Minha viagem pelo Marrocos começa ainda em Ceuta, cidade espanhola que fica em território africano e faz fronteira com Tétouan. Foi em Ceuta que eu conheci Ahmed, um motorista mulçumano e sua Mercedes Benz 1978 Diesel. Por 50 Euros ao dia Ahmed prometeu (e cumpriu) me levar a Rabat e Marrakesh; na verdade eu e Ahmed fomos pra lá de Marrakesh cerca de 10 km, para não ter que dizer que jamais fui “pra lá de Marrakesh”.
A estrada é muito boa em uma parte da viagem, depois ela se torna absurdamente parecida com as nossas estradas brasileiras. A Mercedes de Ahmed, embora muito velha, cumpriu bem a viagem que teve direito a bandeira da ONU na frente e bandeira do Brasil no capô, apenas para nossa melhor segurança.
De Ceuta a Tétouan são 30 km por uma rodovia que passa por vários lugares bem habitados e onde podemos observar o maior contraste entre os muito pobres e os muito ricos do Marrocos.
PRIMEIRO DIA
Tétouan
Na tradução berbere Tétouan significa “olhos” e isso não ocorreu por acaso; esta cidade charmosa marroquina é o único porto mediterrânico do país e fica numa pontinha do mapa africano, querendo se aproximar com a Europa, ou simplesmente, olhando o mapa europeu.
Na cidade há pouco mais de 300 mil habitantes e dentro dela o famoso, charmoso e curioso sítio Medina de Tétouan, uma fortaleza milenar que abriga várias casinhas, comércios, mesquitas e ruas, muitas ruas estreitas. Dentro da muralha pode se encontrar de tudo, de restaurantes à açougues, de lojas de roupas até farmácias típicas.
É divertido e cultural estar e passear por Tétouan; nos arredores há camelos que servem de montaria, regiões que já inspiram os desertos africanos e com um pouco de sorte, pode-se até observar as caravanas dos povos nômades do Marrocos, que perambulam pelos desertos com suas tendas e suas magias.
Por estar muito próxima da Europa, Tétouan possui inúmeros atrativos para os turistas; as lojas de artesanato são como uma febre, nelas você pode comprar desde roupas árabes, tapetes caríssimos até portas de madeira maciça entalhadas, um dos magnetismos das fachadas das casas marroquinas.
O artesanato em Tétouan não foge a regra mundial, se você se abobar, vai pagar pelo menos 15 vezes mais o que custa de fato. Eu quis comprar um chambre árabe (espécie de vestido para os homens), numa loja me pediram 100 Euros, já nas ruas eu paguei pelo mesmo artigo 10 Euros; na mesma linha eu vi um tapete numa loja que custava 90 mil Euros, cerca de 300 mil reais; o vendedor me disse que caso eu o comprasse que ele mandaria em segurança para o Brasil, fiquei apenas com o chambre que comprei no meio da rua.
A comida do lugar é uniforme as outras cidades marroquinas; existe Mac Donald e Pizza Hut na cidade, mas eu não vi uma única alma viva comprando nada; restaurantes típicos são muitos e o melhor deles está dentro das muralhas da cidade, na cidade sagrada; o Palace Bouhlal foi construído por volta do ano 1300. Em Palace Bouhlal podemos comer bem ao som da música árabe e shows típicos com muita pirotecnia e a média de preço é uniforme, cerca de 15 Euros por pessoa sem incluir a gorjeta.
Em Tétouan eu não vi muitos hotéis; segundo informações, poucas pessoas costumam permanecer na cidade, dando preferência a visitação rápida e voltando de balsa para a Europa, mas dois hotéis me chamaram a atenção; um pelo preço baixo o El Yacouta ( 35 Euros a diária) e o Softel Marina Shimir, onde eu fiquei. O Marina Shimir é uma construção de muita beleza e um visual do Mediterrâneo que poucas vezes tive a oportunidade de enxergar. Um pouco caro, cerca de R$ 350,00 a diária, mas o luxo e o serviço de alto padrão valem a pena um pouco mais de esforço.
 
No SEGUNDO DIA saímos de Tétouan à Rabat, que são mais 330 km percorridos em 6,5 horas devido às paradas obrigatórias e as não previstas. Uma barreira policial no meio do caminho me fez tantas perguntas que eu já estava imaginando que seria preso. Eles não estavam se importando com a viagem, mas queria saber tudo sobre o Brasil e um deles chegou a escalar a seleção de futebol brasileira inteira de 1982, aquilo foi incrível! Finalmente chegamos a Rabat, capital do Reino do Marrocos!
Rabat – Capital
Rabat é uma cidade encantadora, com inúmeros monumentos históricos onde o destaque é para o mausoléu do Rei Mohamed V; a arquitetura que deixa os que vivem no Brasil, de queixo caído pela sua beleza e esplendor. Em todos os cantos o que se observa são construções finamente acabadas com o mais puro toque árabe.
Em Rabat vivem quase 2 milhões de pessoas; o trânsito é confuso e só não foi desconfortável para mim por causa dos serviços de Ahmed, meu guia e motorista que encontrei em Ceuta, na Espanha.
Existem bons e razoáveis hotéis, cada um com uma característica própria e preço que vai do muito barato ao muito caro; o que definirá o local aonde você irá se hospedar é exclusivamente o seu bolso e sua necessidade real. Alguns hotéis não possuem serviço de internet, outros possuem e cobram; outra questão interessante é que os hotéis às vezes não possuem estacionamento, mas seu carro pode ficar na rua sem o menor problema. O meu destaque é:
Hotel Assam - este hotel reúne algumas características confortáveis e seu preço, em relação aos da mesma categoria, é incrivelmente baixo, cerca de R$ 200,00 a diária; se você interessar em ficar sete dias o preço cai absurdamente.
Os apartamentos são confortáveis e possuem internet via wireless gratuito; a recepção é 24 horas (alguns hotéis não são); possui estacionamento gratuito (algo raro também) e até se pode tomar um banho turco de excepcional qualidade. A arquitetura e o restaurante são típicos do Marrocos.
 
Muito embora a aparência seja pobre e as pessoas se apresentem de forma humilde, no Marrocos eu não vi nenhum problema com a segurança pública; não vi nenhum furto ou assalto e circulei tranquilamente com minha câmera que é tem um preço e aparência fora do convencional.
 
Comer no Marrocos é uma tarefa das mais prazerosas e curiosas; existem centenas de locais para se comer tudo que eles oferecem de bom; eu comi várias vezes o cuscuz marroquino, que é uma mistura de verduras, carne de franco cozida e sêmola (flocos de milho). Come-se um prato de cuscuz marroquino em um bom restaurante por cerca de R$ 45,00, com direito a entrada (sopa), espetinhos de carne vermelha feitos na brasa e coca-cola árabe.
 
Um dia inteiro em Rabat já deu para eu ter uma noção do que eu encontraria na etapa seguinte. Em meu TERCEIRO DIA NO MARROCOS Ahmed me conduziu a Marrakesh, cidade mais linda do país, mas no meio do caminho, ninguém menos que ela, a mais comentada entre todas desde a filmagem célebre; Casablanca que foi cenário para um dos maiores clássicos do cinema e que imortalizou de vez o lugar. Eu tive que escolher entre Marrakesh e Casablanca, pois não tinha tempo, então escolhi Marrakesh.
 
Foram mais 310 km de estrada ruim; estávamos deixando à costa do Atlântico para nos entranhar no interior do Marrocos. O radiador da Mercedes bebia mais água do que o motor bebia diesel, mas conseguimos chegar à total segurança.
 
Finalmente eu cheguei à jóia do Marrocos; a mais mística e visitada cidade daquele país. Nos mercados se vende de tudo, nas ruas encontrei encantadores de serpentes e vendedores de chá, que, aliás, é uma delícia e divinamente árabe. Pode ser ver rapidamente os tapetes fenomenais pendurados por todos os lados e o cheiro das iguarias parece que toma conta de todo o ar de Marrakesh.
 
A cidade foi fundada por volta do ano 1000, mas oficialmente ela está registrada como sendo do ano de 1062; é sem dúvida alguma a mais marroquina de todas as cidades. Dela, o lugar que mais me encantou foi a Praça Jemaa El-Fna, desta praça eu consegui incorporar o mais puro som que saía dos minaretes chamando o povo os islã para suas cinco orações diárias. Não sei traduzir ao certo, mas por alguns instantes eu me senti um mulçumano e até pretendi agir como eles agiram naqueles momentos. O curtume da cidade, ao ar livre e odores fortes, pode parecer de início um verdadeiro inferno, mas não é; o local onde os marroquinos curtem seus couros há séculos deixa as claras uma cultura milenar, que sobreviveu as tecnologias e pelo visto, sobreviverá por mais mil e alguns anos.
 
Tudo em Marrakesh é lindo, até mesmo a parte menos glamorosa; a imensidão de ruelas da Medina é impossível não lembrar Tétouan, inclusive à muralha; muito embora ela esteja numa região árida e quase estéril existem inúmeros jardins nos palacetes e algumas praças e ao redor da cidade, locais que lembram oásis com palmeiras protegendo fontes de água cristalina.
 
A viagem foi cansativa, mas não tanto que me fizesse desistir de andar, conversar com as pessoas e me deslocar de um ponto ao outro de Marrakesh através do trânsito louco com milhares de mobiletes. Comer apenas alguma coisa é impossível, em Marrakesh se come bem em todos os lugares, mas nas ruelas da Medina, com certeza se come melhor.
 
No entardecer deste terceiro dia eu me despedi de Ahmed, mas antes, Ahmed teve que me levar uns 10 km depois de Marrakesh, apenas para eu poder dizer que eu fui “pra lá de Marrakesh”; ele voltaria sozinho à Tétouan e eu retornaria de avião para que o tempo se adequasse a minha viagem. Eu fiquei hospedado no Kenzi Menara Palace, pertinho da Praça Jamaa El-Fna, um 5 estrelas inaugurado recente e com uma estrutura que daria inveja no mais requintado sultão das arábias. Eu posso afirmar que a única noite que fiquei neste hotel me valeu por mil e uma noites...!
 
O preço não foi tão baratinho, mas no meu caso, todos os hotéis do Marrocos me foram ofertados como brinde pelo cartão de crédito Bradesco Visa Infinity através de resgate de bônus, portanto, eu só precisei saber dos valores para poder informar aos amigos e leitores.
 
Na manhã seguinte, que quase não dormi, voltei a Tétouan de avião e encerrei minha viagem pela África, no Marrocos sensacional, de povo agradável e amigo e seus encantos árabes e sua magia eclesiástica que somente se vê naquelas bandas africanas. Ao final eu permaneci triste porque fiquei apenas uma noite, mas uma noite que valeu por mil e outras também!
 
DICAS IMPORTANTES:
a) Cuidado com seu passaporte. Em algumas fronteiras eles observam muito o passaporte, principalmente se você possui visto de países como os Estados Unidos.
b) No Marrocos pelo menos você precisa falar um bom espanhol, se não falar inglês, francês e espanhol apurado, é melhor contratar um guia.
c) Não pense que sabe tudo e não vá dirigir sozinho; se a polícia te parar você poderá ter dores de cabeça por causa da língua difícil de compreender, portanto, prefira ir de taxi pelas ruas de qualquer cidade marroquina.
d) Eles aceitam mais o Euro e o Dólar do que a sua própria moeda o Dirham (se pronuncia DIRRAM).
e) De Lisboa até as principais cidades marroquinas há vôos regulares operados pela TAP e dentro do Marrocos a Cia aérea marroquina também oferece vôos regionais por preços baixos.
f) Não saia do Marrocos sem beber o chá árabe típico. Sente numa casa de chá e beba-o com demasia, pois é bom, refresca e faz bem a saúde. O café turco também é largamente servido.
g) Jamais peça as mulheres com véu sobre a cabeça para tirar fotos, da mesma forma que jamais aponte uma câmera para um policial fardado sem antes solicitar a permissão dele. Mulheres com véu e policiais em serviço não costumam gostar de serem fotografados.
h) Se conhecer uma mulher, jamais a beije na face; algumas delas podem se sentir ofendidas!
i) Jamais compre algo nas ruas, tipo artesanato, sem barganhar no preço.
j) Evite usar seu cartão de crédito em qualquer lugar.
k) Procure saber sobre o clima da época em que for visitar o Marrocos. Algumas estações são muito frias e outras muito quentes.
l) O Marrocos não exige visto de nós brasileiros, apenas passaporte válido por no mínimo 06 meses e pelo menos uma página em branco para os carimbos de entrada e saída.
 
Algumas pessoas podem estar perguntando: e o preço médio de uma viagem de uma semana (sete dias) para o Marrocos, quanto custa esta aventura?
 
De Belo Horizonte à Lisboa (com a volta), pela TAP, a passagem fica em torno de R$ 2.300,00; reserve para a hospedagem R$ 2.000,00; mais R$ 1.000,00 para a alimentação; reserve cerca de R$ 1.000,00 para gorjetas, taxas, pedágios, estacionamentos e outras despesas pequenas e finalmente, eu fiz o percurso de Portugal até a África de carro (AVIS) e paguei R$ 1.200,00 pelo aluguel de um bom carro utilizando os benefícios da tarifa TAP. Quem me levou: Real Turismo (31) 3245.7090; alem de ter me levado também me prestou todos os auxílios pela Europa. Alguns pacotes podem ser encontrados mais baratos, entretanto, não oferecem este tipo de roteiro.
 
Finalmente, concluímos que uma semana entre Portugal, Espanha e Marrocos, incluindo a passagem aérea, custará para um brasileiro que não queira esbanjar algo em torno de R$ 7.500,00. Alguns destes valores podem ser divididos em 10 vezes (avião e carro). Pode parecer caro, mas se você puder um dia fazer isso, com certeza jamais esquecerá.
 
Depois disso é arrumar as malas e boa viagem e quem desejar alguma informação que não esteja publicado, sinta-se a vontade para enviar e-mails.
 
 
CARLOS HENRIQUE MASCARENHAS PIRES


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Enviado por CHaMP Brasil em 10/05/2009
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