Alienação

Quero, hoje, ser audacioso. Permitam-me tentar amenizar suas dores e subverter suas crenças. Não se desesperem se eu não conseguir. Haverá, certamente, algo que sustentará esse vácuo e os fará continuar. Não quero, entretanto, ser hipócrita. Quero somente ajudá-los a estar sem dor, mas já houve alguém que disse que o sofrimento, resultado da dor, é opcional. Espero que façam proveito dessa dádiva e desfrutem, no mínimo, de ser quem verdadeiramente são. Mesmo com dor, porém, sofrendo se fizerem questão...

Não sejamos (mais uma vez quero enfatizar) hipócritas. As verdades que nos dizem são meras atribuições de significados em busca de respostas (incoerentes, em minha opinião, em alguns casos) dos mistérios do mundo ou pura “maria vai com as outras”. A lei da maioria.

Nada existe. Tudo foi rasteiramente criado. Tudo se encaixa nas necessidades do mundo, nas nossas engenhosas necessidades e isso não é, portanto, somente estar ou participar de um vínculo social, mas ter que, obrigatoriamente, amar e usar roupas porque, simplesmente, as pessoas amam e usam roupas.

Durante o decorrer de nossa existência somos condicionados a fazer o que hoje, sistematicamente, chamaria por “destino”. Nós somos o nosso destino e, não somente o somos, mas o fazemos. É um ciclo infinito e virtuoso: fabricamos o que somos e somos o que fabricamos.

Ao pensar, de maneira irreal, lembro-me de uma pertinente história para a ocasião e, se me atrevo mais uma vez, perdoem-me, porém suponho um tanto norteador para, ironicamente, chegar onde pretendo. Entretanto não se surpreendam se acharam uma história vã. Sem mais:

“Havia uma esbelta garota de olhos cintilantes azuis. Ela já abrira os olhos para vida, claro. No entanto, somente abrir os olhos se tornou, naturalmente, um tanto quanto insuficiente e, por isso, ela viu o mundo e não somente o viu, mas andou no mundo e também, gradativamente, falou para as pessoas do mundo. Ver, andar e falar foram fazendo parte de um roteiro limitado e, como conseqüência, a linda garota de cabelos longos e lisos, escuros como um chocolate preto, necessitou ler o que as pessoas do mundo escreviam no mundo. E, por fim, por ver, andar, falar, ler e outros verbos infinitivos mais, ela, num dia não muito claro e nem tão escuro quanto seus lindos cabelos, foi obrigada a escolher. Então, ela não abriu os olhos para a vida somente. Ela, lisonjeada, nasceu.”

Pensar essa história me faz questionar sobre os valores que recebemos de nossos entes e o poder de transformação que têm em nossas vidas. É grandioso e pensável a influência que exercem sobre nossa personalidade, sobre quem somos e quem seremos. Dessa forma, portanto, somos o produto de nossos pais (isso não é novidade para ninguém, espero), somos, em partes, o que eles são e, é claro, me refiro a concepção de valores, significados, personalidades, escolhas e, também, verdades. Aqui queria chegar. Desculpem-me se tardei.

Verdades. Como pensar a verdade da palavra verdade? Será que dá para, pertinentemente, pensar nessa brusca definição? Será que o que é verdade para alguns é verdade para outros? O que é, por fim, verdade?

Questionar é uma das melhores formas de saber, suponho. Há ensinamentos, doutrinas, pessoas que insistem em “pregar” (entre aspas, viram?) uma “verdade” e, de certa forma, no decorrer do tempo, as pessoas são impregnadas dessa verdade e acabam fazendo de si mesmas verdadeiras marionetes que seguem uma verdade pregada que acaba tornando-se “a verdade de suas vidas”. Não as recrimino se são felizes assim. Quero realmente que sigam seus respectivos caminhos, mas quero que, antes, pensem se isso realmente faz sentido.

A influência significativa que isso gera na descendência é espetacular. O problema não é aceitar a verdade que pregam como sua verdade, mas é prevenir as pessoas de questionarem e tentarem seguir outro caminho. Agora, aqui, serei pretensioso, mas, em minha opinião, verdade cada um faz a sua, mesmo sabendo que verdade mesmo não há.

Portanto, se vocês, ainda, alienados sofrem com a verdade que pregam ser verdadeira, lembrem-se que verdade também sai da definição das coisas e, por isso, não passam de coisas criadas em busca de respostas, soluções ou até mesmo, verdades. Sim, criam verdades em busca de verdades.

Tudo o que somos gira em torno do que somos e, se somos uma verdade diferente da que pregam ser a “verdade verdadeira” sejamos então a “verdade não verdadeira”, pois ainda assim seremos e teremos algum tipo de verdade. Não é fácil, nem tão simples pensar que um caminho diferente é verdadeiro, porém, suponho ter sido incompatível com meus anseios continuar do jeito que estava, acreditando como se tudo fosse simples, normal e um aparente conto de fadas que, no fim, todos sairemos ilesos e viveremos eternamente felizes.

Esse é o peso de se viver num tempo (todos foram assim, confesso) e num lugar em que as verdades são ditadas através de estatística, política, interesses, comércio e, claro, dinheiro. No entanto, não quero que saiamos nas ruas sem vestes porque, simplesmente, todos usam vestes e queremos pregar outro tipo de verdade. Isso é, no mínimo, absurdo. Quero somente que as pessoas pensem e vivam. Não a verdade elitista de um sistema hipócrita que, diariamente, se contradiz, mas a verdade que cada um vê em si mesmo. Não a verdade que comete crimes contra a humanidade, que pune quem não condiz, que age como se tudo fosse simples, puramente para manter a ordem de um sistema alienado (às vezes, uma alienação obrigatória, outras por conseqüência, outras por escolha), mas a verdade que age a favor de ser quem somos: seres humanos livres de opinião e de pensamento. Até que se prove o contrário, claro.

Não sofram. Isso um dia tudo acaba, até essa verdade. Vivam simplesmente. Não buscando o mais curto ou fácil, mas buscando. Isso é importante, também. Crie suas verdades, mesmo sabendo (repito!) que verdades não há!

E se há verdades, desculpem-me. Pois eu nem sei se o que disse é verdade ou não. Pode não ser e, se não for, não se desesperem. Acharão algo que será.

No mais é só.

Alexandre Ferraz.