PROCURA-SE UM TRABALHADOR
Mais uma vez comemoramos o dia do trabalho. Todos gostam de ser chamados de trabalhadores. Embora nem todos gostem de trabalhar. Aliás, a palavra “trabalhador” tem nuances às quais não prestamos mais atenção. Uns entendem como trabalhador aquele que dá duro, que faz o trabalho pesado. O que carrega o piano é trabalhador, já o que toca o piano não tem o mesmo adjetivo; O operário que fabrica canetas é trabalhador, já o poeta que a opera tampouco recebe o mesmo adjetivo.
Criou-se um Partido dos Trabalhadores, dando a entender que aquele que não está filiado a ele seja preguiçoso. Apregoa-se o trabalho como se fosse uma espécie de castigo da humanidade e não um direito prazeroso. A maneira infantil de ver as coisas nos remete à idéia de que um palhaço, no circo, não exerce um trabalho sério.
A legislação trabalhista no Brasil é uma obra de arte. Contém pérolas ao lado de coisas justas. O Brasil é o único país do mundo a ter dois seguros desemprego, que juntos não atendem as necessidades à que se propõem. A falada Justiça do Trabalho, que tem a nobre missão de defender o trabalhador está atulhada de processos originados por quem busca o direito de receber vantagens sem a necessária contrapartida do serviço. “Trabalhadores” especializados em explorar os meandros da legislação, ajudados por advogados cujo único trabalho consiste em criar direitos para quem não quer trabalhar realmente. A maioria das reclamações não se refere a trabalhos não pagos ou mal pagos, mas sim a detalhes burocráticos não cumpridos, como a ausência de recibo ou o preenchimento deste fora dos padrões.
Está na hora de uma reforma na legislação, onde o trabalhador que emprega não seja visto como bandido pela “justiça” que cria antagonismo na relação sempre delicada entre capital e trabalho. O trabalhador empregado, formalmente ou não, tem todo o apoio para receber até por serviços que nunca prestou, enquanto o trabalhador que emprega é visto como aproveitador desonesto e gigolô do suor alheio.
Enfim, trabalho é um direito. É um legado divino, que nos outorga o direito de continuar com a obra da Criação. Por isso é prazeroso e um fim em si mesmo. A recompensa pelo trabalho é uma conseqüência. Embora existam mecanismos para negociar salários e até participações, este princípio não pode ser ignorado.
Mesmo que o salário não seja fruto de uma negociação, dificilmente algum trabalhador será dispensado quando ele mostrar criatividade e dedicação. A lista de dispensa sempre é encabeçada por aqueles que tentam de toda forma colocar seus interesses antes do interesse da empresa onde trabalham. Contudo, mesmo quando falta o emprego, o trabalho não se esvai. Por isso é que o dia do trabalho não é apenas o dia do trabalhador assalariado. É o dia para refletirmos sobre a grandiosa missão que nos foi legada através do trabalho.
Quando um trabalho, por mais trivial e corriqueiro que pareça, for realizado com a dedicação de um pianista e a criatividade de um poeta, com certeza teremos o reflexo disso no resultado e teremos encontrado um bom trabalhador.
Luiz Lauschner – Escritor e empresário
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