.
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Sabe-se que, na epilepsia, algumas células cerebrais estão descarregando, quando não deveriam. Mas muitas vezes não se sabe o porquê
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Pessoas com epilepsia
É surpreendente verificar o que pessoas com epilepsia podem fazer hoje. Há algumas no Congresso, outras trabalhando como físicos. Elas sobem montanhas, praticam esportes profissionais, dançam balé e até voam de asa delta. Não há razão para que a epilepsia deva impedir uma pessoa de levar uma vida ativa.
Algumas pessoas famosas da História, grande generais, como Júlio César, Alexandre Magno e Napoleão Bonaparte; grandes escritores como Fedor Dostoievski, Gustave Flaubert e Dante Alighieri tinham epilepsia. Alfred Nobel — dos prêmios Nobel — era epiléptico. E, da mesma forma, tinham epilepsia Peter Tchaikovski, Vincent Van Gogh, Buda e São Paulo.
Sobre a medicação
O médico escolhe o medicamento de acordo com a idade, condição física e tipo de crise do epiléptico. É importante que a pessoa com epilepsia tome a sua medicação regularmente, sempre de acordo com a receita médica. Na infância, os pais tomam conta de medicação do filho epiléptico. Quando adulto, ele próprio deverá assumir essa responsabilidade.
É bom lembrar que o medicamento não vai curar a epilepsia, mas ajuda a eliminar as crises ou a reduzir o seu número. Algumas vezes, a medicação termina completamente com as crises, por muitos meses. Isto não significa que a epilepsia esteja curada. A pessoa não deve deixar de tomar a medicação ou diminuir a dosagem. Somente um médico pode decidir sobre isso. O epiléptico pode ajudar o seu médico, agendando quaisquer crises para melhor informá-lo.
Embora seja importante o consumo regular dos remédios, perder uma dose não é um problema enorme. É só tomar a próxima dose na hora certa. Se houver dificuldade em se lembrar do horário da próxima dose, é bom preparar todas as doses antes, marcando as horas ao lado.
Dieta, exercício, atividades
Uma pessoa com epilepsia necessita do mesmo tipo de dieta que todas as outras deveriam utilizar. Não há necessidade especial de vitaminas ou minerais por causa da epilepsia. Exercício é bom para todos. Porém, se a pessoa não tem estado ativa, deve começar aos poucos.
A maior parte dos médicos permite que um paciente com crises bem controladas vá nadar em piscina ou no mar, desde que haja um bom nadador por perto. Esportes onde não há grande risco, como tênis ou futebol, são provavelmente mais seguros do que mergulhar, andar a cavalo ou esquiar. Na verdade, quanto mais uma pessoa com epilepsia participar de atividades com os amigos, tanto melhor.
A adolescência
Ser adolescente é difícil. Ser adolescente com epilepsia é um pouco mais difícil. Mas não impossível. A maior fonte de problemas para a maioria dos adolescentes é a sua vida social. Como já mencionamos, a epilepsia não é nada que possa causar vergonha. Nada para se esconder. É melhor para o jovem explicar a sua situação aos amigos. No início eles podem ficar surpresos, mas acabarão aceitando essa pessoa como um deles, com a diferença de que ela, por acaso, tem epilepsia. Não há razão para a epilepsia impedir esse jovem de sair para o clube, namorar e viver bem. Apenas não é bom exagerar. Muitas pessoas com epilepsia têm crises mais freqüentes quando estão cansadas ou após dormirem mal.
Epilepsias fotossensíveis
A fotossensibilidade reflete a capacidade se de produzir uma resposta fotoparoxística no eletroencefalograma (EEG). Isto pode ser obtido através da fotoestimulação intermitente (FEI). É encontrada em 9% das crianças normais e em 2,7% dos adolescentes normais. A resposta fotoparoxística é mais comum nas meninas do que nos meninos e consiste na descarga generalizada, geralmente pontas ou complexos poli-pontas-ondas, registradas em todas as regiões do cérebro durante a fotoestimulação intermitente.
Para ser especialmente estimuladora, a fonte luminosa dever provocar estímulos com ritmo de 11 a 20 Hz.
A prevalência da epilepsia fotossensível na população entre cinco e 24 anos é ao redor de um em cada 100 mil. Dentre a população epiléptica, 4% a 5% dos indivíduos podem responder com crises à fotoestimulação. A maioria dos indivíduos que têm fotossensibilidade não apresenta crises clínicas induzidas pelo estímulo luminoso’.
As crises costumam ser generalizadas (tonicoclônicas, mioclônicas ou ausências).
As epilepsias fotossensíveis são divididas em:
Epilepsia fotossensível pura – as crises ocorrem somente como resposta à fotoestimulação intermitente. Ex.: epilepsia da TV, crises auto-induzidas.
Epilepsia com fotossensibilidade – as crises espontâneas ocorrem em adição aos ataques provocados pela luz. Ex.: epilepsia mioclônica juvenil, epilepsia com crises tonicoclônicas generalizadas do despertar. Os aspectos genéticos se concentram também nesta síndrome.
A resposta fotoparoxística ao eletroencefalograma é encontrada em 40% dos irmãos de pacientes com epilepsia fotossensível (sempre mais nas irmãs e na mãe).
Epilepsia de TV
A televisão é a forma mais comum de estímulo desencadeador da espilepsia fotossensível pura.
Muitas crianças gastam horas em frente à TV ou nas telas de computador e videogame. A tela da TV emite luz na freqüência elétrica. Por exemplo, de 50 Hz, no Leste Europeu, e de 60 Hz, no Brasil. Com isto, os raios catódicos desenvolvem-se sistematicamente sobre a tela, criando em geral 312 ou mais listras horizontais.
A máxima estimulação se observa quando a TV produz 312 listras com freqüência de 25 Hz (freqüência principal 50 Hz), tendo a tela uma medida diagonal de 66 cm, e sendo vista a uma distância de 46 cm.
A fotossensibilidade também depende da iluminação da sala. Assim, recomenda-se algumas práticas protetoras em pacientes com esse tipo de crise, descritas a seguir, segundo Wilkins.
Práticas protetoras para pacientes com epilepsia da TV
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Características estimuladoras Recomendações
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Tamanho da tela Menor do que 30,5 cm
Distância da tela Quatro vezes a largura da tela
Freqüência de estímulo Bem iluminada difusamente
Visão binocular Visão monocular
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O tratamento consta de três linhas de frente:
Reconhecer as características estimuladoras e evitá-las.
Adaptar-se às recomendações protetoras a respeito.
Medicação anticonvulsivante.
O prognóstico é favorável, ocorrendo remissão em 75% dos pacientes até os 24 anos de idade.
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A epilepsia não é uma condição que deva causar vergonha. O epiléptico pode ajudar a alterar as noções errôneas das outras pessoas
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Dirigir
Se as crises do epiléptico estiverem sob total controle, ele pode dirigir. O médico responsável é a pessoa mais indicada para aconselhar esse paciente. Se essa pessoa tem crises durante o dia ou se a sua medicação está sendo alterada, não pode dirigir, pois o risco de acontecer algum tipo de acidente será muito grande.
A faculdade e, depois, a luta por um emprego
A maior parte das pessoas com epilepsia tem perfeita capacidade de freqüentar universidades e conseguir aprovação. O único cuidado é informar à escola, por meio de uma carta do médico, a respeito da medicação dessa pessoa.
Quando se chega à questão do emprego, a melhor atitude é considerar o que a pessoa tem condições de fazer, levando em conta o grau das crises. Há vários órgãos governamentais que podem ajudar o paciente a ser treinado para o emprego apropriado, e a Coordenadoria Regional de Reabilitação Profissional do SUS existe para isto.
Casamento
A primeira coisa que se deve saber é que a epilepsia, por si mesma, não tem nenhum efeito sobre a capacidade sexual de uma pessoa. Não há qualquer razão para que os que têm epilepsia deixem de usar pílulas anticoncepcionais.
Um casamento é baseado em confiança. Quando um relacionamento começa a ficar sério, é necessário que haja completa honestidade e se conte ao companheiro, ou companheira, que se é portador de epilepsia, que se toma medicamentos, etc.
E sobre os filhos? As chances de que os filhos de uma pessoa epiléptica venham a ter uma doença que produza crises são pequenas. A menos que ambos os pais venham de famílias com muitos membros epilépticos. Faz sentido procurar um médico para aconselhamento genético antes de se ter filhos.
Ajudando a entender
Vale a pena repetir que a epilepsia não é uma condição que deva causar vergonha. O epiléptico pode ajudar a alterar as noções errôneas das outras pessoas. Se uma única pessoa entender que gente com epilepsia é semelhante a todos, então se estará fazendo a vida um pouco mais fácil para essas pessoas. Lembremo-nos de que qualquer ajuda, por pequena que pareça ser, é de grande valia.
Conclusão
A epilepsia é uma doença nervosa, com manifestações ocasionais, súbitas e rápidas, entre as quais sobressaem convulsões e distúrbios da consciência. A etiologia da doença normalmente está dividida em duas categorias, e muitas são as manifestações das crises de epilepsia. O paciente deve submeter-se a cuidadosa avaliação diagnóstica para determinar os fatores causais e as circunstâncias precipitantes. O tratamento vai depender em muito da avaliação efetuada, além da análise do aspecto psicossocial do paciente com epilepsia.
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• DR. PAULO ROBERTO SILVEIRA :
Endereço para correspondência:
drpaulosilveira@gmail.com
COMENTARIOS RECEBIDOS:
eu li algumas coisas na internet sobre a epilepsia paulo e até cheguei a escrever um poema sobre a epilepsia...e acabei lendo o seu e achei muito bem escrito...sou convulsivo a 6 anos fazendo o tratamento indo a consultas obs: o sua foto com a sua pintura no quadro atrás foi uma exelente idéia...abraço e
Enviado por André Lopes em 15/12/2009 17:53
para o texto: O QUE DEVEMOS SABER SOBRE A EPILEPSIA . (T1606258)