Aurora dos Carnavais – dez anos de encontros
Como há muito tempo não fazia, este ano resolvi curtir os carnavais de Olinda e Recife. Dei um tempo a Condado e Pesqueira. Não poderia ter feito coisa melhor. A maravilha do carnaval recifense é algo extraordinário. Apesar ser muito bom, o carnaval do interior está perdendo um pouco a originalidade por culpa do poder público e de organizadores de blocos que se deixam influenciar por parte da mídia que não valoriza a nossa cultura. Algo parecido com o que estão fazendo com o Galo da Madrugada.
As ditas bandas de forró estilizado se transformam em bandas eletrizadas para ganhar dinheiro e descaracterizar o nosso carnaval, principalmente esquecendo o nosso frevo e privilegiando o axé e o swing, com suas letras “fenomenais”. Pense como existem “poetas” fazendo músicas de swing e axé! Se pelo menos eles tivessem um pouco de respeito às mulheres seria o suficiente para eu conseguir, ao menos ouvir suas músicas.
No domingo, 08 de fevereiro, tive o prazer de brincar com minha esposa no Encontro de Blocos Líricos, o Aurora dos Carnavais. Um evento onde se reuniram 17 blocos do Recife em um encontro pré-carnavalesco na Rua da Aurora (Santo Amaro), em frente ao clube Barroso, que neste carnaval completou dez anos, resgatando saudosos frevos de compositores como, Edgar Moraes, Nelson Ferreira e Getúlio Cavalcanti.
Os blocos líricos são agremiações que vão às ruas ao som de uma orquestra de instrumentos de cordas e sopro, formada por banjos, bandolins, clarinetas, violões e saxofones. Esses são também conhecidos como blocos de pau e corda. Em seus desfiles são acompanhados por um coral feminino e por cordões de pastoras, pastores e crianças. O “flabelo”, que vai sempre à frente, é o abre-alas do bloco, trazendo o nome da agremiação e a data de sua fundação, empunhado por uma pastora, a flabelista.
Os flabelos dos blocos saíram do Marco Zero, às 14 horas, em um cortejo pelo rio Capibaribe até o Cais da Aurora onde encontraram suas respectivas agremiações. Foi uma linda festa de família, literalmente falando. Lá encontramos foliões de todas as idades e famílias completas, com avós, filhos e netos. Havia grande número de jovens que procuravam conhecer melhor a nossa cultura e curtir uma festa mais tranquila. Quem quis ver de perto o desfile dos blocos, teve de enfrentar um aperto na multidão em frente ao palco.
Este ano, o Aurora dos Carnavais homenageou o ex-prefeito do Recife, João Paulo; o poeta e músico João Araújo; o músico e compositor Hamilton Florentino; o maestro Spock; o compositor Ely Madureira; o compositor Roberto Fantini; o músico e compositor Beto do Bandolim; a carnavalesca Elizabeth Ferreira; o compositor e produtor cultural Luiz Guimarães e Dona Otília (in memorian), antiga proprietária do restaurante Buraco de Otília.
O Coral Feminino Edgard Moras, a cantora Dalva Torres e o cantor Claudionor Germano, deram início à festa, empolgando o público. Ainda tivemos as apresentações da Orquestra Evocações e da Orquestra Raízes Pernambucanas.
Idealizado pelo consagrado compositor do carnaval pernambucano, Romero Amorim, o Aurora dos Carnavais contou com a presença dos seguintes blocos líricos: Um Bloco em Poesia, Confete e Serpentina, da Saudade, Esperança, Flor do Eucalipto, das Flores, O Bonde, Cordas e Retalhos, Seresteiros de Salgadinho, Rosas da Boa Vista, ASS com você no coração, Menestréis do Paulista, Flor da Lira, das Ilusões, Boêmios da Boa Vista, Eu Quero Maiszinho e Sonho e Fantasia, esses dois infantis, que abriram a grandiosa festa e foram bastante aplaudidos.
Eu me senti uma criança em festa de aniversário, numa mesa cheia de brigadeiros, bolos e refrigerantes. Saí fotografando os flabelos dos blocos, com suas lindas flabelistas, um a um, como se fosse um repórter profissional ou turista. Pense num cabra abestalhado!