A Mulher de hoje e a mulher de ontem na visão de Alencar e Amado: Quem é esta mulher na atualidade?

A Mulher sempre teve na sociedade um papel de submissão e de inferioridade em relação ao homem. Nestes aspectos, a literatura mundial e, especificamente, a brasileira, através de autores literários como Alencar e Amado, rompeu as barreiras do universo feminino, dentro de seus estilos: Romantismo e Modernismo, nos quais procuraram desmistificar este papel.

Analisar o universo feminino, com o intuito de identificar a trajetória, os avanços e retrocessos, no que diz respeito à mulher no decorrer dos séculos XIX e XX, tomando como base as personagens literárias já mencionadas, para mostrar quem é esta mulher na atualidade é, sem dúvida um desafio, contudo a literatura, através de seus autores, em muito contribuiu para isso e rompeu as barreiras do universo feminino.

Alencar e Amado participaram deste rompimento com as suas obras, onde Alencar através de “Senhora” e “Lucíola” retrataram a realidade feminina vivida no século XIX, e Jorge Amado, em seus romances: “Tieta do agreste” e “Tereza Batista cansada de guerra”, trouxe a mulher do século XX, à frente de sua época, que sofre as sanções da sociedade, por isso, ambos apresentam um universo feminino repleto de conflitos e lutas: Aurélia, Lucíola, Tereza e Tieta, buscam mostrar o verdadeiro papel da mulher no todo que as envolve: A mulher que é capaz de lutar para alcançar a tão esperada realização pessoal e profissional.

No século XIX, a mulher tinha o papel de “submissa”, de “obediente” e “serva”, as que ousaram romper com este papel, como as personagens de Alencar, enfrentaram os tabus para a época em que viveram. Dessa maneira, Alencar é precursor, no que diz respeito à Literatura Brasileira, em retratar a mulher capaz de romper preconceitos e lutar por sua liberdade pessoal, pois as personagens mostradas por ele mais tarde serão aprimoradas por outros autores brasileiros do século XX.

Alencar traz dois universos totalmente adversos: a mulher romântica, feminina, mas com a capacidade de quebrar tabu e romper padrões épicos e elitizados e, que sofreu as conseqüências dos atos praticados, dando oportunidade a outras mulheres de focarem a feminilidade de cada uma, com o respeito que todas as mulheres merecem. Há ainda a mulher que continua submissa ao homem: Pai, irmão, esposo,ela não se indispõe, obedece, respeita e age vivendo em função do homem, ele é quem determina tudo, não importando quem é e, o que é a mulher. A Rede Record passou uma novela intitulada: “Essas mulheres”, onde reuniu as três obras de Alencar: Senhora, Lucíola e Diva, Aurélia foi representada pela atriz: Christine Fernandes e, Lucia foi representada pela atriz Carla Regina. Foi bem interessante ver a representação magistral destes romances na televisão.

Nos romances de Amado, encontramos um universo feminino polêmico e moderno, pois traz uma “Tereza Batista Cansada de Guerra” (1972), forte, sensual, complexa, que chocou a sociedade e rebelou-se contra as convenções sociais impostas, usando o poder de sedução e a sensualidade para marcar presença na sociedade, com isso afirmando a força da mulher e respondendo ao mundo que a oprimia. Este romance importante foi mostrado em uma Minissérie da Rede Globo, onde as mulheres que assistiram se viram ali representadas pela atriz Patrícia França.

Já em “Tieta do Agreste” (1977), Amado apresentou uma mulher à frente do seu tempo, sem medo da sociedade e disposta a se impor em toda sua essência, chocando a sociedade preconceituosa e trazendo as verdades de uma mulher humilhada e vencedora, com a capacidade de amar. Tieta é “avançada” para sua época e para a cidade em que vivia. Uma mulher capaz de pagar na mesma moeda todas as crueldades a que fora submetida pela família. Rica, bela e apaixonada, quebra tabus ao manter um relacionamento incestuoso com seu sobrinho e fazer a cidade curvar-se aos seus pés por causa de seu dinheiro. Bete Farias representou esta Tieta de Amado na novela da Rede Globo de grande sucesso e impacto, onde as mulheres encontraram naquela personagem características bem semelhantes e ao mesmo tempo distintas.

Estes romances têm aspectos comuns que mostram mulheres encarando a vida de diferentes modos, mas que encontram na figura masculina um norte e a segurança de que precisam para se firmarem como mulheres. Algo um tanto contraditório, pois através deles, chegaram ao fundo do poço e, somente com a ajuda deles conseguem se reerguer. Além de questões que discutem o papel da mulher na sociedade, encantos e desencantos amorosos; experiências sexuais mal sucedidas, as protagonistas foram porta-vozes de questões político-sociais, através de uma linguagem que ora ironizava, ora denunciava situações que mostravam a verdadeira face de uma sociedade corrompida, como é o caso, por exemplo, de Aurélia, que através da compra de seu amor, denunciou a supremacia daqueles que tinham esse poder em detrimento dos que não tinham.

Como evidencia a seguinte passagem “-Vendida sim: não tenho outro nome. Sou rica, muito rica, sou milionária, precisava de um marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o. Custou-me cem contos de réis, foi barato...” (Alencar, José de: in Senhora,1977,p:81). Nessa fala, Aurélia mostra toda a sua revolta a uma prática recorrente de sua época – a compra das pessoas. Barganhava-se o amor como se barganha um objeto, um produto e denuncia-se com isso, não só o desrespeito à pessoa, mas à supremacia do dinheiro, como se tudo pudesse comprar, cabendo aos menos aquinhoados a desilusão, a falta de perspectiva em futuro promissor.

Nessa mesma linha, a personagem Lúcia mostra a crueldade de uma época que se passou, está sendo reinventada da maneira mais sórdida que se possa imaginar – o descaso com a infância. São cada vez mais recorrente, em pleno século XXI, crianças sendo molestadas por adultos e o estarrecedor disso tudo é que a idade não é mais fronteira para isso. Contudo, o que hoje é um crime, antes era uma prática com o aval de pessoas da própria família: foi assim com a personagem Lúcia, e com Tereza também. Ambas molestadas sexualmente, ainda jovens e, tiveram que seguir seu próprio rumo, porque não tiveram o apoio de ninguém.

Em Tieta, discute-se a chegada do progresso e suas conseqüências, como também a hipocrisia das beatas e o falso moralismo materializado, sobretudo, na figura do pai de Tieta. Além disso, Tieta é o retrato do esforço pela liberação dos instintos e pelo triunfo do amor livre e espontâneo frente à revolução sexual da década de 70. Assim, ela surge contra tudo que era convencional no que diz respeito à posição da mulher dentro da sociedade daquela época.

Analisando as ricas contribuições de cada uma dessas personagens é mais fácil ver quem é a mulher na atualidade: Guerreira, não deixa de ser mãe, esposa, filha, irmã, amiga. Companheira, amante, etc. O homem de hoje, vê a mulher atual como alguém, mais do que, uma simples mulher, que pode ser submissa ou não, dependo da situação em que se encontre, mas, mesmo tendo esta atitude de submissão, não se deixar levar, de alguma forma reage principalmente quando se trata de defender os filhos. É, muitas vezes, “mãe-pai”, provedora do sustento familiar e, até mesmo incorpora o papel de “homem-mulher” da casa.

Em sua maioria são mulheres de todos os tipos, estilos, classe, raça, cor, contudo, à frente de seu tempo, muito mais evoluídas, decididas, batalhadoras, capazes de enfrentar a tudo e a todos pelos seus sonhos e ideais. É claro, que em pleno século XXI, ainda encontramos em alguns países, mulheres que agem com submissão total, serviniência, obediência e, que assim foram criadas e vivem, mesmo na atualidade, suas atitudes, nos remotam às mulheres do século XIX, isto porque, o meio em que vivem, as condições sociais e a vida que tem, não às permite ser diferente do que são, em função do todo que as envolve.

A mulher atual vai, além disso tudo, é uma eterna lutadora em busca de seu espaço e, vem a cada dia, conquistando-o ainda mais, ultrapassa os limites impostos pelos homens e pela sociedade em que vivem. Suas conquistas vão além do que, um dia já lhes foi permitido e, elas estão mostrando, a cada tempo que de frágil nada tem, não deixam de ser femininas, sedutoras e misteriosas, mas se tornam mulheres, no sentido amplo e infinito da palavra e do ser humano que são. São estas mulheres, que na atualidade desenvolvem vários papéis, transformando-se diariamente e contribuindo para a transformação do meio em que vive.

Hoje, encontramos mulheres ocupando espaços na política, na justiça, no esporte, no militarismo, enfim, espaços antes trilhados somente por homens e, com uma capacidade e eficiência ainda maior do que a masculina. É claro, que para garantir estes espaços, houve muitas lutas sociais que culminaram com as conquistas femininas. Muitas mulheres deram suas vidas para que a mulher atual pudesse hoje estar desfrutando do espaço que tem. A mulher atual é uma mulher de múltiplos talentos e personalidades, é de tudo um pouco dependendo da situação e circunstância, mas com certeza, é acima de tudo uma vencedora, alguém capaz de batalhar sempre pela sua felicidade e daqueles que fazem parte de sua vida.

Odélia Ramos
Enviado por Odélia Ramos em 19/05/2009
Código do texto: T1603339
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