Explicação de mim mesmo

Prólogo:

Na bela página ditada pelo Espírito Ivan de Albuquerque, através da mediunidade de Raul Teixeira, encontramos a resposta transcendente para a pergunta que cala fundo em nós: "quem sou eu?"

Eis um pequeno trecho do supracitado texto:

"Sinto que não nascemos pra ser tristes e viver entre dor, gemido e pranto, mas, aqui estamos para alcançar o bem mais santo, e avançar para o progresso e conquistar o encanto de agir com Deus nas lutas do mundo, de vibrar na alegria, no júbilo fecundo, até o tempo longínquo da áurea plenitude.

Sinto que sou caminhante do infinito, e, não obstante o horror, a amargura, o choro, o grito, embora estando na terra entre teimosias, aflito, o meu destino é sem dúvida estelar.

Agora sei que nasci para servir, pra ser feliz, crescer e amar. Cheguei ao mundo nos planos do Criador, que espera que me faça um lavrador a semear nos corações, em redor dos meus passos, as sementes de esperança, de alegria e de paz, que onde eu vá me transforme num servidor da verdade, do trabalho e da harmonia.".

Se biografia é a história da vida de alguém (já que bio é vida e grafia é texto, escrita), o que você imagina ser autobiografia? O prefixo auto quer dizer "por si mesmo ou de si mesmo", logo o termo se refere à história da própria vida.

Quem sou eu no contexto do universo? Serei um corpo esquálido, feio, desproporcional; com olhos de serpente da família dos colubrídeos, que mudam de cor a dependerem do estado de espírito ou emocional, mesmo assim vaidoso, amoral, insensível, quase inumano como a maioria dos humanos que convive com uns poucos aborígines que me cercam? Sou tudo isso ou nada do que pensam sobre mim?

Serei um ser enigmático que desfila qualidades estranhas, inteligentes, quão misteriosas habilidades físicas (sou ambidestro dos pés e mãos) e mentais (leio pensamentos ao olhar nos olhos dos que me encaram)?

Atualmente, quase sempre, faço uso de óculos escuros, por alvedrio são, para evitar me decepcionar com as leituras que sou capaz de fazer dos pensamentos esconsos, bizarros, doidos, mesclados com a admiração incontida dos que pensam ser fácil analisar-me por atos insanos ou gestos ensaiados por meio das janelas da alma (os olhos).

Não! Não é fácil analisar-me. Ajudo dando uma explicação de mim mesmo sob a ótica da boa razão. Sou um visionário complexo de neurônios, nervos, ossos, carnes, gorduras, sangue, músculos e fraquezas conjunturais extremadas apenas por ser reconhecidamente humano.

Escrevo textos com tendências autobiográficas porque entendo servirem como terapia e autoreflexão. Em verdade mascaro minhas reais intenções, pois deveria escrever com o uso dos verbos na 1ª pessoa do singular, o local e data do registro.

Não quero nem ouso ser detalhista. Não faço isso! Deixo para o leitor sagaz descobrir nas entrelinhas meus propósitos singulares, difusos e nem sempre edificantes. Creio que não se pode esperar resultados diferentes fazendo as mesmas tarefas todos os dias. Quem souber e quiser poderá encontrar a mais adequada explicação de mim mesmo.

Falar de si mesmo é sempre difícil... Nada como uma boa dose de bom humor para olhar para si próprio, não é mesmo? Observem esse pequeno trecho de um texto que ousei publicar no Recanto das Letras:

“Faço verso delicado como o artesão que adivinha os mistérios do amor na boca da noite dos furores uterinos e atravessa a jugular para sorver a suntuosa magnificência do encanto, que se refugia na própria alma, como o sabor do vinho escarlate degustado ardentemente na taça da vida, sem interditos ou maniqueísmos, sem a preocupação com as críticas dos esconsos, pouco ou nada criativos e despeitados.”.

Noutros dois parágrafos do mesmo texto escrevi:

“Sentir o cheiro acridoce do púbis feminino, dobras da pele sem cor, interceptado da flor do ventre que lateja e se faz guardiã da dança, não é o propósito do eu tarado, julgado por ressentidos, sexualmente degenerado. Afirmo que sou autêntico e não um hipócrita que se nega e se reprime nas manifestações do próprio corpo que grita por um prazer sem lindes.”.

“Viso, com os escritos rebuscados e metafóricos, aprender a interpretar os sinais enigmáticos, seqüência de fenômenos psíquicos (imagens, representações, atos, idéias, etc.) que involuntariamente ocorrem durante o sono com sonhos obsessivos, sem controle, agitados.”.

Considero a literatura ficcional fascinante, mas aprecio escrever devaneios carregados de convicções pessoais e contornos não bem definidos para alguns poucos que me lêem. Quero, entretanto, enfatizar que busco tratar de interesse coletivo e não apenas de um determinado grupo de leitores, estudantes e/ou aficionados.

Os leitores, de níveis culturais diversos, apreciam meus escritos porque quase todos suscitam polêmicas, erotismo, paixão, amor, dúvidas, compaixão e autocomiseração. Estudo muito, talvez demasiado, viso vencer minhas limitações e gosto de estudar escrevendo porque, como a vida, o aprendizado é uma luta sem-fim que não ocupa espaço, cujo resultado obedece sempre à influência mesológica.

No texto “Nascer novamente”, também publicado no Recanto das Letras, escrevi algo meio hilário, divertido à beça e bastante terapêutico:

“Na próxima encarnação eu quero nascer homem novamente. E não apenas homem. Quero também nascer gordo, com abdômen imenso, negro, careca e baixinho; meio palerma, ou, melhor ainda, totalmente idiota, sem discernimento algum e de quebra com os lábios leporinos, a face enrugada e feia, bem feia. Algo realmente sinistro, tenebroso.”

“Ah! Já ia esquecendo. Para completar o quadro dantesco quero ser pobre e nordestino novamente. Digo até mais: nordestino de Campina Grande-PB. Assim iria para o Rio de Janeiro ou São Paulo, já na adolescência, para morar em uma favela e ser um bandido temido mais pela feiúra do que pela devassidão e maldades que seria capaz de urdir e executar. Seria considerado um herói, talvez um bom facínora.”.

Enfim, a autobiografia pode ter diferentes formatos, tais como: o diário, as memórias, dentre outros, podendo ainda ser literal ou contar com elementos ficcionais. A autobiografia é a biografia escrita pela pessoa de quem a biografia fala, geralmente resulta de quando o autor procede ao levantamento de sua própria existência.

O gênero da autobiografia inclui manifestações literárias semelhantes entre si, como confissões, memórias e cartas, que revelam sentimentos íntimos e a experiência do autor. Igual a este texto quando dou explicação de mim mesmo.

Na atualidade, quando vive-se a chamada era biográfica em que o interesse na vida cotidiana das pessoas comuns bem como das famosas cresceu enormemente, muitas pessoas conhecidas do grande público (as ditas celebridades) que desejam atender a essa demanda na forma de autobiografia, mas não tem habilidade literária, utilizam-se de um profissional Ghostwriter (traduzindo literalmente, escritor fantasma) que escreve a biografia em tom autobiográfico de modo que a autoria passa a ser alegada ao ser de quem se diz algo (pessoa biografada).

No entanto, autores consagrados escreveram suas biografias e deram consistência a esse ramo de atividade literária e, mais recentemente, acadêmica. Exemplos notáveis de autobiografias incluem: The Words de Jean Paul Sartre, os quatro volumes da autobiografia de Simone de Beauvoir, dentre outros.