VISÃO DO MORRO X VISÃO DE MORRO

A mídia veicula diariamente notícias relacionadas à violência, isto inclui assuntos diversos como assassinatos, roubos, tráfico de drogas,etc.

Em sua grande maioria, no que se refere à violência decorrente do tráfico de drogas, há sempre um apontamento para o seu berço: comunidades carentes.

Com um olhar mais profundo, além do que a TV exibe, podemos notar traços de preconceitos em pessoas socialmente civilizadas e mesmo que inconscientemente, estes lugares assolados pela pobreza,acabam levando sobre si as responsabilidades das mazelas urbanas.

Agora, vejamos o outro lado da moeda.Se a situação já é difícil para os que moram em favelas construidas em terrrenos planos, piora em muito aos que moram em ''morros''.

Que se entenda este artigo como um protesto contra toda espécie de discriminação e preconceitos desferidos contra seres humanos que desprovidos de recursos financeiros suficientes,não tiveram outra escolha a não ser construir seus ''barracos'', como dizem alguns pertencentes ao ''asfalto'', num morro. Em Geografia, este termo é apenas ''pequena elevação do terreno'' , porém ganhou uma conotação preconceituosa, quando se trata habitat.

A favela (morro), é vista como lugar de alta periculosidade e ninho de bandidos, bem como toda espécie de marginais.Aqui abre-se um espaço para concordância : os próprios moradores sentem-se marginalizados, literalmente.

Atentem para a dura realidade na qual eles estão inseridos.A seguir,situações verídicas onde os protagonistas são moradores de ''um morro''.

O direito de ''ir e vir'' é um tanto quanto desumano: faltam meios de transporte ( que se chame atenção aqui para a lei da gravidade), principalmente com sacolas atreladas ao corpo.Não ficam de fora nem as pessoas idosas que ali passaram suas vidas,muito menos os que possuem deficiência física nos membros inferiores.

Quando estão contruindo uma ''casinha'' e falta dinheiro,tendo apenas o sufuciente para um saco de cimento, nenhuma loja o entrega, tarefa esta que o morador faz contra a ''lei da gravidade''.

Escadas mal feitas, geralmente à época de eleições, são enfeitadas por matos e lixos, pois ali não exige o mesmo rigor dispensado aos moradores do ''asfalto''.

Vielas e ruas esburacadas ,isto em terreno inclinado (ladeira), torturam em dias de chuva.Para piorar o quadro, porcos passeiam livremente entre os moradores. E a saúde pública, através do setor de zoonoses, mesmo sendo comunicada,faz vista grossa.

Imensos matagais crescem às margens de terrenos baldios.

Passar mal de madrugada ou simplesmente fazer compras à noite, se não possuir um automóvel - nem pensar!! Taxistas não sobem após o escurecer.Muitos negam ir até durante o dia.

Lazer? Inexistente neste local , leva-nos a crer que, para os governos, o tráfico é a diversão dos favelados.

Creches, escolas de qualidade com ensino digno - pra quê? Esta parcela da sociedade em nada contribui para o progresso.Não pagam impostos, não podem reinvindicar nada.

Água, item fundamental para a sobrevivência! Tentem imaginar de 3 a 4 semanas sem abastecimento regular...pessoas de todas as idades, tendo que se virar,carregando vasilhas de água,contra a ''lei da gravidade''.

Se a energia elétrica é interrompida por conta de chuvas ou outro motivo qualquer,é um ''Deus nos acuda'', lá a maioria tem ''gatos'' na rede,não podem ligar para reclamar na companhia responsável pelo fornecimento local.O problema é que também existem os honestos pagantes que sofrem os danos, como se fossem farinhas do mesmo saco.O prazo de até 48 horas para a sociedade digna, é violado neste lugar,levando até 72 horas quando se faz necessário uma religação.

Assinantes de telefonia fixa, mesmo con suas contas em dia, ficam à mercê de funcionários mercenários, e estes só entregam a lista de assinantes se rolar uma propina, caso contrario nem sequer procuram o cliente.

Com relaçao aos correios, que os usuários se virem pra procurar suas correspondências deixadas com vizinhos.Quando se trata de sedex, é um terror!!!Mentem descaradamente nas embalagens que os destinatários não estão em casa,mesmo que o morador trabalhe em sua própria residência e esteja todos os dias em casa.

Problemas e dificuldades são os mais diversos.

Urge que se abram os olhos para enxergarem que no morro ainda existem pérolas,as quais são formadas a partir de grande sofrimento de seus moradores.Estas, tomam formas a partir de pessoas honestas que não se contaminam com a minoria que denigre a imagem do local.

Famílias que diante das dificuldades conseguem arrumar tempo para estar com seus filhos.Que desejam-lhes um futuro melhor ,porque amam profundamente.Se preocupam com o filho da vizinha,que saiu cedo pra trabalhar.

Gente que sabe fazer amizade , ultrapassando as barreiras do preconceito.

Crianças ainda brincam de bola e vêem no futebol uma possiblidade de dias melhores, almejando galgar a mesma posição de seu ídolo.

Jovens possuidos de grandes habilidades e infelizmente faltam oportunidades para sua projeção,por conta da cor ou ausencia de qualificações às quais não têm acesso.

Senhores e senhoras que estampam um sorriso no rosto, mesmo quando faltam dentes, continuam sonhando com sua casa, que nunca conseguiu concluir - talvez seus filhos consigam! A eles resta o dissabor de ouvirem dizer que moram num ''barraquinho''.

Como o dinheiro é sempre escasso, uns poucos conseguem separar uns trocados e levar a família ( em se tratando de 2 filhos - aos que tem mais de 2, isto é impossível ) pra saborear uma pizza, pois ali não podem se dar ao luxo de pedirem uma pizza em casa - não entregam.

Diante do exposto até aqui, ainda que sejam apenas sombras de inúmeras situações verídicas / reais, ainda haverá lugar para uma visão deturpada pela mídia e embaçada por preconceitos?

Este texto é para meditação:até onde somos influenciados ou exercemos nossa consciência crítica diante do que despejam sobre nós, por meio da telinha luminosa.

Alessandra Borges
Enviado por Alessandra Borges em 11/05/2009
Código do texto: T1588654
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