Foto acima:
Um acampamento cigano perto de
Arles, visto pelo
pintor
Vincent van Gogh. (Holanda)

Picture Captions

                              Liene, Laercio Beckhauser e Lorival

Rapto de criança por ciganos,
no Brasil, em 1952.

Lema dos ciganos:
"O Céu é meu teto;
a Terra é minha pátria e a Liberdade
é minha religião",

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Desde 1952 fiquei com estas imagens, ainda vivas
na minha mente.

Um casal de ciganos, aportaram com sua carroça
no rancho da casa de meus pais e ficava feliz
em vê-los trabalhando na fabricação artesanal
de panelas, figideiras e peças correlatas de cobre.

O fogo, as batidas do martelo moldando o metal
atraiam a minha atenção para esta atividade laboral.

Não me lembro do nome deste casal e nem
do nome da criança que acompanhava este
casal de ciganos.


Lembro-me que ele os chavamam de pai e mãe.


Cigana com seu filho.

O meio de locomoção, a casa e todos os
pertences deste casal de cigano ficavam
inseridos na carroça que era conduzida
por dois cavalos amestrados e que
serviam também de montaria.


Minha mãe, era professora, funcionária
pública estadual, 32 anos e meu pai,
delegado de polícia, 35 anos, ambos residiam, com seus filhos, na localidade de Benedito Novo, pertencendo,
naquele tempo,  ao munc
ípio de Rodeio.

O município de Benedito Novo localiza-se
no médio Vale do Itajaí, microrregião de Blumenau,
no Estado de Santa Catarina, nos contrafortes
da Serra do Mar e ao longo da
Bacia do Rio Benedito, afluente do
Rio Itajaí-Açú a uma altitude de 130 metros da sede. 
Está a aproximadamente, 40 km de Blumenau,
100 km do litoral e 180 km da capital Florianópolis.

Situa-se  a oeste de Greenwich com
latitude 26º78’3’’ S e longitude 49º36’4’’ W.


Lorival e Liene eram meus irmãos que já
estudavam no Grupo escolar
Teófilo Nolasco de Almeida,
aproximadamente a uns 800 metros de nossa casa.

Muitas vezes, mesmo  eu não tendo
idade escolar, com meu triciclo (bicicleta infantil)
fugia da empregada Elvira  e  ia assistir as aulas
que a professora Jurema, minha mãe,
ministrava para seus alunos no primeiro
ano do ensino primário no estabelecimento escolar.


Certo dia, neste periodo, após o meio-dia,
quando minha mãe veio almoçar em casa,
após o término das aulas matutinas, notou
que os ciganos tinham se retirado do rancho,
cedido para que  eles se
instalassem,  temporariamente.

Como era habitual, me chamou para almoçar.  
Após, não tendo me encontrado,
pediu para a Elvira, nossa ajudante domiciliar, 
me procurar.
Ela, aos gritos, chamava pelo meu nome.
Foi até as margens do rio Benedito,
que ficava aos fundos da casa e
nada de me encontrar.
Apavoradas e tristonhas,  Jurema e Elvira choravam
e chamavam  alto pelo meu nome. Gritavam:
Laércio!  ... Laércio! ... Laércio!


E nada de me encontrar. 

Não respondia  a seus apelos insanos e
preocupados.

Neste momento, passava pela rua um senhor, morador
próximo da nossa casa e preocupado com os gritos e apelos femininos se dirigiu a minha mãe:

- Professora Jurema, o que aconteceu? 

- Qual o motivo destes
gritos e de tanto choro?


Ela rapidamente, esclareceu o que tinha acontecido.

Falou do meu desaparecimento.

Explicou que os ciganos também
tinham sumido e ninguém sabia de seu paradeiro.

Ele então falou para a minha mãe que eu
estava com os referidos ciganos,
pois ele tinha me visto
em cima da carroça
com outro menino e acreditava que não
deveria estar muito longe, pois nem fazia
uma hora  que ele tinha observado a carroça se
dirigir na direção de Timbó,
localidade vizinha a alguns quilometros de
Benedito Novo.

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Minha mãe, prontamente entrou em
contacto com o meu pai,  que era o delegado,
na Delegacia de Polícia. 
 
E agora sei,  que o meu  passeio com os
ciganos foi curto, pois o meu pai me buscou,
com uma  bela limonise preta de um comerciante,
amigo do delegado e da professora.

Lembro-me ainda, de um diálogo da
minha mãe com o meu pai:

- "
Agostinho, que situação embaraçosa,
um filho de delegado e de professora
raptado por ciganos, hein! 
Que falta de cuidado que temos
em educar nossos filhos.
   Bem que eu te avisei que
não queria estranhos em nossa propriedade.


- É Jurema,  sou delegado, servi o
exército brasileiro e sei dos meus direitos
e de minhas obrigações. 
Por isto, nosso filho está aqui, alegre e feliz,
pois fez amizade com os ciganos e
passeou  de carroça e ganhou
muitos doces da cigana.
Só que eu já lhe disse que jamais
deverá aceitar passear com pessoas
que não sejam da família.

- É,  Agostinho, por sorte,
estes ciganos se locomovem de carroça,
pois se tivessem carro, possivelmente nosso filho,
agora, já teria outra família.


- Sim,  Jurema,  pode até ser verdade
estas tuas palavras,  mas se fossem
ciganos ricos, não estariam aqui, neste local,
pedindo pousada.
Estariam em cidades maiores e em capitais.


- Pois é,  Agostinho,  que nos sirva isto de lição,
e jamais se repita este maléfico impasse."

Tenho certeza,  hoje,  que esta família de ciganos
perdeu um novo integrante que
possivelmente seria ampliada com outras
crianças raptadas
de famílias de outras localidades.


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There are more things in heaven and earth, Horatio,
Then are dreamt of your philosophy.
Shakespeare, Hamlet, Ato I.



Há no céu e na terra, Horácio, bem mais coisas
Do que sonhou jamais vossa filosofia.























Notas explicativas:
O Povo Cigano é guardião da LIBERDADE.
Seu grande lema é:
"O Céu é meu teto;
a Terra é minha pátria e a Liberdade
é minha religião",

traduzindo um espírito
essencialmente nômade e livre dos
condicionamentos das pessoas normais
geralmente cerceadas pelos sistemas
aos quais estão subjugadas. 
A vida é uma grande estrada, a alma é uma pequena carroça
e a Divindade é o Carroceiro.



13 de maio, 2002 - Após 428 anos o governo
brasileiro reconhece que os ciganos merecem respeito,
são cidadãos.
O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH II)
nclui (graças aos esforços da Associação de
Preservação da Cultura Cigana, no Paraná),
pequeno texto sobre este povo. Vamos citar os
tópicos relativos a eles para que não se esqueçam:



Ciganos
259. Promover e proteger os direitos humanos e
liberdades fundamentais dos ciganos.

260. Apoiar a realização de estudos e pesquisas
sobre a história,
cultura e tradições da comunidade cigana.

261. Apoiar projetos educativos que levem em
consideração as necessidades especiais das crianças
e adolescentes ciganos, bem como estimular a revisão
de documentos, dicionários e livros escolares que
contenham estereótipos depreciativos
com respeito aos ciganos.

262. Apoiar a realização de estudos para a criação de
cooperativas de trabalho para ciganos.

263. Estimular e apoiar as municipalidades nas quais
se identifica a presença de comunidades ciganas
com vistas ao estabelecimento de áreas de
acampamento dotadas de infra-estrutura e
condições necessárias.

264. Sensibilizar as comunidades ciganas para a
necessidade de realizar o registro de nascimento
dos filhos, assim como apoiar medidas destinadas
a garantir o direito de registro de nascimento gratuito
para as crianças ciganas.

 
Movimentos migratórios dos ciganos na Europa entre os séculos XII e XVI.



25 de junho, 2006 — É criado o dia do cigano no Brasil,
a ser festejado em 24 de maio, dia de Santa Sara,
a padroeira dos ciganos
.

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