Análise Crítica do Livro “A menina que roubava livros” (The Book Thief, no original) do escritor australiano Markus Zusak
Markus Zusak
A idéia original do livro ambientava – se no presente, em Sidney, mas foi adaptada para a época da Alemanha nazista, pois o autor australiano Markus Zusak não se sentiu à vontade com a primeira perspectiva. No entanto, queria manter o contexto de um ladrão de livros, então hibridizou essa idéia. E para o autor, isso funcionou, visto que ele cresceu ouvindo relatos de seus pais da Alemanha nazista e Áustria. Essas histórias o fascinaram e foram o seu ponto de partida para escrever esse livro.
A menina que roubava livros
A Morte conta:
“É só uma pequena história, na verdade, sobre, entre outras coisas:
• Uma menina
• Algumas palavras
• Um acordeonista
• Uns alemães fanáticos
• Um lutador judeu
• E uma porção de roubos
Vi três vezes a menina que roubava livros.”
Na Alemanha nazista, a Morte executava um trabalho árduo, carregando milhares de almas, e impressionou – se com uma menina, a qual encontrou três vezes e em todas elas, a menina escapou. Comovida, a ceifadora de almas opta por contar a história dessa sobrevivente – Liesel Meminger, a roubadora de livros. A narração do percurso da menina começa quando o irmão caçula morre no colo da mãe e ela é deixada sob os cuidados de um acordeonista e sua esposa, que moravam na Rua Himmel.
O primeiro livro de Liesel chamava – se O manual do coveiro. A obtenção desse livro ocorreu de forma excepcional. Ele havia caído do bolso do coveiro que enterrara seu irmão, e estava perdido ali na neve, com palavras prateadas em seu interior. Ela o pegou e escondeu em sua mala, que acompanhou – a desde o início da sua vida na Rua Himmel. Este foi um dos vários livros que nortearam sua existência pelos quatro anos seguintes.
A Guerra
“Três meninos fizeram fila. Seus históricos escolares e seus corpos foram minuciosamente examinados.”
Esse trecho do livro denota a persistência dos nazistas de saírem vitoriosos da 2ª Guerra Mundial. Nessa altura do conflito, os alemães só se importavam em honrar a saudação nazista Heil Hitler. E, desse modo, até as crianças eram enviadas e ordenadas a lutar pela nação alemã.
A teoria da Morte
“As pessoas só observam as cores do dia no começo e no fim, mas, para mim, está muito claro que o dia se funde através de uma multidão de matizes e entonações, a cada momento que passa. Uma só hora pode constituir em milhares de cores diferentes — amarelos céreos, azuis borrifados de nuvens. Escuridões enevoadas. No meu ramo de atividade, faço questão de notá-los.”
A distração da Morte é observar as pessoas e acompanhá-las em suas curtas existências. No entanto, ela enxerga a sociedade como uma estrutura, que se prende numa falsa realidade, sem sede pelo conhecimento do mundo, pois estão presos em uma “caverna de Platão”.
Liesel e os livros
“Foi nos livros que Liesel viu a oportunidade de fugir daquilo tudo que a perseguia. Ela se esquecia do irmão morto com um olho aberto, no chão do vagão do trem (...)”.
No princípio de sua existência em Molching, na Rua Himmel, Liesel necessitou achar maneiras de “nascer de novo”, achar um sentido à sua vida. E, uma dessas formas foram os livros, alguns ganhos e achados, e a maioria roubada.
A cada livro, a roubadora de livros sentia uma precisão cada vez maior de decifrar e devorar todas aquelas páginas, só pelo gosto de estar mais próxima das palavras. Aquelas que lhe ofereceram experiência, subjetividade, conforto e um rumo à sua existência.
Essa sede pelo conhecimento levou – a um processo interminável de buscas e respostas, tornando – a consciente, e assim livre.
“Uma sobrevivente
Um acordeão quebrado
Um beijo tarde demais
Um livro perdido e devolvido em tempo.”
Considerações
“A menina que roubava livros” é uma história fascinante, pois além de ser narrada pela ceifadora de almas, é vista sob o ponto de vista de uma criança, que desde muito nova aprendeu a sofrer e encontrou conforto em um lugar incomum: as palavras. È um livro que mistura elementos como a amizade, a família, a sobrevivência, a confiança, a Segunda Guerra Mundial, e principalmente as pessoas. Além disso, possibilita a existência de seres humanos conscientes, livres e responsáveis.