Uma escola inovadora

Ao ler a obra “A escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir”, do cronista e psicanalista Rubem Alves, notei seu forte apresso por uma escola bem inusitada chamada Escola da Ponte, localizada em Vila Nova de Famalicão, em Portugal.

Admito que também fiquei interessado pela política pedagógica adotada por essa instituição, que zela pelo ensino democrático. Todos têm o mesmo direito a aprendizagem, havendo o espírito solidário entre os alunos no ato de ensinar. Para corroborar essa relação entre o alunado, podemos comprovar nesta passagem:

“Estou a escrever um texto para os miúdos – foi o que ela disse. Na escola da Ponte é assim. As crianças que sabem, ensinam as que não sabem. Isso não é exceção. É a rotina do dia- a- dia. A aprendizagem e o ensino são empreendimentos comunitários, uma expressão de solidariedade.” (pag. 43)

Esse espírito solidário que paira das relações entre alunos não é tão semeado por parte do ensino tradicional que só há transmissão de conhecimento por parte do professor para o aluno.

Outro aspecto fascinante dessa escola é a separação de grupos de alunos com interesses comuns por um assunto orientados pelos professores. Num prazo de 15 dias estudam em grupo o conteúdo e apresentam para os alunos. Esses conteúdos são sempre contextualizados com a realidade social dos aprendizes, desenvolvendo, assim, o seu pensamento crítico.

O ensino tradicional traça um forte paradigma contra essa pedagogia inovadora apresentada na Escola da Ponte, pois a transmissão do saber segue o modelo cartesiano ou mecanicista – o professor apenas ensina conceitos já estabelecidos e cabe ao aluno apenas decorar as informações, aplicando-as nas avaliações.

Em contra partida, o ensino inovador tem diferentes vertentes,. O professor interpola uma linguagem dialógica (Bakthin, 1999) e faz ecoar na mente dos alunos o pensamento crítico, instigando-os a questionarem uma realidade.

Ao longo da cultura escolar segundo (BOHN, p.118) : “A linearidade da cultura escolar historicamente exige a aplicação de metodologias estabelecidas através da autoridade institucional ou científica. No entanto a obrigatoriedade não se limita às metodologias, ela se estende às verdades estabelecidas.” É da competência do professor inovador fazer rupturas com as metodologias oferecidas e procurar desmistificar as verdades professadas.

A título de ilustração, cito um filme que caminha concomitantemente com o cerne de nossa discussão – a escola inovadora - intitulado: Escritores da Liberdade, onde um a professora Irin (Hilary Swank) educa adolescentes criados no meio de tiroteios e agressividade em Long Beach, California. Ela oferece o que eles mais precisam: uma própria voz. Quando a professora vai parar numa escola corrompida pela violência e tensão racial, ela combate um sistema deficiente, lutando que a sala de aula faça diferença na vida dos estudantes. Ela passa a dialogar com os alunos e a descrever suas vidas em diários, fazendo-os autores de suas próprias vidas. Com isso, ela passa a conhecer mais a vidas dos alunos e eles acabam se conhecendo mais e, uma turma de adolescentes que aparentam indomáveis, passam a ter mais tolerância, recuperar suas vidas destruídas e mudar seu mundo.

Será que essa escola que representava apenas uma epifania para Rubem Alves poderá brotar em nossa realidade brasileira? Quem sabe ainda teremos um universo educacional igual ao dessa escola portuguesa ou a do filme recém comentado. Só assim haverá um sistema educacional onde as palavras solidariedade, ética, coragem e amor ao próximo estejam presentes no dicionário das relações humanas!

Bibliografia

*ALVES, Rubem. A escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. Campinas - São Paulo: Papirus Editora, 2005.

* BAKTHIN, M. (V.N. Volochinov). Marxismo, e filosofia da linguagem (tradução de Michel Lahud e Yara F. Vieira). S. Paulo: Editora Hucitec, 1999.

*BOHN, Hilário. Maneiras Inovadoras de ensinar e aprender. Pelotas: Edicat, 2000.

* Filme: Escritores da Liberdade.