A Oitava Ressuscitada
Inicia-se a Semana tão Santa quanto a anterior. De fato, já na metade, a Oitava de Páscoa é a continuação do mesmo dia Pascal da ressurreição no Domingo. Santa vontade presente de ser santo... simples, pequeno, nanico, desprovido até daquela santidade medieval, dos tempos de outrora. Nesta Semana bendita e na que passou, do tempo magno, nos espaços solidários do cristianismo primitivo em defasagem, ainda resta certos resquícios de tradição cristã até em que não é mais Católico, mais cristão. Diante de encenações teatrais, homílias homéricas, dos ‘eventos’ de massa quase sem fé, Celebrações mais ritualísticas do que encarnada no coração de cada homem e mulher, o que resta da Semana Santa é tentar, no íntimo e resguardando qualquer julgamento pessoal, querer ser... santo.
O desejo profundo, passa despercebido na realidade nua e crua do dia-a-dia. Todavia é nesse cotidiano que a santidade tem que está presente, pois ela não pode existir fora do tempo. Nesse anseio interior o exterior vai costumeiramente se preparando para as memórias sempre atualizadas dos momentos singulares da fé cristã. Aquele que Amo, entra no seu íntimo e busca em Si o Deus que também está fora, ou seja em mim. Todo o Tríduo Pascal tem como finalidade essencial levar Deus-Filho para dentro de nós diante de toda a realidade n’Ele vivida intensamente, de uma profundidade cósmica ainda não completamente compreendida pela humanidade.
Nos passos delicados vividos por Jesus, suas condutas se contrastam com as minhas. Ao invés de Ele querer ser santo como eu, seu maior anseio é em ser pecador. Enquanto um pecador deseja ser santo, O Santo quer assumir para Si todo o pecado do mundo (cf. Jo 1,29; Mt 26,28). Enquanto o pecado ainda reina em mim e se prolifera que nem erva daninha, o Única Santo atrai como um imã universal as mazelas do mundo e presentes no coração de cada homem, tanto do seu tempo, quanto séculos afora.
Sinal de “contradição”, sinal de Deus. O Deus no homem, não pode ser mais do que o homem em Deus. E se Deus como Homem deu a Si para que o homem estivesse eternamente em Deus, quem sou eu para querer ser santo?... É preferível querer ser Deus! Assim o meu homem (que sou eu) se torna o mesmo Deus que outrora morreu dolorosamente e ao mesmo tempo eu padeço. Com Ele, tantos quantos outros homens como eu, sofrem as mesmas torturas que o nosso Deus enquanto Homem sofreu.
Minha revolta, logo, poderia se desesperar. Se como Deus eu padeço, devo sofrer como tantos irmãos e irmãs, que até hoje em sua carne sofrem males (fome, discriminação, tortura, guerra...) inclusive piores do que os de Jesus (guardando a devida proporção e contexto). Graças a Deus (ou será a mim mesmo?) que após a morte, vem a ressurreição, a qual nesta semana comemoramos com muita harmonia. Que Deus deixe-me ser nesse momento também como Ele, para poder a mim ressuscitar, ajudando a tantos que sozinhos não poderão nem comemorar, pouco menos vivenciar esta maravilhosa Boa Nova de Jesus.
Ele Ressuscitou. Aleluia!