REVISITANDO MAQUIAVEL
Desde que Maquiavel publicou seu livro ¨O Príncipe¨, em 1532, nunca mais esta obra deixou de ser lida, e seus princípios respeitados por aqueles que buscam o poder político. Mesmo aqueles que, no poder, proclamam que é muito chato ler livros, por osmose, assimilam as considerações de Maquiavel. Por isto, nas estantes dos políticos, nas bibliotecas dos Congressos, e nos palácios governamentais, podem faltar as obras mais clássicas da literatura política, mas Maquiavel jamais falta. Isto nos faz entender alguns procedimentos dos que exercem o poder político.
Segundo alguns comentadores, Maquiavel não é maquiavélico, pois ele não institui um sistema político, mas simplesmente descreve como o poder político funciona. Em seu tempo, o que similarmente também vale hoje, o ambiente político é cínico; os fins justificam os meios; os mandatários devem fazer o mal de uma vez, e o bem aos poucos; os políticos devem ser, ao mesmo tempo, raposas e leões - astutos como as raposas e truculentos como os leões; é importante que os políticos sejam amados e temidos - se não conseguirem os dois, é melhor ser temido; o governante deve ser generoso, mas não demais, pois os benefícios, concedidos a uns, podem interferir no direito dos demais - e isto, muitas vezes, gera descontentamento e ódio; na medida do possível, o governante deve começar tudo de novo, pois, asssim, será lembrado no futuro como tudo tendo começado com ele - se possível, até seria interessante transferir as populações de suas cidades para outras; a política não é questão de ética, mas de poder.
Bem, assim poderíamos continuar a enumerar recomendações de Maquiavel aos políticos. Mas bastam as referências acima para encontrarmos analogias com a política atual praticada no Brasil. Claro, não podemos generalizar, abrigando todos os nossos políticos sob o mesmo guarda-chuva. Mas, pela seleção de notícias, que nos chegam todos os dias, ninguém duvida que há uma boa penca de políticos simplesmente cínicos. E ¨cínico¨, de acordo com a etimologia da palavra, que provém da palavra grega ¨kún, kunós¨, que significa cão - um animal que não respeita convenções sociais, e faz as suas necessidades em qualquer lugar, assim entendiam os gregos que os cínicos agiam em relação à sociedade como agem os cães. Embora Maquiavel nunca tivesse usado a frase ¨os fins justificam os meios¨, contudo suas constatações e recomendações sugerem que o político deva tomar isto como norma, e não se preocupar se os fins foram obtidos por meios éticos. Dali as tetativas de fuga da transparência administrativa. E, para não me alongar, parece que os livros de Maquiavel são livros de cabeceira de alguns de nossos políticos, quando se trata de tudo renovar, principalmente no que toca à educação. São as novidades dos ENENS, dos ENADES, das cotas para afrodescendentes, descendentes de ameríndios, cotas sociais, cotas para escolas públicas, vestibulares unificados, centralizações no MEC/INEP em Brasília. Já dizia um cientista político: ¨toda centralização é burra¨. Isto nos leva a considerar que, ao que tudo indica, tanto prestígio do maquiavelismo poderia ser motivo de uma análise mais inteligente de seus princípios por parte de nossos políticos.
___________________________________________________________