Reflexão sobre a importância da família na reconstrução do indivíduo
Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar aos educadores e demais interessados, a importância da família no processo de reconstrução do indivíduo, de estabelecimento de limites, bem como a construção da sua identidade objetivando um mundo melhor.
Palavras-chave: Família, Educação, Psicopedagogia, Pedagogia, Limites.
Todos temos a obrigação de educar, cada segmento social tem seu papel, a escola, o governo, a família, ma é em casa... através daqueles que nos educam e que inicialmente nos servirão de modelo, que irão se formar nossos princípios morais e éticos. (PINTO, 2003, p. 3)
Outro dia estava caminhando em direção ao trabalho observando sempre as mesmas coisas, muita gente caminhando pelo calçadão, outros parados á espera do “coletivo”, outras andando às pressas com destino ao trabalho, alguns tristes, outros alegres, alguns chegando da bebedeira, outros jogados ao relento pela desigualdade sócio-econômica. Devo dizer que fiquei preocupado com a quantidade de pessoas e comecei a refletir sobre o que cada um poderia estar pensando, a história de cada indivíduo e suas angústias.
Mas dentre essas tantas coisas, uma me chamou muita atenção. Uma mãe com seu filho, que provavelmente tinha uns seis anos, caminhando a passos ágeis, pareciam estar atrasados para algo, seja para o trabalho da mãe, seja para a escola do garoto, mas o que chamou mesmo atenção foi o diálogo entre os dois:
O menino todo angelical, com aquela voz que enche nossos ouvidos de emoção e alegria, vira-se para sua mãe e deixa ecoar de sua boca, uma palavrinha apenas:
- “Mãe!”
E a mãe docemente e com a delicadeza que só uma mãe tem, responde:
- “Oi, meu filho!”
E o diálogo prosseguiu. Infelizmente não tive tempo de continuar ouvindo o diálogo poético entre mãe e filho, mas só isto bastou para o meu dia tornar-se ainda mais reflexivo, sobre o poder do vocativo “Mãe!”, no sentido sentimental que gira em torno deste sintagma. Mais ainda fez-me refletir sobre a verdadeira influência da família na reconstrução da sociedade.
Parecia até um conto de fadas, Eu ouvindo aquilo!
Quem diria que um mundo cheio de violência, brigas, guerras, desencontros e de busca excessiva e ambiciosa pelo poder poderia ser abafado por essas simples frases. De repente, num lapso de felicidade momentânea me tele-transportei para um mundo mais humano, onde as pessoas só estão preocupadas pelo que as outras são e não com o que têm.
Na doce palavra de um garoto está a esperança de que podemos ser melhores, a cada dia, a cada momento. Estamos sempre procurando felicidade nos outros não nos importando sobre quem somos, o que somos e buscando resposta para a pergunta que não cala: para quê estamos neste mundo? Somos felizes baseados no que os outros pensam de nós, independente da nossa individualidade, do que somos realmente e independente da nossa felicidade.
Deixai vir a mim os pequeninos! Agora sabemos por que algumas pessoas têm vontade de nunca crescerem, de serem sempre crianças e terem a humildade e sensibilidade das mesmas.
Escolarizando esta situação, é inegável que precisamos urgente de educadores que trabalhem a questão humana da educação com nossos “pequeninos”, precisamos deixar de lado a mercantilização da educação conteudista e partirmos do pressuposto de que estamos trabalhando com seres humanos que são verdadeiras obras divinas e de inspiração invejável. Moldamos esses seres como quem molda um jarro-de-barro, como quem faz surgir de um simples pedaço de madeira uma escultura bela e minuciosa. Tudo isso conforme nós queremos, da nossa forma, do nosso jeito...
A família, a escola e todos os segmentos sociais estão educando as crianças e jovens para operar computadores complexos, máquinas de última geração, mas jovens que não sabem criticar suas próprias idéias, repensar sua história e discutir seus problemas. Os seres humanos estão destruindo sua capacidade de se interiorizar, como diz Augusto Cury (2004, p. 116), “se o mundo nos abandona, a solidão é suportável; se nós mesmos nos abandonamos, é insuportável”.
Adquirimos diplomas para atuar no mundo de fora, mas somos frágeis para liderar o mundo psíquico. Temos tendência em ser gigante no mundo profissional, mas meninos no território das emoções e dos pensamentos. (CURY, 2004, P. 77)
Nosso mundo precisa de pessoas mais tolerantes. Nesse sentido, Freire (1993) revela que:
A tolerância é a virtude que nos ensina a conviver com o diferente. A aprender com o diferente, a respeitar o diferente... O ato de tolerar implica o clima de estabelecimento de limites, de princípios a serem respeitados. (FREIRE, 1993, p. 59)
E quando falamos em limites, não estamos dizendo precisamente de imposição de limites, mas sim de limites auto-reflexivos, onde pais, educadores e sociedade incitam nas crianças o ato de refletir a relação do que se pode e do que não se pode, das conseqüências de nossas escolhas. No mundo onde há uma confusão entre estabelecimento de limites e agressão moral, onde educar o filho resume-se a dar-lhe o que é preciso, ou às vezes, desnecessário, onde as crianças estão em depressão por terem tudo o que querem, no mundo onde o ter vale mais do que o ser, ainda temos pessoas que acreditam que limite é imprescindível para a educação humana de nossas crianças. Souza (2003) nos diz que:
Os pais podem - e devem! – não admitir certos comportamentos dos filhos, desde muito pequenos. Podem - e devem!- punir, repreender, impor condições, mesmo que isso signifique um certo nível de sofrimento para os filhos. Educar dá trabalho, e nem sempre é tudo um mar de rosas. O importante é punir, repreender, impor, etc., com justiça, com firmeza e com intenção genuína de acertar. (SOUZA, 2003. P. 2)
Quando ouvimos na boca de uma singela criança a palavra “Mãe”, nos enche de esperança de que este mundo de mensalinhos, mensalões, quinzenalzinho, de rebeliões, de tiroteios, de polícia matando, de governante corrupto, de guerras, conflitos e desrespeito, ainda pode ser um mundo melhor, onde as pessoas se reconstruam enquanto crianças sinceras e humanas, onde todos viverão não de forma igualitária, pois somos indivíduos, mas pelo menos de forma respeitadora das diferenças.
Dá-nos a esperança de que no país do carnaval, das mulatas faceiras, da folia de reis, do futebol Penta campeão, de uma poesia reflexiva, de gente humilde, de mulherões, de uma Copacabana cheia de graça, da mulher de Ipanema, do povo que sorri e se alegra mesmo que sobre-vivendo, seja realmente o Brasil de todos, pela gente brasileira.
Parafraseando Drummond, Êta vida besta meu Deus!
Referências:
PINTO, M.A.L. Meu filho vai ser. Disponível em: Acesso em 20 set. 2003
FREIRE, Paulo. Professora si, tia não-Cartas a quem ousa ensinar. 23 ed. São Paulo: Olho d’água, 1993.
CURY, Augusto. Seja líder de si mesmo – O maior desafio do ser humano. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
SOUZA, C.M.M. O que fazer na educação de nossos filhos? Disponível em: Acesso em 20 set. 2003.
Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar aos educadores e demais interessados, a importância da família no processo de reconstrução do indivíduo, de estabelecimento de limites, bem como a construção da sua identidade objetivando um mundo melhor.
Palavras-chave: Família, Educação, Psicopedagogia, Pedagogia, Limites.
Todos temos a obrigação de educar, cada segmento social tem seu papel, a escola, o governo, a família, ma é em casa... através daqueles que nos educam e que inicialmente nos servirão de modelo, que irão se formar nossos princípios morais e éticos. (PINTO, 2003, p. 3)
Outro dia estava caminhando em direção ao trabalho observando sempre as mesmas coisas, muita gente caminhando pelo calçadão, outros parados á espera do “coletivo”, outras andando às pressas com destino ao trabalho, alguns tristes, outros alegres, alguns chegando da bebedeira, outros jogados ao relento pela desigualdade sócio-econômica. Devo dizer que fiquei preocupado com a quantidade de pessoas e comecei a refletir sobre o que cada um poderia estar pensando, a história de cada indivíduo e suas angústias.
Mas dentre essas tantas coisas, uma me chamou muita atenção. Uma mãe com seu filho, que provavelmente tinha uns seis anos, caminhando a passos ágeis, pareciam estar atrasados para algo, seja para o trabalho da mãe, seja para a escola do garoto, mas o que chamou mesmo atenção foi o diálogo entre os dois:
O menino todo angelical, com aquela voz que enche nossos ouvidos de emoção e alegria, vira-se para sua mãe e deixa ecoar de sua boca, uma palavrinha apenas:
- “Mãe!”
E a mãe docemente e com a delicadeza que só uma mãe tem, responde:
- “Oi, meu filho!”
E o diálogo prosseguiu. Infelizmente não tive tempo de continuar ouvindo o diálogo poético entre mãe e filho, mas só isto bastou para o meu dia tornar-se ainda mais reflexivo, sobre o poder do vocativo “Mãe!”, no sentido sentimental que gira em torno deste sintagma. Mais ainda fez-me refletir sobre a verdadeira influência da família na reconstrução da sociedade.
Parecia até um conto de fadas, Eu ouvindo aquilo!
Quem diria que um mundo cheio de violência, brigas, guerras, desencontros e de busca excessiva e ambiciosa pelo poder poderia ser abafado por essas simples frases. De repente, num lapso de felicidade momentânea me tele-transportei para um mundo mais humano, onde as pessoas só estão preocupadas pelo que as outras são e não com o que têm.
Na doce palavra de um garoto está a esperança de que podemos ser melhores, a cada dia, a cada momento. Estamos sempre procurando felicidade nos outros não nos importando sobre quem somos, o que somos e buscando resposta para a pergunta que não cala: para quê estamos neste mundo? Somos felizes baseados no que os outros pensam de nós, independente da nossa individualidade, do que somos realmente e independente da nossa felicidade.
Deixai vir a mim os pequeninos! Agora sabemos por que algumas pessoas têm vontade de nunca crescerem, de serem sempre crianças e terem a humildade e sensibilidade das mesmas.
Escolarizando esta situação, é inegável que precisamos urgente de educadores que trabalhem a questão humana da educação com nossos “pequeninos”, precisamos deixar de lado a mercantilização da educação conteudista e partirmos do pressuposto de que estamos trabalhando com seres humanos que são verdadeiras obras divinas e de inspiração invejável. Moldamos esses seres como quem molda um jarro-de-barro, como quem faz surgir de um simples pedaço de madeira uma escultura bela e minuciosa. Tudo isso conforme nós queremos, da nossa forma, do nosso jeito...
A família, a escola e todos os segmentos sociais estão educando as crianças e jovens para operar computadores complexos, máquinas de última geração, mas jovens que não sabem criticar suas próprias idéias, repensar sua história e discutir seus problemas. Os seres humanos estão destruindo sua capacidade de se interiorizar, como diz Augusto Cury (2004, p. 116), “se o mundo nos abandona, a solidão é suportável; se nós mesmos nos abandonamos, é insuportável”.
Adquirimos diplomas para atuar no mundo de fora, mas somos frágeis para liderar o mundo psíquico. Temos tendência em ser gigante no mundo profissional, mas meninos no território das emoções e dos pensamentos. (CURY, 2004, P. 77)
Nosso mundo precisa de pessoas mais tolerantes. Nesse sentido, Freire (1993) revela que:
A tolerância é a virtude que nos ensina a conviver com o diferente. A aprender com o diferente, a respeitar o diferente... O ato de tolerar implica o clima de estabelecimento de limites, de princípios a serem respeitados. (FREIRE, 1993, p. 59)
E quando falamos em limites, não estamos dizendo precisamente de imposição de limites, mas sim de limites auto-reflexivos, onde pais, educadores e sociedade incitam nas crianças o ato de refletir a relação do que se pode e do que não se pode, das conseqüências de nossas escolhas. No mundo onde há uma confusão entre estabelecimento de limites e agressão moral, onde educar o filho resume-se a dar-lhe o que é preciso, ou às vezes, desnecessário, onde as crianças estão em depressão por terem tudo o que querem, no mundo onde o ter vale mais do que o ser, ainda temos pessoas que acreditam que limite é imprescindível para a educação humana de nossas crianças. Souza (2003) nos diz que:
Os pais podem - e devem! – não admitir certos comportamentos dos filhos, desde muito pequenos. Podem - e devem!- punir, repreender, impor condições, mesmo que isso signifique um certo nível de sofrimento para os filhos. Educar dá trabalho, e nem sempre é tudo um mar de rosas. O importante é punir, repreender, impor, etc., com justiça, com firmeza e com intenção genuína de acertar. (SOUZA, 2003. P. 2)
Quando ouvimos na boca de uma singela criança a palavra “Mãe”, nos enche de esperança de que este mundo de mensalinhos, mensalões, quinzenalzinho, de rebeliões, de tiroteios, de polícia matando, de governante corrupto, de guerras, conflitos e desrespeito, ainda pode ser um mundo melhor, onde as pessoas se reconstruam enquanto crianças sinceras e humanas, onde todos viverão não de forma igualitária, pois somos indivíduos, mas pelo menos de forma respeitadora das diferenças.
Dá-nos a esperança de que no país do carnaval, das mulatas faceiras, da folia de reis, do futebol Penta campeão, de uma poesia reflexiva, de gente humilde, de mulherões, de uma Copacabana cheia de graça, da mulher de Ipanema, do povo que sorri e se alegra mesmo que sobre-vivendo, seja realmente o Brasil de todos, pela gente brasileira.
Parafraseando Drummond, Êta vida besta meu Deus!
Referências:
PINTO, M.A.L. Meu filho vai ser. Disponível em: Acesso em 20 set. 2003
FREIRE, Paulo. Professora si, tia não-Cartas a quem ousa ensinar. 23 ed. São Paulo: Olho d’água, 1993.
CURY, Augusto. Seja líder de si mesmo – O maior desafio do ser humano. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
SOUZA, C.M.M. O que fazer na educação de nossos filhos? Disponível em: Acesso em 20 set. 2003.