A VERDADE...
A VERDADE
Nunca, como hoje, se inventaram ou fabricaram “tantas verdades” a partir de uma VERDADE que realmente existe ou existiu.
A confiança, ou desconfiança, do homem noutro homem e a superioridade relativa de que se julga portador, leva a que menospreze a VERDADE da palavra ouvida, deturpando-a ou moldando-a à sua vontade e prazer como se fosse dono do pensamento alheio, mais, arvora-se em juiz e condena assim o outro sem se dignar ouvi-lo, negando-lhe, portanto, todos os mecanismos de defesa a que tem direito, não só sob o ponto de vista legal, mas também nos aspectos da moral e do natural.
Entendo que uma pessoa de boa-fé tem o dever e a obrigação de confiar na palavra de um cidadão que nunca dera provas de a ela ter faltado e não arrogar-se o direito de deduzir falsidade nessa palavra até que possa provar o contrário com argumentos válidos e aceitáveis.
Vejo que hoje não são precisas provas para a opinião pública, ou qualquer cidadão menor, condenar ou emitir opinião negativa acerca de outro cidadão; basta ouvir um qualquer boato, ou mesmo inventá-lo, para desprestigiar ou pôr em causa o bom nome ou o respeito que a qualquer cidadão é devido.
Há muitos cidadãos que se julgam sabedores de tudo; a razão, o direito e a liberdade são privilégios apenas seus, remetendo aos outros apenas os deveres e a submissão; nada aprenderam com a vida e jamais aprenderão, cegos por uma arrogância sem limites.
É de realçar que enquanto em quase todos os graus de ciência o homem evoluiu, de forma significativa, facilitando a sua própria existência e contribuindo para uma vida mais sã em muitos aspectos, pouco de relevante se pode apontar na evolução da relação homem-homem, na aceitação da diferença de pensamento, de raça, de religião, de profissão, de cultura ou mesmo das condições sociais em que cada um vive e que ao outro cabe aceitar.
O homem não evolui como ser, porque se julga dono da verdade, verdade sua, não buscada, não a VERDADE, por isso continuam actuais as palavras de Teixeira de Pascoaes escritas há cerca de um século no poema Inverno:
“…Eu visionei o mundo assim como ele existe,
Alegre para o mal, para a bondade triste;
Para o crime um altar e cruz para a Verdade…
Um mundo ensanguentado e todo falsidade…”