DESEQUILÍBRIO INDUSTRIAL
DESEQUILÍBRIO INDUSTRIAL
Os mercados consumidores, através do comércio, são responsáveis pelo equilíbrio de escala do setor industrial e de serviços. Tomando-se como exemplo os maiores centros brasileiros – São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte – o equilíbrio entre segmentos se dá pela logística de demanda mercadológica que vai se adequando com o passar dos tempos. Podemos observar que os segmentos industriais de produtos de comodities – embalagens, metalúrgico, químicos e derivados e etc. – pelo alto nível de verticalização de processo e alto valor agregado dos equipamentos de transformação e manufatura, em contraponto com o baixo valor agregado das matérias primas, necessita de uma escala de grande volume de produção para obter resultados satisfatórios em seus negócios. Não há como tentar adaptar equipamentos de alta produtividade, a baixos volumes de produção e não havendo o necessário equilíbrio, esses custos aumentam de representatividade e necessitam ser repassados aos preços dos produtos. Nesses segmentos, os setores de engenharia estão sempre desenvolvendo máquinas e equipamentos com o máximo de velocidade de produção e menor “set-up” (tempo de parada) para programação.
Tentar alterar o perfil desses equipamentos é impossível e estaremos sempre às voltas com perdas como: redução expressiva de produtividade, excessos de refugo, comprometimento da capacidade instalada dos equipamentos e aumento de custos de produção, nem sempre devidamente quantificados e controlados.
Quando do desenvolvimento das normas e procedimentos que acabaram por viabilizar a Zona Franca de Manaus em 1967, seria demais tentar, naquela oportunidade, imaginar o que acabaria ocorrendo agora. Enquanto que em qualquer outra região do país os segmentos de produtos sofisticados, como os aqui implantados, representam, no máximo, 5% dos volumes dos produtos ali produzidos, o restante, como os comodities (perfumaria, remédios, alimentício) e mais uma infinidade deles, ocupam os outros 95%. Em Manaus é diferente, totalmente diferente. Aqui, os segmentos de produtos elétricos e eletrônicos, pólo de duas rodas, relojoeiro, etc., representam a maioria dos 95%, ficando os comodities com os outros 5%.
As indústrias dos segmentos aqui instalados trouxeram uma logística de manufatura de extrema complexibilidade, com conceitos próprios, adaptados, de mercados de altíssima competitividade como no caso do Japão, Coréia e China entre outros. Assim, contrários a obstáculos regionais como as grandes distâncias que nos separam dos centros fornecedores de tecnologia e matéria prima, e dos grandes centros consumidores (São Paulo, Rio e Belo Horizonte), nos vimos às voltas com sistemas de logística de transporte e armazenagem em conceitos pouco compatíveis com nossa realidade, como os sistemas “Kam-Bam” e “Just in Time”.
Se tomarmos por exemplo uma fábrica montadora de televisores e aparelhos de som, pode se verificar que o valor dos investimentos para se montar uma unidade em Manaus é extremamente baixo, entretanto, para se instalar uma fábrica de embalagens, de placas de circuito impresso, de injeção plástica ou de qualquer outro produto desse segmento, estaríamos falando em milhões de reais. E não há representatividade de escala de produção compatível com a necessidade dessas industrias.
Para complicar um pouco mais essa situação, existe uma tendência de racionalização de matérias-primas comuns nesses segmentos, onde, nos últimos anos, já se verifica uma representativa queda de consumo com a evolução tecnológica. Como exemplo, já não existem vídeocassetes e as fitas desses produtos foram substituídas por CDs, DVDs e agora por Pen-drives e Micro-Chips e também deve ser citado o caso da mudança dos televisores de tubos de imagem de tela grande para os LDs ou Plasma, com redução de mais de 40% na utilização de matérias primas, como caixas de papelão ondulado e peças de injeção plástica. Esse desequilíbrio, tem comprometido a saúde financeira e a viabilidade econômica das industrias desses segmentos, em decorrência da representativa redução da escala de produção, o que pode ser vital para o Distrito Industrial de Manaus.
Urias Sérgio de Freitas