Limites: que sentido têm hoje?

Há tempos venho pensando em dividir reflexões, questionamentos e preocupações com relação à educação dos filhos no mundo contemporâneo. Sinto cada vez mais a necessidade de propor a discussão sobre “limites”. Penso principalmente nas consequências que a falta deles possa gerar na sociedade do futuro e por que não, do presente? A preocupação que trago é que a falta de limites na educação dos filhos pode se tornar um problema sério de saúde pública, de saúde mental de uma sociedade, podendo representar uma das causas do aumento da violência e da sua banalização. Assistimos calados e quase apáticos: crianças matando crianças; adolescentes disparando contra seus colegas de escola; filhos matando os próprios pais. Talvez tenhamos que nos questionar se essa “cultura de consumo”, o individualismo, a busca pelo sucesso a qualquer preço, não estão influenciando na educação de nossas crianças. Penso que de uma educação extremamente severa e autoritária passamos para o outro extremo: uma educação sem limites e sem respeito aos pais. Confundimos autoridade com autoritarismo e resolvemos extinguir qualquer tipo de reprovação aos filhos. Hoje, eles tudo podem, qualquer “não” é sinal de repressão. Dizer “não” é necessário. Estudos comprovam que a criança espera o “não” dos pais, entendendo assim que estes se preocupam com ela. Ela precisa de limites por não possuir a experiência de vida e o conhecimento que os adultos têm. Os pais têm o dever de ensinar o que é certo e o que é errado. Hoje em dia, o papel de transmitir essas noções é, muitas vezes, delegado à escola. Tenho observado os pais, o tratamento que dão aos seus filhos, como reagem às suas birras e pedidos. Dizer “não” exige paciência, porque a criança vai pedir, vai berrar, e os pais precisam ser firmes em sua decisão. Nesta sociedade, onde o importante é “ter”, os pais dão aos filhos os brinquedos mais modernos, vestem-nos com roupas de grife, colocam aparelhos de TVs e computadores em seus quartos, transmitem valores dessa cultura de consumo. Na televisão, as crianças assistem a tudo, não importando o horário: desenhos agressivos, filmes não recomendados para “menores”, brincam com armas de brinquedo como se isso não fosse torná-los violentos no futuro. Para compensar suas ausências e a falta de paciência para brincar com as crianças, os pais enchem-nas de brinquedos. Acredito que devemos refletir sobre como estamos educando os nossos filhos hoje e no quanto isso afeta diretamente a sociedade que estamos ajudando a construir. Talvez falte aos pais de hoje mais questionamentos sobre o seu papel como educadores.

Publicado originalmente em 03 de dezembro de 2008 no Jornal VS - São Leopoldo/RS

Vera Kalsing
Enviado por Vera Kalsing em 08/05/2009
Reeditado em 14/11/2024
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