"QUEBREM SEUS PRATOS!!"

Foi um susto.

Ao passar a palma da mão sobre a superfície branca da minha “quase nova” divisória da sala, senti nela um “oco”, algo estranho que, em seguida, sob leve pressão, tomou a forma da ponta do meu dedo e, se não cuidasse, engoliria toda minha mão.

Meu Deus!!!!! Cupins!!!!!

Mas como?? Impossível! É quase nova. Só tem alguns meses!!

Inútil: Cupins!!! E muitos....

Fui dormir com a sensação de tê-los levado comigo para a cama.

Novo dia, mesma realidade. Cupins...

É hora de ação. Vamos “encará-los de frente”, ver até onde trabalharam em silêncio. O que fizeram e como combatê-los.

Cá pra mim, sempre achei esse tipo de batalha, uma verdadeira perda de tempo. Eles são o verdadeiro exemplo do ditado “A união faz a força”.

Mas, antes de se entregar, vamos à luta.

Desprega daqui, desprega dali, e, aos poucos, o que se presumia muito, era muito mais. Um verdadeiro império.

Conclusão: esvaziaremos a enorme cristaleira na qual a divisória estava pregada, para tentarmos salvar a estrutura, em seguida a fecharemos novamente com um material mais resistente.

Decidida a estratégia de ação, iniciou-se a retirada do que estava guardado. Depois de algumas horas de “senta, levanta, senta, levanta” com as costas em frangalhos, olhei ao meu redor e me vi cercada de todo que é tipo de louças. Era tanta louça que daria para fazer o enxoval de várias donzelas, caso elas ainda existissem.

Jogos de jantar , jogos de café, pilhas de pratos para bolos, verdadeiras obras de arte, sopeiras antigas, antiqüíssimas, jogos para sobremesa, vários tipos de cristais, vasos ornamentais, bombonieres, travessas de todos os tipos e tamanhos, e muito, muito mais. Tinha louça do tempo da minha bisavó que nunca tinha sido usada.

Olhei com muita atenção toda aquela porcelana e fiquei imaginando quantas viagens elas já fizeram, quantos riscos elas já correram, em quantos jornais já foram cuidadosamente embaladas, mas histórias, essas, elas nunca tiveram para contar, pois nunca foram usadas. Nunca exerceram sua função.Sempre foram “um peso” na mudança de alguém.

Ninguém usava, mas também não se desfazia. “Talvez um dia fique pra fulana ou pra beltrana...”

Achei então que era chegada a hora de fazer com que elas se sentissem úteis. Mas como?? Seria necessário um batalhão para usar todos aqueles pratos. Nos tempos atuais isso nem se cogita mais. Come-se em restaurante. Compra-se tudo pronto. Não se reúne mais a família em casa para grandes comemorações.Para isso existem clubes, cafés coloniais.

Pensei mais um pouco e achei uma solução. Como a louça era minha, iria usá-la em meu benefício. Resolvi então selecioná-la, e dei-lhe o seguinte destino: PAREDE!!!

Chega de stress, de engolir sapos, de ficar mau-humorada. Chega de prejudicar meu organismo com calmantes químicos. Inventei um novo tipo de calmante que, normalmente só se vê em filmes ou novelas, quando a mocinha, acometida de uma crise de ciúmes, atira contra a parede, seu belo vaso de cristal.

É isso aí: farei o mesmo. Ao primeiro sinal de stress, jogarei um prato na parede. Usarei toda minha força física e mental e, tenho certeza que me sentirei bem mais calma depois, talvez até consiga rir do feito.

Pelo tanto que tenho de louça, certamente meu tratamento terá êxito.

Pode ser até que ainda sobre um enxoval completo... ou, melhor dizendo: pode ser até que ainda sobre um “tratamento” completo!!!

inken
Enviado por inken em 19/05/2009
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