O Extermínio de "Moréias" em Macapá.
Aspectos gerais acerca da relação homem-"moréias" (Lepidosiren paradoxa) são comentados neste texto, tema este que tem sido objeto de estudos realizados em áreas de ressaca da cidade de Macapá (AP), na Amazônia Brasileira. Estes estudos apontam a matança descontrolada do referido peixe, que também é conhecido como "pirambóia". Trabalhos deste tipo objetivam descrever a percepção de populares com relação à espécie, cujo hábitat são as áreas de ressaca onde são construídas as palafitas, no subúrbio de Macapá.
Não é de hoje que o homem vem mantendo relações nada amistosas com muitos animais. Sabe-se que, ao longo da História, em diversas ocasiões o homem levou espécies de plantas e animais à extinção, principalmente nos últimos cem anos. Exemplos clássicos são os desaparecimentos por razões antrópicas do Dodô (Raphus cucullatus), na Nova Zelândia, do Tilacino (Thylacinus cynocephalus), na Austrália, e no Brasil, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), atualmente encontrada apenas em cativeiro.
Na atualidade, pesquisas evidenciam que a preocupação ambiental atingiu todos os grupos da sociedade, por razões distintas. Ainda assim, milhares de exemplares valiosos da fauna e da flora seguem ameaçados frente às alterações ambientais causadas pelo Homem. Por esta razão, é relevante estudar as percepções que diferentes populações humanas têm em relação aos seres do seu entorno, a fim de propor metodologias que visem a construção do chamado "sujeito ecológico" o qual, reconhece, por exemplo, o direito de existência de outras espécies, que lhes servem diretamente ou não.
No caso da moréia de água doce, 50% dos moradores entrevistados, no bairro dos Congós, não visualizam qualquer importância da espécie no ambiente onde ela ocorre, embora 80% tenham concordado que a espécie deve ser protegida, equanto que os demais preferem seu extermínio.
Figura 1: Ressaca do bairro dos Congós (Macapá-AP).
Outro dado interessante é que maior parte dos moradores da zona estudada classifica a moréia de água doce como uma cobra. É possível que tal correlação direta seja a responsável pela repulsa que parte da população sinte pelo animal, o que poderia condicionar as atitudes e comportamentos negativos em sua direção.
Alguns moradores relatam que, antigamente, principalmente crianças e adolescentes, pescavam estes animais e atiravam-nos no meio das ruas, para que fossem esmagados pelos carros, em grandes quantidades, o que pode ter levado à sua diminuição populacional na região e que poderá levar ao seu completo desaparecimento das áreas de ressaca urbanas, caso a situação persista, pois além de serem literalmente repudiados por muitos populares, ainda sofrem os impactos da poluição causada pelos mesmos, que atiram todo tipo de material nas águas.
Assim, os dados levantados por esse tipo de estudo podem ser aproveitados no desenvolvimento de programas de Educação Ambiental, a serem executados em escolas da região, por exemplo, no sentido de assegurar que os impactos antrópicos à espécie, ao menos no que refere à sua matança desordenada e pouco justificada, sejam reduzidos, visto que este peixe compõe o valioso acervo biológico da Amazônia, e como tal, deve ser protegido.
Foto:
Um exemplar da espécie Lepidosiren paradoxa
Agradecimentos:
Às colegas, Cassia Cilene Santos Sousa, Soraya Chagas Monteiro e Sâmia Norrara, pela colaboração.
Sugestões de Leitura
BOGOTÁ-GREGORY, J. D.; MALDONADO-OCAMPO, J. A. Primer Registro de Lepidosiren paradoxa FITZINGER, 1837 en la Cuenca del Orinoco (PNN El Tuparro, Vichada, Colombia). Biota Colombiana, 7 (2): 301-304, 2006.
MONTEIRO, S. C.; ALMEIDA, D. F.; COSTA, L. A. L. Lepidosiren paradoxa en la percepción de residentes de palafitos de Macapá-AP, Brasil. In: 61a Reunião Anual da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência, 2009, Manaus. Amazônia: Ciência e Cultura, 2009.
PINHEIRO, L. Da ictiologia ao etnoconhecimento: saberes populares, percepção ambiental e senso de conservação em comunidade ribeirinha do rio Piraí, Joinville, Estado de Santa Catarina Acta Scientiarum. Biological Sciences Maringá, v. 26, no. 3, p. 325-334, 2004.
Aspectos gerais acerca da relação homem-"moréias" (Lepidosiren paradoxa) são comentados neste texto, tema este que tem sido objeto de estudos realizados em áreas de ressaca da cidade de Macapá (AP), na Amazônia Brasileira. Estes estudos apontam a matança descontrolada do referido peixe, que também é conhecido como "pirambóia". Trabalhos deste tipo objetivam descrever a percepção de populares com relação à espécie, cujo hábitat são as áreas de ressaca onde são construídas as palafitas, no subúrbio de Macapá.
Não é de hoje que o homem vem mantendo relações nada amistosas com muitos animais. Sabe-se que, ao longo da História, em diversas ocasiões o homem levou espécies de plantas e animais à extinção, principalmente nos últimos cem anos. Exemplos clássicos são os desaparecimentos por razões antrópicas do Dodô (Raphus cucullatus), na Nova Zelândia, do Tilacino (Thylacinus cynocephalus), na Austrália, e no Brasil, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), atualmente encontrada apenas em cativeiro.
Na atualidade, pesquisas evidenciam que a preocupação ambiental atingiu todos os grupos da sociedade, por razões distintas. Ainda assim, milhares de exemplares valiosos da fauna e da flora seguem ameaçados frente às alterações ambientais causadas pelo Homem. Por esta razão, é relevante estudar as percepções que diferentes populações humanas têm em relação aos seres do seu entorno, a fim de propor metodologias que visem a construção do chamado "sujeito ecológico" o qual, reconhece, por exemplo, o direito de existência de outras espécies, que lhes servem diretamente ou não.
No caso da moréia de água doce, 50% dos moradores entrevistados, no bairro dos Congós, não visualizam qualquer importância da espécie no ambiente onde ela ocorre, embora 80% tenham concordado que a espécie deve ser protegida, equanto que os demais preferem seu extermínio.
Figura 1: Ressaca do bairro dos Congós (Macapá-AP).
Outro dado interessante é que maior parte dos moradores da zona estudada classifica a moréia de água doce como uma cobra. É possível que tal correlação direta seja a responsável pela repulsa que parte da população sinte pelo animal, o que poderia condicionar as atitudes e comportamentos negativos em sua direção.
Alguns moradores relatam que, antigamente, principalmente crianças e adolescentes, pescavam estes animais e atiravam-nos no meio das ruas, para que fossem esmagados pelos carros, em grandes quantidades, o que pode ter levado à sua diminuição populacional na região e que poderá levar ao seu completo desaparecimento das áreas de ressaca urbanas, caso a situação persista, pois além de serem literalmente repudiados por muitos populares, ainda sofrem os impactos da poluição causada pelos mesmos, que atiram todo tipo de material nas águas.
Assim, os dados levantados por esse tipo de estudo podem ser aproveitados no desenvolvimento de programas de Educação Ambiental, a serem executados em escolas da região, por exemplo, no sentido de assegurar que os impactos antrópicos à espécie, ao menos no que refere à sua matança desordenada e pouco justificada, sejam reduzidos, visto que este peixe compõe o valioso acervo biológico da Amazônia, e como tal, deve ser protegido.
Foto:
Um exemplar da espécie Lepidosiren paradoxa
Agradecimentos:
Às colegas, Cassia Cilene Santos Sousa, Soraya Chagas Monteiro e Sâmia Norrara, pela colaboração.
Sugestões de Leitura
BOGOTÁ-GREGORY, J. D.; MALDONADO-OCAMPO, J. A. Primer Registro de Lepidosiren paradoxa FITZINGER, 1837 en la Cuenca del Orinoco (PNN El Tuparro, Vichada, Colombia). Biota Colombiana, 7 (2): 301-304, 2006.
MONTEIRO, S. C.; ALMEIDA, D. F.; COSTA, L. A. L. Lepidosiren paradoxa en la percepción de residentes de palafitos de Macapá-AP, Brasil. In: 61a Reunião Anual da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência, 2009, Manaus. Amazônia: Ciência e Cultura, 2009.
PINHEIRO, L. Da ictiologia ao etnoconhecimento: saberes populares, percepção ambiental e senso de conservação em comunidade ribeirinha do rio Piraí, Joinville, Estado de Santa Catarina Acta Scientiarum. Biological Sciences Maringá, v. 26, no. 3, p. 325-334, 2004.