Flagrantes da vida real !
FLAGRANTES DA VIDA REAL.
Não lembrando precisamente o ano talvez 1953 ou 1955, mas certamente no mês de abril, tempo de colheita de arroz. Eu, garoto com mais ou menos dez anos, já ajudando na colheita e ver um monte de palhas de arroz andante, com lindos cachos pendurados, em direção ao batedouro (banca própria onde se batia o arroz para desgrudar das palhas para posterior ensacamento). Foi aí que notei a minha mãe embaixo daquilo. Carregando nos ombros aquele enorme fardo que era preso por vara de uma planta chamada amendoim, que fazia bem a curva para apoiar o fardo sem quebrar e às vezes usava as cordas de pear as vacas para esse serviço. Só se via seus pés caminhando rapidamente a apanhar um após outro, juntamente com mais alguns auxiliares empregados. Eu, com dez anos, meus irmãos Sebastião com oito anos, Claudhemiro com seis anos e o Osmar com quatro anos, brincavam nos montes de palha em forma de escorregador, mas também ajudava no serviço. Vendo minha mãe carregando aquilo tudo, pensei, terei que aumentar minha quantidade e levar mais. Embora com estatura franzina e magra tratei de aumentar a quantidade, ponderando que a minha mãe já tinha feito o almoço, lavado roupas, arrumado a casa e trazido o almoço rapidamente, carregando aqueles enormes fardos de arroz com palha para ajudar o meu pai que batia o arroz juntamente com um tio nosso, seu irmão. Nessa época minha mãe amamentava um irmão mais novo, não lembro se Hélio ou Cida, os quais ficavam numa bacia apoiada por travesseiros na sombra de arbustos bem próximos ao batedouro de arroz.
E nós, as crianças maiores, ajudavam e não podiam brincar muito que logo nosso pai reclamava, porém ficávamos com pressa que o monte de palhas de arroz ficasse volumoso para brincar de escorregar até que viesse a bronca. Lá pelas dezoito horas minha mãe, sempre otimista, decidida e dedicada, encerrava sua ajuda colocando o filho menor montado de lado no colo e os outros maiores andando, para tratar dos porcos e fazer o jantar. Meu pai trabalhava de sol a sol e sempre dizia: “Deus dá o frio conforme o cobertor”, “Não devemos trabalhar hoje para se alimentar ontem, e sim trabalhar hoje para provimento da semana vindoura”. Sempre tive isto como lema de vida e tudo dava certo.
E assim foi por muitos anos que, desde o casamento, trabalhavam de sol a sol para a qualidade de vida sempre somando para aumentar a renda da família. Criaram treze filhos e minha mãe Izabel Ribeiro (Rivera) Pedroso faleceu em 17/03/2000 com 76 anos e meu pai Aurelino José Pedroso em 29/01/1993 aos 79 anos aqui em Frutal/MG.
Porém, éramos felizes!
JOSÉ PEDROSO