A PREFERÊNCIA DO MENINO E DO HOMEM
Opinar sobre como anda hoje o processo ensino-aprendizagem no Brasil é ocupação bastante complexa, pois são muitas as razões que fizeram dele um problema de difícil resolução. Assim, se o crítico quiser expressar uma opinião breve a seu respeito, deve escolher uma razão para o tema, e lutar para não fugir a ele, uma vez que o assunto pressiona para um verdadeiro tratado, preterindo a dissertação rápida.
Não obstante, e com muita frequência, a Mídia dirige a ele os seus holofotes. Porém, toma-o como de resolução fácil e simples, e busca entrevistar e veicular a opinião de pessoas que, no seu modo de entender, são autoridades nesse mister.
As autoridades que ela aborda, parece gostarem de dizer que o problema deve e pode ser resolvido apenas pelas escolas e seus professores, o que confirmaria o enfoque da simplicidade abraçado pela mídia. Assim, o que elas dizem é que escolas e professores precisam usar de criatividade para tornar suas aulas atraentes, e com isso não só melhorar a qualidade do aprendizado como também minimizar a evasão escolar. Ou seja: no modo de ver dessas autoridades, os muitos agentes da mazela escolar reduzem-se a um só: aulas áridas, insípidas. Fácil e simples, pois.
O crítico, no entanto, dedica-se a avaliar as múltiplas faces do assunto. E, pretendendo realizar não um tratado, mas uma dissertação rápida, toma de qualquer de suas faces e parte do marco por ela estabelecido. É o que se faz aqui. E as proposições resultantes são duas: O aprendizado pode ser olhado como um trabalho. O aprendizado pode ser olhado como um divertimento.
Se olhado como divertimento, nada há para se esperar como resultado, exceto que o aprendizando, no dia seguinte ao da aula-diversão, estivesse descansado para pugnar pela sobrevivência, moradia, pão, saúde, vestimenta etc., o que não seria o caso, posto que utilizasse de todos os dias úteis para divertir-se; e dos feriados, para descansar. E, por isso, ele não seria aluno, mas simplesmente um indivíduo em busca de lazer.
Porém, em sendo olhado como um trabalho, aí sim, ele precisaria ser enfrentado como uma atividade igual a outra qualquer, que se permeia das complexidades, das dificuldades e mesmo dos prazeres que lhe sejam inerentes. Nesse caso, tanto mais gratificante seria a atividade quanto mais a ela se dedicasse o indivíduo, uma vez que, à medida que se aprende, e que se tem consciência disso, mais agrada ao homem o ato de aprender. Mas a realidade não é tão fácil assim: carece considerar que o aprendizado sempre terá seus dissabores, e para superá-los, é necessariamente preciso que se tenha vontade; vontade de estudar, de aprender; decisão de entrega, de abnegação. Todavia, sob esses aspectos, a escola e o professor nada mais podem fazer que aconselhar seus alunos.
Quanto, porém, a que sigam conselhos, a que se dediquem, a que busquem força de vontade, a que se atenham às aulas e a que bem se comportem em sala, todas essas virtudes e muitas mais, dependem de como enfrentem o aprendizado: trabalho sério ou divertimento.
Segundo seja enfrentado como divertimento, cumpre ressaltar que alguém que não haja atribuído o valor devido àquelas virtudes, dificilmente terá um mínimo de conhecimento sobre as utilidades práticas, por exemplo, de compassos, esquadros, transferidores e afins; de elementos da física, da biologia, da química; da história da humanidade.
Portanto, estão erradas aquelas autoridades que, do alto de seus títulos, quando mais deveriam enxergar, enxergando apenas os professores e as escolas, sentenciam que o problema deve e pode ser resolvido por estes últimos. Seria, pois, o caso de se lhes convidar à desqualificação do axioma do pensador e crítico francês, Denis Diderot: “A criança como o homem, e o homem como a criança, prefere divertir-se a instruir-se.”
Não há dúvida de que o homem necessita de divertimento, mas o trabalho aqui referido é essencialmente nobre: rompe com os grilhões da ignorância.
José Izidro Manoel