Leões, hipopótamos, Girafas e Outros Animais da Fauna Amapaense.


Que a Amazônia é a uma das regiões mais ricas em biodiversidade do mundo não é novidade pra quase ninguém. Tanto que, no Amapá, a fim de proteger essa riqueza natural, têm sido criadas inúmeras áreas protegidas. Porém, sou obrigado a fazer o seguinte questionamento: Será que a população como um todo, em especial a urbana, conhece de fato, a fauna amapaense? Como diria o ilustre Paleontologista Stephen Jay Gould (falecido em 2002): para proteger a natureza, é preciso amá-la. Complemento dizendo que, para amar a fauna do Amapá, é preciso conhecê-la, já que dificilmente alguém amaria aquilo que não conhece!

Logicamente, moradores de comunidades rurais interagem mais com o entorno natural, inclusive com animais silvestres, como tatus, onças, macacos, iguanas, preguiças, etc. Diversos estudos etnobiológicos têm mostrado como essas populações conhecem detalhadamente a fauna com a qual interagem, já que se pressupõe que a dinâmica das interações do homem com a natureza expressa sua cultura.

Nos centros urbanos, como a cidade de Macapá, que já conta com mais de 350 mil habitantes, a convivência da população com animais silvestres é menos expressiva, embora sejam conhecidos os casos de ataques de onças às criações de quilombolas do Curiaú (a 8 km da capital), ou o avistamento de lontras em áreas alagadas de bairros mais distantes. Igualmente freqüente é a captura de iguanas de mais de 1.5m nas redondezas da cidade (há pelo menos 10 anos, esta espécie poderia ser encontrada até em palmeiras de bairros centrais).

Seria o maior distanciamento dos centros urbanos com a natureza uma desculpa para que esta população desconheça a fauna local? Penso que não. Uma das principais funções da escola é o ensino do conhecimento científico, seja na zona urbana ou rural, o que não exclui a possibilidade de interação entre os saberes acadêmicos  e os saberes locais, claro.

No Amapá, há inúmeros grupos de pesquisa cujas linhas se dedicam à fauna local. Porém, a divulgação desses estudos permanece restrita aos ambientes acadêmicos e revistas especializadas, e quase nunca chegam ao conhecimento da população em geral (pelos meios de comunicação de massa, por exemplo), mas especialmente nas escolas, seja pela atuação direta dos próprios professores, seja por palestras proferidas pelos pesquisadores.

É razoável supor que há um grande desconhecimento da fauna silvestre amapaense, por parte do alunado de ensino público das cidades, como a capital, Macapá, como bem ilustra um estudo em que alunos matriculados no ensino fundamental de uma escola estadual foram solicitados a citar nomes de animais da fauna amapaense. Os mais citados foram os domésticos (como cão, gato, vaca, cavalo, burros, jumentos). O animail silvestre mais lembrado foi o macaco. Ademais, espécies inexistentes na fauna silvestre amapaense foram citadas, como leões, hipotótamos e girafas.

Embora o estudo tenha sido levado a cabo em uma escola, esses resultados são, possivelmente, comuns à maioria das escolas locais, onde, muitas vezes o ensino ocorre de forma descontextualizada (há maior valorização da fauna de outras regiões, como África, Ásia e Europa), com professores que carecem de suporte científico para abordagens mais eficientes e falta de interesse (ou seria de estímulo?) da comunidade científica de fazer parcerias com as escolas para levar tal conhecimento a este público, visto que o Homem, justamente por ser o agente principal das modificações ambientais, também é o alvo dos programas educativos ambientais, para fins de sensibilização e posterior conscientização.


Agradecimentos:
A Jorge Angelo Simoes Malcher, pela colaboração.

Sugestões de Leitura

MALCHER, J. A. S. ; COSTA, L.AL.; ALMEIDA, D. F . El conocimiento popular de los estudiantes de una escuela primaria de la Amazonía brasileña sobre la fauna del Estado de Amapá. In: 61a Reunião Anual da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência, 2009, Manaus. Amazônia: Ciência e Cultura, 2009.

RAZERA, J. C. C.; BOCCARDO, L.; PEREIRA, J. P. R. Percepção sobre a Fauna em Estudantes Indígenas em uma Tribo Tupinambá no Brasil: um Caso de Etnozoologia. Revista Electrónica de Enseñanza de lãs Ciências, 5(3):466-480, 2006.

RODRIGUES, R. M. A Fauna da Amazônia. Belém: CEJUP, 1992.


 

David Figueiredo
Enviado por David Figueiredo em 10/05/2009
Reeditado em 02/09/2011
Código do texto: T1585631
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