Os Congressos de Cantadores do Recife
Em 1946, o escritor e dramaturgo Ariano Suassuna realizou no Teatro Santa Isabel, a primeira cantoria oficial do Recife. Foi uma ação ousada do grande escritor, tanto que a sua solicitação de pauta para a realização da cantoria, no Santa Isabel causou espanto, como bem disse o próprio Ariano na Apresentação do Livro dos Repentes, organizado por Jaci Bezerra e Ésio Rafael: “O Diretor do Teatro, consternado, perguntava como é que eu queria promover a presença de “Cantadores-de-Viola” num palco onde haviam recebidos seus versos, ou seus discursos, Castro Alves, Tobias Barreto, Joaquim Nabuco”.
O poeta-cantador Rogaciano Leite tomou conhecimento do sucesso da Cantoria e com uma demonstração de muita coragem realizou , em 1948, no mesmo Teatro, o Congresso de Cantadores do Nordeste, com o apoio do Secretário da Fazenda do Estado de Pernambuco, na época, Miguel Arraes.
Durante trinta e nove anos ninguém deu seqüência a estas duas realizações. Só em 1987, no início do segundo mandato do Governador Miguel Arraes, o poeta e pesquisador da cultura popular Ésio Rafael, convidou o grande poeta-repentista Ivanildo Vila Nova e realizou o II Congresso de Cantadores do Recife, que teve como Presidente da Comissão Julgadora o teatrólogo Ariano Suassuna. Mais uma vez o evento aconteceu no Teatro Santa Isabel, com a promoção da Secretaria de Turismo, Cultura e Esportes do Governo do Estado e da FUNDARPE (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco).
O III Congresso também se realizou no Teatro Santa Isabel, em 1988. Devido ao sucesso e à grande presença de público, o IV e V Congressos foram realizados no Teatro Guararapes, do Centro de Convenções de Pernambuco.
Com a continuidade desses Congressos o governador Arraes demonstrou a sua preocupação com a cultura popular nordestina.
Já o VI Congresso de Cantadores do Recife foi levado para o Teatro do Parque, em l991, pelo Governador Joaquim Francisco, que posteriormente deixou de realizá-lo.
Só em 2001 o evento foi retomado, na gestão do Governador Jarbas Vasconcelos, com outra denominação: “Desafio Nordestino de Cantadores”.
Eu sempre fui fã da cantoria de viola, desde minha infância quando assistia aos Pés-de-Parede realizados na casa do saudoso Biu de D. Jovem, na Rua Severino Uchôa, vizinho à casa onde nasci em Condado.
Durante as realizações dos Congressos de Cantadores do Recife eu morava nessa capital e assisti a todos, a partir do III, em l988. No ano posterior, trabalhando na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), eu tive a felicidade de conhecer dois dos integrantes da Comissão Julgadora desse III Congresso, Joselito Nunes e Maciel Correia e o poeta-repentista Antonio Lisboa, que hoje são três grandes amigos meus.
Naquele ano o meu amigo Maciel Correia me mostrou uma quadra do poeta Ésio Rafael, Coordenador Geral, desses três Congressos, que nunca mais esqueci e faço questão de publicá-la aqui porque a achei uma perfeição de poesia:
“Já pedi ao Senhor, o pai celeste
Caso queira um meu filho vir buscar
Me procure no sertão ou no agreste
Estou pronto para ir em seu lugar”
Sentindo a ausência da realização desses Congressos, em l992, nós tentamos realizá-lo naquela Universidade, chegamos a fazer toda a programação do evento, inclusive contactamos alguns cantadores e pessoal para integrar as Comissões Julgadoras e de Seleção.
Inicialmente a UFRPE oferecia todas as condições para a realização deste evento e começamos a procurar patrocinadores, porém quando tudo parecia que ia dar certo, nós recebemos a comunicação da Reitoria da Universidade de que não haveria condições para sediar o tão sonhado Congresso devido à falta de verbas. Foi lamentável.
Nesta época, eu trabalhava com o Engenheiro Florestal, meu amigo Geraldo Luna, e nas eleições de l990 escrevemos um Folheto de Cordel intitulado: “É Jarbas nossa vacina contra a febre amarela”. Tentamos vendê-lo à coordenação da campanha de Jarbas Vasconcelos, que disputava as eleições para governador com Joaquim Francisco, que era prefeito do Recife, mas não foi possível, pois essa coordenação alegou falta de verba para isso.
É incrível como algumas pessoas desconhecem a importância da cultura popular e não acredita no efeito que ela tem como divulgação no meio da massa. O incrível é que nós perdemos de vender o Cordel e Jarbas perdeu a eleição.