Meu “primeiro” protesto

Luiz Luna*

A reivindicação é mais do que justa. Os estudantes da Asper Faculdades necessitam da instalação de uma passarela, semáforo ou qualquer outro meio que permita a passagem segura de um lado a outro da BR-230. Reclamam dos assaltos. Os atropelamentos ou sustos por conta da alta velocidade dos veículos são constantes. Embora assalto e uma rodovia movimentada aparentemente não tenham nada a ver, são problemas que se relacionam.

Na noite anterior ao protesto, dois palhaços e um estudante estenderam a mão, com o objetivo de que a passarela de pedestre fosse respeitada. Enquanto um caminhão tipo baú atendia ao apelo, na outra faixa uma moto reduzia a velocidade e um Celta colidia em sua traseira, por pouco não atingindo o estudante e os profissionais do riso. Os ocupantes da moto, que também eram alunos da instituição de ensino, tiveram ferimentos leves. No ônibus, alguém comentava ao ver duas pessoas fantasiadas, “só agora entendo que, realmente, eram dois palhaços que iam sendo atropelados”. Eles realizavam um trabalho de divulgação em prol da Companhia do Riso e, por pouco, a situação não termina em choro.

Alguém, se identificando como integrante do Diretório dos Estudantes adentra nas salas e conclama os alunos a participarem de um protesto. “Vamos fechar a BR e reivindicar providências. Ontem dois alunos foram atropelados. Já houve morte”. Rapidamente o asfalto é “invadido” pelos protestantes e o trânsito fica caótico, embora sejam quase 20h. Alguns colocam pedras, outros ateiam fogo em galhos de árvore. Gritos por segurança. A imprensa chega. A Polícia Rodoviária e PM são acionados. Haviam relatado que os estudantes estavam revoltados: depredavam e tocavam fogo em veículos. Entusiasmados, mas plenamente pacíficos, os reivindicantes ficaram indignados com a incompreensão de uns e a reclamação de outros.

Em alguns momentos, o clima fica tenso. Dois policiais militares, numa moto sem placa e sem capacete, furam o bloqueio sob a gritaria dos estudantes. Um deles insinua sacar a arma. Quando havia indícios de que os ânimos estavam por se acalmar, do outro lado um motorista também fura o bloqueio e por pouco não atropela algumas pessoas. O ocupante do Honda Civic, no auge de sua prepotência, achava aquilo tudo uma besteira e com o intuito tão somente de atrapalhar a população.

Na hora da entrevista, até políticos aparecem para fazer uso da palavra. Alguns alunos mais desinibidos fazem pose para as câmeras. Outros dizem que a culpa é do governador, do diretor da universidade ou, simplesmente, do DNIT. Ninguém pontificou falta de educação, respeito ou solidariedade. No meio dessa “Babel”, a multidão eufórica e nem aí com o caos que se formara. Até um motorista de ambulância se desespera para atender uma emergência. Mais de uma hora de protesto e desencontros. Os líderes estudantis e a Polícia Rodoviária começam a negociar. Chega o momento da liberação da pista e da formalização de entendimentos para que o problema seja resolvido. São marcadas reuniões com autoridades do trânsito. Também é reivindicada a continuidade do trabalho que a Polícia Rodoviária Federal vem fazendo no local nos horários de pico. Aos poucos, os protestantes vão retomando a rotina e a pista tem o fluxo normalizado.

Passados alguns dias, tudo continua como antes...

* Jornalista e especialista em gestão de pessoas.

L L Jr
Enviado por L L Jr em 17/05/2006
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