Judas: traidor ou instrumento?
A idéia, inserida na ficção sensacionalista da literatura, não é nova. Anteriormente, o grego Nikos Kazantzakis ((Prêmio Nobel de literatura, † 1957) já escrevera em 1955, sua controvertida obra “A última tentação”, levada às telas em 1988) que Judas era amigo de Jesus, o único no grupo que compreendera a missão do Messias, e que agira como um instrumento do plano de Deus, para que Jesus fosse morto e essa morte pudesse ensejar a Ressurreição. Recentemente, surgiu outra “descoberta”, que pretende dar uma visão mais light de Judas de Cariôt (Iscariotis), na qual o discípulo deixa o papel de traidor para tornar-se um “amigo de peito” de Jesus, inserido diretamente no projeto divino. Os descobridores do manuscrito (em copta) afirmam que, como Jesus deveria morrer, Judas, por amor ao Mestre “encomendou” sua morte, para que a paixão ocorresse e os fatos tomassem o caminho planejado.
Sabemos que quanto mais sensacionalista for o assunto, mais chances ele tem de tornar-se um best-seller e encher o bolso de autores, editores e livreiros. O "Código Da Vinci está aí para confirmam muinha assertiva. O público leitor em geral adora uma controvérsia, uma polêmica com traços iconoclastas de escândalo. Certas pessoas gostam de ver colocarem abaixo as verdades, sejam elas históricas, religiosas ou sociais. Assim foi com a obra de Kazantzakis, e mais recentemente com Dan Brown. Uma obra que diga que a Bíblia se equivocou (ou mentiu), pode render muito e tergiversar perigosamente naquela linha em que a ficção (mentira) tenta insinuar-se na realidade (verdades reveladas). é um prato cheio para ateus, maçons e outros.
As fontes dessas “descobertas”, assim como outras, protagonizadas pelo National Geografic, em geral são desconhecidas. Parace haver por detrás dessas detratações, uma ideologia sionista. São os doutores tal e tal (desconhecidos) da universidade X (que ninguém conhece) que afirmaram isso e aquilo. Em cima dessa insuficiência de credibilidade, forma-se a dúvida que – por falta de um desmentido vigoroso – vai aos poucos se transformando em “meias verdades”, até ganhar foros de “argumentos irrefutáveis”. Na dúvida, o público opta pela fábula.
Aliás, por falar em fábula, foi São Paulo que afirmou na Segunda Carta a Timóteo, que “no futuro, muitos não suportarão mais a sã doutrina, e com a comichão de escutar novidades, os homens se cercarão de mestres a seu bel-prazer, desviarão seus ouvidos da verdade e os orientarão para as fábulas” (2Tm 4, 3s).
Quem estuda os evangelhos sabe que o mais antigo deles é Marcos, escrito por volta do ano 65 de nossa era, e o mais novo é João (ano 100). Ora, a morte de Judas é mais ou menos concomitante com a de Jesus (ano 30). Teria o traidor tido a sensibilidade de relatar o ocorrido, em um precoce “evangelho”, mais de trinta anos antes da Igreja, naqueles dias tumultuados que antecederam paixão? Os diálogos do texto atribuído a Judas têm, em sua maioria, conotações da gnose dos séculos III e IV, quando heresias desse quilate pululavam no ambiente cultural da Igreja que se expandia.
Deste modo, devem os cristãos ter cuidados com esses sensacionalistas “fazedores de escândalo”. Quanto mais sensacionalista e chocante for o assunto, mais chance ele tem de tornar-se um best-seller.
Nós cristãos, e especial os católicos, somos chamados a crer no ensinamento da Igreja, cujo Cânon bíblico é chancelado pela autoridade eclesiástica (Dei Verbum - Vaticano II, 3).
Crer na Igreja, esposa do Espírito, é crer na sistematização que esta fez das Sagradas Escrituras para a edificação do Povo de Deus. É preciso que os crentes busquem os vários meios de formação oferecidos, para que não nos deixemos seduzir – como alertou São Paulo – pelas fábulas, como o “Código Da Vinci”, Paulo Coelho, Zíbia Gasparetto, o “evangelho de Judas” e muita coisa que ainda vai aparecer por aí.
O tesxto foi escrito por
Carmen Sílvia Machado Galvão
e publicado na Revista "Rainha dos Apóstolos" de julho/2006
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