DE EVENTOS EM EVENTOS
Em 2008 a imprensa flagrou o passeio de alguns vereadores brasileiros em Buenos Aires, com viagem e estadia pagas com dinheiros públicos. Supostamente participariam de um evento que não se realizou. Este ando de 2009 o escândalo são as viagens de parlamentares e ex-parlamentares, levando namoradas e famílias para viagens de turismo pelo Brasil e no exterior com dinheiros públicos do Senado e do Congresso Nacional. A bem da verdade, existe hoje no Brasil uma verdadeira indústria de eventos. Isto, com certeza, é ótimo para as estatísticas do Ministério do Turismo, e os hotéis se alegram com uma melhor ocupação de sua ociosidade. São congressos, seminários, simpósios, jornadas, "workshops", encontros, oficinas, exposições, tertúlias, etc. etc. Tudo bem, intercâmbio de idéias, contato de pesquisadores, comunicação de descobertas, apresentação de novos produtos, exposição de descobertas científicas, isto é necessário para o progresso de qualquer país. No entanto, da maioria dos eventos, que se realizam pelos mais remotos recantos deste país, nada resulta de proveitoso para a sociedade, e o crescimento da cidadania da população brasileira. Claro, todo o cidadão tem o direito de ir e vir pelo território nacional ou exterior, e programar seu próprio lazer de forma cultural ou de puro divertimento. Se isto for com recursos próprios, ninguém lhe exigirá resultados de proveito geral. No entanto, quando viagens e eventos são financiados com dinheiros públicos, a coisa é diferente. No meu entender ético, penso que seria absolutamente necessário que, ao final de cada evento financiado e de viagens com dinheiros públicos, todo participante beneficiado devesse comprovar que sua participação resultará em alguma consequência benfazeja em proveito do público em geral. De todo evento financiado com dinheiros públicos deveria resultar um produto significativo para os cidadãos comuns. E, se isto não acontecesse, tanto os indivíduos como os organizadores de tais eventos deveriam devolver o dinheiro gasto. Francamente, a maioria dos eventos financiados apresentam (ou nem apresentam!) resultados pífios. Grande parte destes eventos também são realizados em contextos deslocados. Por experiência própria, já participei de Encontros, sobre a pobreza e a miséria no Brasil e no Mundo, realizados em hotéis 5 estrelas. Num destes encontros em Fortaleza/Ceará, um dos conferencistas americanos dizia que, antes de falar em pobreza, seria necessário verificar quem eram os pobres. Neste momento, uma participante indignada se manifestou, proclamando em alta voz que, neste ambiente sofisticado de 5 estrelas, com certeza não estavam os pobres, mas que bastaria sair dali, e no mais próximo semáforo já se saberia quem são. Realmente, por que realizar congressos sobre pobreza em hotéis de 5 estrelas, e não nos ambientes onde vivem os pobres? Não penso que congressos sobre pobreza, necessariamente, devessem ser realizados em favelas, mas que se realizassem, ao menos, em hoteizinhos mais humildes, sem ostentação e sem "coffeebreaks" com as mais sofisticadas iguarias.
Tudo bem, que se continuem realizando tais eventos, mas que deles resulte algo pragmaticamente significativo para o país. Do contrário, qualquer financiamento público deveria ser negado. Pergunto, quem neste país deveria acompanhar a utilidade, necessidade e honestidade de tantos eventos financiados? Por acaso, não seria o Ministério Público?