O que influencia o livre arbítrio?

Grande parte das pessoas, hoje em dia, apresenta um comportamento irritadiço, impaciente, intolerante, não concedendo jamais o benefício da dúvida, seja no que for, sempre pronto a condenar, sem pudor algum.

Para tentarmos compreender esta realidade, é necessário que consideremos algumas variáveis e contextualizemos os grupos sociais, para quem sabe, tecermos algum parâmetro que nos possibilite visualizar alguma saída para esta questão significativa dentro de nossa sociedade.

O meio em que as pessoas crescem é que oferece material com o qual vão compondo o fundo emocional e de informações que carregam dentro de si, muitas vezes conturbados e em alguns casos bem comprometido nos aspectos sociais.

Toda esta interferência, nem sempre positiva, determina os valores que irão nortear a conduta das pessoas. O caráter se forma a partir da experiência mais remota do indivíduo, sendo que na infância o grau de influencia é sempre maior, uma vez que a estrutura interna do ser humano funciona como esponja absorvendo tudo sem critério algum e deixando as informações, impressões e sensações vividas e aprendidas, impressas no mais profundo da mente, no subconsciente, e que a partir daí, passam a ser um elemento vivo, interferindo em cada escolha na conduta do ser humano.

Da adolescência em diante há a reação voluntária da mente do indivíduo e ai inicia-se a possibilidade de se colocar ordem em alguns aspectos, escolher outros, livrar-se de entraves e rever o que se tinha como estável e resolvido.

Tudo isso acontece num processo natural e sem que o individuo se dê conta disso. E por isso mesmo ocorre de forma lenta e imprecisa.

Nem sempre as pessoas percebem e aproveitam estas reações naturais e logo se voltam ao conforto do que já estava “definido” não se dando ao trabalho de fazer a organização estrutural própria, tão necessária à saúde interior do Homem.

Isso posto, vemos que é possível interferir neste processo de maneira proativa.

Ao levarmos em conta um determinado grupo e sua peculiaridade; as condições em que vive, as motivações que a sociedade estabelece baseada em estímulos consumistas, em modelos fictícios que são utilizados como isca, vendendo a falsa idéia de poder, realização ou prazer; podemos imaginar uma conduta específica, algumas medidas que devem provocar mudanças desejáveis e que desencadearão alterações na maneira de se receber os estímulos que vem de fora.

O jovem, diferente do adulto, ainda não está com os conceitos e deduções cristalizadas, o que facilita em algum grau, a possibilidade de mudança.

Por esta razão idealizou-se um treinamento que impressionasse o subconsciente, alertasse o consciente e recheasse a mente despertando a vontade de crescer, o interesse pelo desenvolvimento pessoal e o envolvimento com o grupo, numa conscientização mais profunda, que implique a compreensão da impossibilidade de se obter sucesso sem que se engaje bem na equipe a que se pertence e aos grupos a que se pertence.

A noção clara de que ninguém vence sozinho, de que tudo na vida se alicerça na cooperação, no envolvimento e comprometimento com tudo que nos cerca.

Incentivar a atuação como voluntário em algum tipo de trabalho na comunidade é outra coisa que está inerente a esta proposta.

Nunca se deu tanto valor para atividades paralelas neste sentido, como se da hoje. E a razão disso é que já foi provado que a pessoa que desenvolve a verdadeira compreensão de solidariedade, que desenvolve a arte de se dar sem esperar nada em troca, a compreensão da importância de colaborar em alguma medida na comunidade que se vive, tudo isso tem um profundo efeito na delimitação do caráter, fortalecendo as bases em que se fundamentam os valores essenciais do homem.

Assim, a idéia é trabalhar toda a sorte de conceitos e atividades que possibilite o desenvolvimento de uma consciência sadia e prepare o indivíduo para lidar tanto com o fracasso, utilizando-o como mola propulsora para que persista e conquiste por fim o sucesso, quanto para quando alcançar o sucesso, de tal sorte que saiba lidar com ele de forma saudável e que conserve o êxito, o que parece ser outra arte específica.

De maneira geral, quando não se trabalha com a mente em atividades sejam culturais ou educativas em que se lide com conceitos e elaborações, o indivíduo tende a se brutalizar, no sentido de distanciar-se aos poucos das atividades de reflexão. Esta arte, se não desenvolvida tende a desaparecer e então teremos adultos que apenas vivem com o imediato da existência, com o que podem tocar, sentir e ver, e se distanciam, muitas vezes de forma permanente, do lado mais sutil onde o individuo tem realmente a chance de realizar mudanças significativas em sua existência.

Daí acreditarmos na importância destas reflexões e dos benefícios que irão gerar, tanto aos profissionais que nelas investir tempo e atenção, quanto aos jovens.

A violência é uma condição que urge ser encarada com a devida seriedade. Por estar disseminada na sociedade de forma generalizada e sem qualquer critério, é mister que se atue na sua verdadeira causa.

Um mínimo de autocontrole, autodeterminação individual, é base necessária para dar sólido fundamento à vida social.

A verdadeira liberdade está na consciência de seus deveres e direitos.

A percepção de que a liberdade não é um dado imediato, mas o resultado mais importante da formação do interior do Homem, que é quase um processo, já que possui uma dinâmica própria que deve ser respeitada para que floresça em plenitude, propiciando a expansão do espírito do Homem. Esta compreensão é a semente da harmonia, da autêntica paz interior, que alicerça e provoca a paz exterior.

A ética depura os talentos naturais, promovendo sua autêntica expressão e possibilitando que encontre espaço para se desenvolver.

Pensarmos em uma sociedade fraterna, justa e harmoniosa é darmos toda a atenção para a formação interior do Homem, como estratégia básica de uma sociedade saudável.

Vale a pena refletirmos sobre tudo isso e nos apropriarmos de nossa responsabilidade para com toda a Humanidade, já que dela fazemos parte integrante.

Priscila de Loureiro Coelho

Consultora de Desenvolvimento de Pessoas

Priscila de Loureiro Coelho
Enviado por Priscila de Loureiro Coelho em 14/01/2005
Código do texto: T1572