O DÍZIMO À LUZ DA CONSCIÊNCIA ("Religião é demência coletiva." Bakunin)

Apresentação

Nosso objetivo com este artigo é alertar os seguidores de Deus sobre os perigos da religiosidade deteriorada, especialmente no que diz respeito ao uso do dinheiro e dos dízimos. Queremos destacar a diferença entre a oferta voluntária e o dízimo, e como ambos têm sido mal empregados em muitos contextos religiosos.

É verdade que o dinheiro não pode comprar a fé, mas ele é fundamental para o funcionamento das igrejas e para a realização de diversas atividades religiosas. No entanto, vemos que muitas vezes o foco é colocado no dinheiro em si, em detrimento da essência da fé. Como diz Jeremias: “Vocês Me encontrarão sempre que Me procurarem; mas para isso, precisam Me procurar de todo o coração” (Jeremias 29:13, BVN).

Infelizmente, muitas pessoas estão sendo exploradas por líderes religiosos que prometem bênçãos materiais em troca de dinheiro. Essa prática é condenável e contrária aos ensinamentos de Jesus, que afirmou: “Vocês são verdadeiramente meus seguidores se viverem como Eu digo, e conhecerão a verdade, e a verdade libertará vocês” (João 8:31-32, BV).

É importante ressaltar que a verdadeira liberdade religiosa implica na liberdade de consciência. Como afirma Venden (1981, p. 333), “Um dos característicos das religiões falsas é a ausência de liberdade de consciência”.

Por Claudeci Ferreira de Andrade

INTRODUÇÃO

Podemos iniciar os argumentos que manejaremos nesta publicação com um pensamento consagrado: “Só o conhecimento dá poder”. A necessidade de conhecer a vontade de Deus é inegável. O profeta Oséias, com clareza, nos adverte: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitando o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos” (Oséias 4:6, BVN).

Essa passagem bíblica condena veementemente aqueles que se apropriam indevidamente da autoridade divina, impondo interpretações pessoais e dogmas sem fundamento. A consequência dessa prática é a mistificação da verdade e a exploração dos mais simples. Jesus Cristo, em Sua parábola do semeador, alerta para o perigo daqueles que distorcem a mensagem divina: “Na hora, porém, em que os homens repousavam... os filhos do maligno. O inimigo, que o semeia, é o demônio...” (Mateus 13:25, 38-39, BSMM).

O apóstolo Paulo, por sua vez, enfatiza a importância de uma fé fundamentada na Palavra de Deus e guiada pelo Espírito Santo: “Ora nós não recebemos o espírito deste mundo, mas o Espírito que vem de Deus, para conhecermos as coisas que por Deus nos foram dadas, as quais também anunciamos, não com palavras doutas de humana sabedoria, mas com a doutrina do Espírito, adaptando as coisas espirituais às coisas espirituais” (1 Coríntios 2:12-13, BSEP).

Diante dessa realidade, o objetivo deste trabalho é esclarecer e empoderar, oferecendo ferramentas para identificar as falsas doutrinas e os falsos profetas. É preciso ter cautela com aqueles que, como Holbrook (1988), defendem interpretações particulares e restritivas da Bíblia, como a obrigatoriedade de depositar todos os dízimos na tesouraria da igreja. Segundo Holbrook, “Ninguém se sinta na liberdade de reter o dízimo, para empregá-lo segundo seu próprio juízo. Não devem servir-se dele numa emergência, nem o usar segundo lhes pareça justo, mesmo no que possam considerar como obra do Senhor...” (apud HOLBROOK, 1988 P 11).

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¹ O Didache (pronuncie didachê), escrito por volta de 120 D.C., é provavelmente o mais antigo manual da igreja existente. Seu nome em grego significa “o ensino dos doze”, e o documento passa por ser regras para a organização e governo da igreja formuladas pelos próprios apóstolos. Isto é o que ele diz a respeito daqueles que procuram benefício monetário de sua associação com a igreja: “Capítulo XI4.Que cada apóstolo que vem a vós seja recebido como o Senhor;5.Porém ele não permanecerá (mais que) um dia, se for necessário, também outro (dia), mas se ele ficar três (dias), é falso profeta;6.E quando o apóstolo partir, que ele não leve nada exceto pão (suficiente) até que ele cegue ao seu alojamento (quartos noturnos). Mas se ele pedir dinheiro é um falso profeta, (...);12. Mas qualquer que diz no espírito: Dá-me dinheiro ou qualquer outra coisa, não lhes dareis ouvidos, porém se ele vos apela a dar para outros que têm necessidade, que ninguém o julgue, (...). Capítulo XII5.E se ele não agir assim, é um traficante de Cristo. Cuidado com o tal” (Apud SETON, 1992, P.91).

Essa é uma citação completamente inconveniente e contraditória ao ensinamento bíblico, confira: “Mas vocês dizem: ‘Mesmo que seus pais estejam passando necessidade, você pode dar o dinheiro do sustento deles para a igreja, em lugar de dar a eles’. E assim, por meio da sua regra feita pelos homens, vocês anulam a ordem direta de Deus para que honrem e cuidem dos seus pais” (Mt 15:5-6 BV).

É porque ainda não chegaram ao estado de pleno desenvolvimento e lhes falta o conhecimento espiritualmente bíblico. Por isso, muitos entram facilmente em decadência como objetos tomados pelo inimigo; são vítimas fáceis de falsas doutrinas, como as que ensinam por aí, escravizando-os nas voltas formadas pelos fios do poder satânico, ou melhor, em uma malha difícil de sair. Como quem está embriagado e acostumado a proceder mal, porém, sobretudo, viciado e amoldado no amor excessivo à “Grande Babilônia”². Esse conjunto de elementos rotulados, desenvolvido por diversas religiões, afunila-se em um só movimento para tornar prestigiosa a “Besta”.

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² “Como está empregada no Apocalipse, o nome é simbólico de todas as organizações religiosas apóstatas e sua liderança, desde a antiguidade até o encerramento do tempo” (apud ZURCHER, 1980, P 78).

Por mais que se disfarce sob variadas denominações, se avaliarmos bem, ele apresenta características próprias. “Esta é a razão da existência desta igreja, porque deveria ser diferente de outras corporações cristãs” (ZURCHER, 1980, p. 69). Babilônia é o nome mais convincente, empregado significativamente pelo Apocalipse, para expor minuciosamente algumas faltas e embaraços causados pelo vergonhoso mundanismo e pela confusão religiosa deste tempo. Ou melhor, a pregação e a pronunciação de poder próprio para perdoar através das condescendências e indulgências disfarçadas: “pague o dízimo para prosperar”.

Só há uma saída: considerar e atender ao pedido de comparecimento, ou seja, atender ao convite que Deus faz para nós neste tempo em que vivemos, nesta época de acontecimentos notáveis: “…Saiam dela, meu povo, não tomem parte nos seus pecados, senão vocês serão castigados juntamente com ela” (Ap 18:4 BV). Essa é uma convocação, uma invocação especial e irrecusável para cada indivíduo. Ela leva a entender e pressupõe uma questão controvertida de vida ou morte eterna.

Os selecionados e escolhidos não serão enganados e ludibriados, mas terão que fazer sua parte com subterfúgios próprios, cada um usando o seu “livre-arbítrio”, a faculdade de determinar-se a si mesmo, e decidir a quem servir com o seu tempo, tesouro, templo e talentos: a Deus ou ao tirano, aquele que abusa de seu poder para submeter o povo a um domínio arbitrário.

Contrariando e fazendo oposição à palavra de Deus, todas as igrejas tornaram-se instrumentos de explícita dominação. Ou melhor, converteram-se em meios de aplicabilidade de poder absoluto, diferenciando-se apenas na forma de criar circunstâncias e na maneira de oprimir. De uma forma ou de outra, exigem e requerem, com suposto direito, a submissão ao poder humano, atormentando os simples com autoritarismo e violência, levando-os cada vez mais a um estado de rebaixamento servil.

Esta faz diferença de roupa, aquela qualifica a falta de equidade na designação genérica das peças do vestuário, outras fazem diferença daquilo que se come, outras de dias, e até observam a medida da duração dos seres. Sem falar da pressão exercida sobre os membros para frequentarem todas as reuniões, que são de uma a três por dia, todos os dias. Enfim, são iguais.

Há pastores que vendem ou alienam mediante certo preço suas congregações como prova de domínio. Isto é, vendem a companhia dos anciãos, dos diáconos, dos porteiros serventes e de todos os irmãos leigos, como se vende um lugar em que se junta e recolhe o gado, um curral: “de porteira fechada” – é assim que costumam dizer. Nessa situação, os homens são comparados a animais, destituídos da imagem e semelhança de Deus; assim, os membros e todas as pessoas que fazem parte da corporação não passam de mercadoria.

Entretanto, argumenta Winn a nosso favor: “Mas se na experiência religiosa de alguém existe tal sentimento de opressão, de pesadas exigências pela submissão ao poder, então podemos ter certeza de que o Espírito Santo do Senhor não está ali. Ele não está envolvido em tal religião. Porque o Espírito Santo do Senhor não opera pela força” (WINN, 1987, p. 7). E complementa: “… Muito mais sutil do que a força física (e, portanto, mais eficaz) é a força emocional” (WINN, 1987, p. 7).

Essa força emocional, essa agitação passageira causada pela mistura de surpresa, medo e “alegria”, sutilmente feita com arte e delicadeza, tem se manifestado para reprimir por motivos impostos e proibir, pela ameaça ou pelo castigo, os membros que não se submeterem cegamente a seus pastores, logo injustamente. Alguns desses pobres sedentos que ainda alimentam grande desejo de liberdade são chamados, portanto, de “antidenominacionais”. Então, para estes diz a Palavra de Deus: “Meus filhinhos, não deixem que ninguém os engane. Aquele que faz o que é direito é justo, assim como Cristo é justo. Quem continua pecando pertence ao Diabo porque o Diabo peca desde a criação do mundo. E o Filho de Deus veio para isto: para destruir o que o Diabo tem feito” (I Jo 3:7-8 BLH).

Aqui está a verdade irrefutável para o homem de sã consciência que valoriza a sua liberdade: “pois o Senhor é o Espírito, e, onde se acha o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (II Co 3:17 BJ).

Capítulo I

PERCEBENDO A TRANSIÇÃO DO VELHO PARA O NOVO ACORDO

Na velha dispensação, Deus exigia e requeria, com direitos fundados, um procedimento de modelo oficial, padrão, adequado para aquela época e aquele longo período. Esse procedimento era baseado e fundamentado em formalidades, uma prática apenas exterior para a Sua veneração de culto, porque o Deus do Velho Testamento se apresentava, ou melhor, se oferecia para ser visto ou recebido como a fonte geradora, manancial de todas as bênçãos. “O Pai é a fonte, o Filho o intermediário e o Espírito o meio pelo qual a criação veio à existência” (TREZZA, 1968, p. 42). “O próprio Pai deu início ao plano de nossa redenção. O Filho de Deus desceu à Terra para nos reconciliar com o Pai e nos redimir para Ele. O Espírito Santo tira-nos das mãos de Satanás, sustenta-nos e nos fortalece. Ele faz em nós Sua habitação, purifica-nos, muda toda a nossa natureza, enche-nos de amor, gozo e paz. Ele nos dá coragem e poder espiritual” (HEPPENSTALL, 1976, p. 215).

Agora, para o Novo Testamento, o Próprio Deus encarnado pede para Si um culto de procedimento espontâneo, porque é fonte de toda Graça, e convida os adoradores como estão: “Vinde a mim todos, todos os que estais labutando e que estais sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11:28 TNMES). Não é necessário priorizar formalidades para cultuar o Deus Salvador, pois, estando Ele adaptado e ajustado ao meio social dos humanos, para ajudar o homem pecador, preocupa-se muito mais com a transformação dele, metamorfoseando a alma, do que com a sua aparência.

Não estamos dizendo que Deus mudou ou que se trata de outro Deus. Deus é um ser essencial, completo em Si, totalmente perfeito. Ele não muda Sua natureza, caráter, atributos e vontade, apenas mudou o conjunto de meios para um novo tratamento e acolhimento do homem. A imutabilidade de Deus não consiste em agir sempre da mesma maneira, do mesmo feitio com Suas criaturas, seja qual for o caso ou a circunstância, ou ainda o estado das coisas. Ele sempre faz o que é correto. Deus apenas adapta e coloca em harmonia o tratamento às Suas criaturas, o que às vezes nos faz perceber uma variação em Suas ações e caráter.

Por exemplo, quando um ímpio morre, não foi Deus quem mudou, mas Sua criatura que, então, passou a receber um tratamento ou acolhimento diferenciado, com um conjunto de medidas terapêuticas à Sua vontade. Todas as promessas e ameaças são feitas dependendo das circunstâncias externas, ou seja, condicionalmente, e presumem uma mudança na criatura e não em Deus.

I.1-Quais os Limites da Mensagem de Malaquias?

Quando o profeta Malaquias manifestou-se, ou melhor, deu a conhecer sua mensagem dizendo: “Trazei o dízimo integral para o tesouro a fim de que haja alimento em minha casa…” (Ml 3:10 BSV). O profeta estava olhando apenas para o momento, um tempo de confusão durante a ausência de Neemias (Ne 12:6), no curto espaço de tempo entre os anos de 430 a.C. e 420 a.C. Digamos, ele era o mensageiro para corrigir aquelas falhas presentes, vindas daquele pequeno grupo dos remanescentes dos 70 anos de cativeiro. Portanto, via a possibilidade de consertá-las de imediato. Só que o problema não foi resolvido por completo; pelo contrário, os “pastores”/sacerdotes usavam os dízimos da campanha de Malaquias para se infiltrarem e se impregnarem ainda mais no pecado. O povo, em completo desamparo, queixava-se: “…é inútil servir a Deus; e que lucro teremos se observarmos os seus preceitos e se andarmos de luto diante de Iahweh dos Exércitos?” (Ml 3:14 BJ). Exatamente como aconteceu no ministério de Jeremias: “Todos, pequenos e grandes, são gananciosos. Todos, profetas e sacerdotes, praticam a mentira. Querem tratar a desgraça do meu povo, superficialmente, dizendo: ‘Paz! Paz!’ Quando não há paz” (Jr 6:13-14 BSV). É semelhante ao que acontece hoje com os pregadores assalariados.

Malaquias, consciente de seu fracasso e insucesso, anunciou antecipadamente a vinda de um novo acordo: “Eis que vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o dia grande e horrível do Senhor” (Ml 4:5 BSEP). Jesus Cristo reconheceu e estabeleceu legitimamente João Batista como o Elias que devia vir, falando claramente: “E se quiserdes aceitá-lo, ele é o Elias que há de vir” (Mt 11:14 BSV). João anunciava e fazia conhecido a Jesus, e não uma fórmula de exigências, modo já estabelecido pelos hipócritas do Templo. Essa última (continuada por João Batista) foi a parte da campanha de Malaquias que deu certo e sempre dará, até que o Rei dos reis volte para completar a obra da redenção no homem. A outra parte, a inicial, foi temporária (a cerimonial).

O tempo fez caducar a mensagem economista, ou melhor, de cobrança do profeta Malaquias. O templo que ele chamou de “casa de Deus”, para o depósito dos dízimos arrecadados, foi finalmente posto abaixo quando o véu se rasgou de cima para baixo: “Pois o sol se escureceu. E o véu do templo rasgou-se pelo meio” (Lc 23:45 BRT). Bem pudera limitar Deus ou restringi-Lo em um local físico, não era para durar muito tempo; mas os pastores viciaram os crentes a chamarem as pomposas igrejas de casa de Deus: “Assim diz Iahweh: O céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés. Que casa me haveis de fazer?” (Is 66:1 BJ). Será que Malaquias não sabia disso? E agora, qual profeta verdadeiro pediria para o povo trazer os dízimos ou transportar os bens a um templo sem valor? Jesus (Yehôshua), depois de Sua ressurreição, que importância deu ao templo que antes havia purificado? Que consideração teve Ele para com a liderança templária?

Com a morte de Jesus (Yehôshua) na cruz, todo o sistema sacerdotal faliu. Foi cumprida, por completo, a profecia de Oséias: “…eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote…” (Os 4:6 JFA). As leis cerimoniais foram pregadas na cruz, ou melhor, foram invalidadas e desconsideradas com a cruz: “…Ele acabou com essa conta, pregando-a na cruz. E foi na cruz que Cristo tirou o poder dos governos e das autoridades espirituais…” (Cl 2:14-15 BLH). Cada homem convertido a Cristo e transformado por Ele, agora, torna-se a casa, morada de Deus, como alguém que tem o Espírito, por conseguinte, autodomínio, ou seja, é livre para servir, também, à causa do Senhor Jesus (Yehôshua): “Não sabeis que vós sois templo de Deus e que o espírito de Deus mora em vós?” (I Co 3:16 TNMES). Ninguém pode negar esta verdade: “Somente se vivermos em harmonia com a lei de Deus é que somos livres. Fora da verdade e da autoridade de Deus somos escravos. /…/ Só o homem controlado por Cristo é verdadeiramente livre” (HEPPENSTALL, 1976, p. 189).

Para se ter uma abençoada vida cristã, ninguém precisa estar ligado a coisas materiais ou depender de “boas obras” para impressionar a Deus, desejando merecer e ganhar favores e/ou forçar a comunhão; Ele não Se deixa comover. Basta a fé genuína em Jesus Cristo. “Justificados, pois, mediante a fé, tenhamos paz com Deus, por meio do nosso Senhor Jesus…” (Rm 5:1-2 BVN). Sem esse relacionamento de amizade, sem essa fé em Cristo, qualquer esforço para adquirir mérito ou valor moral não passa de mero legalismo e mera formalidade destituída de valor espiritual. “Deus é espírito; e importa que os seus adoradores O adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:24 BVN). Ou então: “A sua adoração não vale nada, porque ensinam suas leis feitas pelos homens, em lugar das leis que vêm de Deus” (Mt 15:9 BV).

I.2-Dízimos para quem?

O dízimo, na antiga Lei, era uma obrigação legal estabelecida para o sustento dos sacerdotes, levitas e do rei. A Bíblia registra: “Eis que aos filhos de Levi dou por herança todos os dízimos arrecadados em Israel, em compensação pelos seus serviços, isto é, o serviço que fazem na Tenda da Reunião” (Números 18:21, BJ) e “Ficará com a décima parte dos cereais e das uvas, para dar aos funcionários da corte e aos outros funcionários” (I Samuel 8:15, BLH).

No entanto, a situação se altera com a nova aliança em Cristo. Jesus, que não estava sujeito à Lei mosaica, não pagava dízimos. Volkmann (1992, p. 17) observa que as referências ao Templo e aos sacrifícios são escassas nos evangelhos, e Jesus demonstra uma postura crítica em relação a algumas práticas religiosas, como a didracma e o Corbã. Além disso, os líderes religiosos da época, como os sumos sacerdotes, são frequentemente retratados de forma negativa. A tentativa de eliminar Jesus demonstra o conflito entre a nova aliança e o sistema religioso estabelecido.

O apóstolo Paulo, em Hebreus, explora essa nova realidade, mostrando como o sacerdócio levítico foi substituído pelo sacerdócio de Cristo. Jesus, como Sumo Sacerdote, ofereceu o sacrifício perfeito, a si mesmo, tornando desnecessários os sacrifícios e os dízimos da antiga aliança. Woolsey (1979, p. 112) destaca a superioridade do sacerdócio de Cristo e a suficiência de seu sacrifício.

I.3-Quem São os Ladrões de Deus?

Malaquias, no Antigo Testamento, já denunciava a prática de líderes religiosos que "roubavam" as ofertas do povo, desviando-as para seus próprios interesses. Os congregados, por sua vez, também eram acusados de roubo por não entregarem os dízimos e ofertas devidos.

No Novo Testamento, o princípio da santificação continua relevante. A Bíblia nos exorta a desenvolvermos um caráter íntegro, pautado nos princípios divinos. Paulo, por exemplo, ao se comparar a um ladrão, não se referia a um ato de furto, mas à sua disposição de servir a outros, mesmo em detrimento de seus próprios interesses.

Heppenstall (1976, p. 204) nos ajuda a entender esse processo gradual de desvio moral, comparando-o à trajetória de personagens bíblicos como Hazael e Lúcifer. Ambos iniciaram seus caminhos de transgressão com pequenas decisões que, ao longo do tempo, os levaram a atos cada vez mais graves.

² “Eliseu chorou ao predizer o que Hazael estava para fazer, a começar com o assassínio do rei da Síria (Ben-Hadade). Hazael respondeu com horror. Negou que viesse a fazer qualquer coisa das preditas. Mas fez. (II Rs 8)” (HEPPENSTALL, 1976, p204).

Paulo, em 2 Coríntios 11:8 (TNMES), declara ter "roubado" de outras congregações para ministrar a outras. No entanto, essa afirmação deve ser compreendida no contexto de sua época e de suas missões. Ele não se referia a um ato de furto, mas à sua disposição em servir a outros, mesmo em detrimento de suas próprias necessidades.

Hoje, vemos líderes religiosos que utilizam recursos financeiros de suas congregações para fins que não são claros ou transparentes, às vezes enviando esses recursos para outros projetos sem a devida justificativa. Essa prática levanta questionamentos sobre a fidelidade desses líderes aos princípios bíblicos.

A Bíblia nos adverte contra a cobiça e o roubo (1 Coríntios 6:10, BSEP). É importante que os líderes religiosos sejam exemplos de integridade e transparência na gestão dos recursos financeiros da igreja. O dinheiro destinado à obra de Deus deve ser utilizado de forma sábia e responsável, priorizando as necessidades da própria congregação.

Autores adventistas como Trezza (1972) e Pierson (1975) afirmam que a Igreja Adventista do Sétimo Dia é a verdadeira igreja de Deus. No entanto, é fundamental que essa afirmação seja baseada em evidências bíblicas sólidas e não em um sentimento de superioridade em relação a outras denominações. A história da igreja nos mostra que o orgulho e a arrogância podem levar a sérias divisões e desvios doutrinários.

Capítulo II

A verdade requer responsabilidade

Dizer-se portador de toda a verdade é desmerecê-la, e afirmar ser o único portador da verdade, seja como pessoa física ou jurídica, é ainda pior. Os ditames da Verdade, para merecer confiabilidade, não precisam necessariamente ser antes hábito de uma denominação ou indivíduo credenciado. Eles são primeiramente teoria Divina, escrita no coração de cada pessoa na medida da responsabilidade a que Ele pretendeu. Por que essa arrogância pecaminosa da parte de uma igreja ou de uma pessoa em se autonomear portadora privativa da verdade dos últimos dias para o mundo?

Infelizmente, permanece ainda, neste mundo, na igreja e no coração de muitos pastores, um desejo quase irresistível, para o qual esses não oferecem resistência nenhuma, de tomar a verdade falsificada e a representação infiel da realidade como coisas genuínas. A verdade tem sido comprometida e escondida sob falsa aparência, camuflada em trapos, ora em pompas, apresentada em lugar-comum, ora em templos gloriosos; em frases, palavras e afirmações dissimuladas. Esse é o erro, o equívoco que os leva a crer que estão na verdade pelas propriedades materiais, supostas excelências morais, saudáveis pensamentos e humanos raciocínios, antes que em virtude do rejuvenescimento espiritual da vida de cada um, pela presença íntima da Pessoa genuína de Cristo Jesus em cada coração.

A transformação interior, concernente à alma do ser humano em geral, não será realidade, não será alcançada ou encontrada por decisiva coerência de lógica humana, por mais importante e considerável que isto possa ser. Tornar alguém verdadeiro cristão e professador do cristianismo original está além de nossa habilidade em meramente debater ou simplesmente discutir o assunto. O uso de uma inteligência brilhante e magnífica na investigação da verdade não assegura que a pessoa é cristã ou que um dia venha a sê-lo.

Mesmo que tenham muito merecimento, todas as nossas discussões e controvérsias a respeito da verdade apenas nos tornam genuínos cristãos quando conquistamos posição interior pela atividade salvadora de Cristo. A capacidade pessoal de conhecer o valor de uma total dedicação a Cristo e união com Ele é o único e distintivo aspecto da Sociedade Espiritual de Cristo. A realidade da salvação está em nossa relação de dependência com uma Pessoa viva, antes que na aquiescência de opiniões e conclusões dos homens. Só estamos de fato envolvidos e comprometidos com a verdade até onde estivermos ligados a Cristo, como o dedo ligado à mão.

É necessário tanto o nosso conhecimento intelectual da verdade quanto o nosso envolvimento e comprometimento com ela. Se conhecermos a verdade apenas como informação e não a experienciarmos, teremos uma visão apenas parcial e restrita da mesma. Não estaremos efetivamente vivendo a verdade. O problema para alguns não é que não creiam em Deus intelectualmente, mas que não O encontrem e adorem na realidade, experimentando uma extraordinária impressão de prazer pessoal.

II.1-Como se Revelam os Profissionais Medianeiros da “Verdade”?

Os pastores se julgam no direito de servir de consciência para os seus fiéis, não só no assunto do dízimo, mas também em usos e costumes, e, assim como Lúcifer, estão construindo seus tronos acima de Deus. Porém, aconselhamos a não copiar modelos humanos. “Se confiais noutras pessoas quanto a vossas informações, com toda probabilidade acabareis compreendendo mal a Deus. /…/ Há igrejas cheias de pessoas hoje em dia que dependem dos pregadores quanto às suas informações. /…/ Os pregadores podem estar errados como qualquer outra pessoa. /…/ Orai para manter comunicação” (VENDEN, 1981, p. 42). “Não devemos esperar que o Espírito Santo use a consciência de outra pessoa para chegar até a nossa própria consciência” (WOOLSEY, 1979, p. 203). Ellen White diz: “Em questão de consciência, a alma deve ser deixada livre. Ninguém deve controlar o espírito de outro, julgar por outro, ou prescrever-lhe o dever. Deus dá a toda alma liberdade de pensar, e seguir suas próprias convicções” (apud WOOLSEY, 1979, p. 203).

Com essas palavras e a Bíblia empunhada, a Teologia da sã consciência ganha respaldo: “Mas vocês receberam o espírito Santo, que vive em vocês, dentro dos seus corações, a fim de que não precisem de ninguém para ensinar-lhes o que é direito. Porque Ele lhes ensina todas as coisas, e ele é a Verdade, e não um mentiroso; portanto, tal como Ele disse, vocês devem viver em Cristo, e nunca afastar-se dEle” (I Jo 2:27 BV). De outro modo, a Verdadeira Mensagem Reformadora, título que abona a todos, realiza a novidade de vida sem pretender custar alguma coisa ao homem penitente. E ela se reserva a ele somente na condição de um relacionamento a sós com Deus e no envolvimento com a Graça sob a guia do Espírito Santo.

A parte a desempenhar do verdadeiro comunicador da Bíblia, como membro da Sociedade Espiritual de Cristo, é de facilitador. Do outro lado, é o indivíduo que constrói seu próprio conhecimento, recebendo influências boas ou más da vida; o ideal é que cada qual tenha sua própria experiência de salvação diretamente de Cristo. Sabemos que cada experiência é diferente da outra, bem como a prática renovadora de cada dia. “Porém a senda dos justos é como a luz da aurora, que aumenta em claridade até o pleno dia. O caminho dos ímpios é tenebroso: não sabem onde vão tropeçar” (Pv 4:18-19).

Enquanto o irmão de igreja estiver preocupado em refletir os seus dirigentes “espirituais” (pastor etc.), não conseguirá refletir e ecoar a Glória de Deus. Não é possível olhar para os outros e para Cristo, em busca de exemplo, ao mesmo tempo. No momento em que desviamos o olhar de Cristo, as ondas se interpõem diretamente entre nós e Ele. Não queremos ser como Diótrefes, que favorecia seus próprios desígnios: está sempre na liderança, liderar por liderar. Satanás já dispõe de muitos instrumentos para enganar, o suficiente! “Em seu amor próprio, Diótrefes seguiu o precedente de Satanás, que quis ser o primeiro – acima até de Deus. Ver Isa.14 e Ezeq.28” (GALLANGHER, 1997, p. 4, lição 13). “Os que causam dificuldades aos fiéis mensageiros do Senhor, que os desanimam, que se colocam entre eles e o povo, para que sua mensagem não tenha a influência que Deus tencionava que tivesse, são responsáveis pelos enganos e heresias que penetram na igreja como resultado de sua conduta” (WHITE, 1980, p. 53). Devemos sair do meio e deixar que nossos admiradores vejam a verdadeira fonte de luz.

Não estamos propondo a criação de uma nova igreja, mas sim a formação de comunidades de fé autênticas, livres das amarras de sistemas religiosos que muitas vezes distorcem a mensagem de Cristo. Nossa proposta é que nos afastemos daquilo que a Bíblia chama de "Babilônia", um sistema religioso corrompido e opressor.

Jesus nos ensinou a sermos "no mundo, mas não do mundo" (João 17:15-17). Podemos conviver em sociedade, mas não devemos nos conformar aos padrões mundanos e ao pecado. A parábola do joio e do trigo (Mateus 13:30) ilustra essa realidade: em meio ao mundo, haverá sempre o bem e o mal, mas os verdadeiros seguidores de Cristo devem buscar a santidade.

Heppenstall (1976, p. 204) nos lembra da importância de denunciar o mal e amar a retidão. Os membros da Sociedade Espiritual de Cristo são aqueles que, com sinceridade e honestidade, buscam viver de acordo com os princípios bíblicos, mesmo que isso signifique ir contra a corrente.

Capítulo III

No Novo Testamento, o sacerdócio é exercido exclusivamente por Jesus Cristo. Ele é o único sumo sacerdote, garantindo um acordo eterno entre Deus e a humanidade. Como afirma Hebreus 7:21-24 (BLH), "Porém Jesus se tornou sacerdote quando Deus Lhe disse: ‘O senhor jurou e não voltará atrás. O senhor disse: você será sacerdote para sempre.’ [...] Mas Jesus vive para sempre, e o seu sacerdócio não passa para nenhum outro". Hills (1982, p. 165) reforça essa ideia ao afirmar que Jesus é o único sacrifício, sacerdote, juiz e rei.

É crucial destacar que Jesus, em sua missão terrena, não instituiu o dízimo como prática para seus seguidores. Ao contrário, Ele criticou os fariseus por se concentrarem em aspectos superficiais da lei, como o dízimo, negligenciando a justiça, a misericórdia e a fidelidade (Mateus 23:23, TNMES). Filho (1988, p. 112) ressalta que o Novo Testamento não prescreve o dízimo para os cristãos, mas enfatiza a importância de dar com alegria.

Jesus criticou os fariseus por sua excessiva ênfase no dízimo, em detrimento de virtudes mais importantes como a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Ao exigir o dízimo, mas negligenciar esses princípios fundamentais, os fariseus demonstravam uma religiosidade superficial e hipócrita.

O versículo 28 de Mateus 23 revela que a prática dos fariseus era motivada pela busca pela aprovação humana e pela tentativa de esconder seus pecados. O dízimo, nesse contexto, não era um ato de fé genuína, mas sim uma performance religiosa.

O apóstolo Paulo, em Hebreus 12:1-2 (NTV), nos exorta a nos livrarmos de tudo que possa nos impedir de correr a corrida da fé com perseverança. O dízimo, nesse sentido, pode se tornar um fardo que impede o cristão de focar no que realmente importa: um relacionamento profundo com Deus.

III.1-Jesus Cristo Tratou os Fiéis Dizimistas como A Igreja Trata, hoje, os Infiéis a ela?

A imposição do dízimo pode criar a ilusão de que a salvação pode ser comprada, incentivando a ideia de que boas obras, como o pagamento do dízimo, garantem o favor divino. Essa perspectiva, porém, contradiz o ensino de Jesus. Ao elogiar a oferta da viúva pobre, Jesus valorizou não o valor monetário, mas a disposição do coração. A viúva, em sua pobreza, deu tudo o que tinha, demonstrando uma fé genuína que superava as ofertas dos ricos.

A ênfase no dízimo pode desviar o foco do verdadeiro propósito do cristianismo: um relacionamento pessoal com Deus e um compromisso com o serviço aos outros. Ao invés de se concentrar em dar uma porcentagem fixa de seus rendimentos, os cristãos são chamados a viver uma vida de generosidade e a colocar seus recursos a serviço do Reino de Deus.

Como afirma Rittenhouse (1984, p. 220), "A verdade é que Deus toma em consideração apenas o indivíduo. A igreja é a menina dos Seus olhos somente porque ela consiste de uma comunhão de seres individuais". A salvação é um presente gratuito de Deus, e não algo que se conquista por meio de obras.

A ideia de que o dízimo equivale a dar a própria vida é enganosa. O verdadeiro seguidor de Cristo não se limita a dar dinheiro, mas sim a doar seu tempo, seus talentos e sua vida inteira ao serviço de Deus. Jesus, ao convidar o jovem rico a vender tudo o que tinha e segui-lo, demonstrou que a verdadeira riqueza está em servir a Deus e ao próximo.

A insistência no dízimo como condição para a salvação ou para manter o bom standing dentro de uma comunidade de fé distorce o verdadeiro significado do cristianismo. Jesus, ao interagir com o jovem rico, demonstrou que a verdadeira riqueza está em um relacionamento pessoal com Deus e em servir ao próximo. O foco em bens materiais e em cumprir leis religiosas a rigor, como o dízimo, obscurece a essência do evangelho.

A história da igreja mostra que, ao longo dos séculos, a ênfase no dízimo tem sido utilizada para controlar e manipular os membros. Manuais de igrejas, como o citado por Conrado (1981), estabelecem regras rígidas sobre o pagamento do dízimo, vinculando-o à manutenção do status de membro. Essa prática cria um ambiente de culpa e medo, onde os fiéis se sentem obrigados a contribuir financeiramente, independentemente de suas condições.

Heppenstall (1976, p. 192) acertadamente afirma que "Uma religião que condena seus membros a um perpétuo sentimento de culpa é uma religião fútil". A fé cristã deve ser uma fonte de libertação e esperança, não de culpa e condenação.

III.2-Como e Por que o Apóstolo Paulo Evitava a Aparência do Mal?

A influência que exercemos sobre os outros é inestimável. Como afirma Mansell (1982, p. 205), "Todos nós, quer o percebamos quer não, lançamos sombras — isto é, exercemos influência sobre os outros". Sendo assim, é fundamental que os cristãos se questionem sobre a natureza dessa influência.

Paulo, em suas cartas, nos oferece um exemplo a ser seguido. Embora tivesse o direito de receber remuneração por seu trabalho como pregador, ele optou por não fazê-lo, temendo que isso comprometesse a pureza de sua mensagem (1 Coríntios 9:12). Ele preferiu trabalhar com suas próprias mãos, como fabricante de tendas (Atos 18:3), demonstrando que o serviço a Deus não é uma profissão, mas uma vocação.

O apóstolo Paulo entendia que o evangelho não era uma mercadoria a ser vendida, mas um tesouro a ser compartilhado gratuitamente. Ele afirma em 1 Coríntios 9:16 que "Anunciar o evangelho não é título de glória para mim; é, antes, uma necessidade que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho!".

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¹ Rodapé da Bíblia Vida Nova, comentando At. 18:3.

Deus, em Sua sabedoria, equipou Seus servos com diversas habilidades e experiências antes de chamá-los para o ministério. Profetas como Amós e Sofonias, por exemplo, exerciam profissões comuns antes de serem chamados por Deus. Como afirma Hills (1982, p. 205), "Deus tem dado dons e talentos a cada pessoa, e se Lho permitirmos Ele usará esses dons e talentos para ajudar outros a encontrar o caminho da salvação".

O apóstolo Paulo é um exemplo claro dessa prática. Antes de se tornar um missionário, ele era fabricante de tendas (Atos 18:3). Paulo escolheu não receber remuneração por seu ministério, temendo que isso pudesse comprometer a pureza de sua mensagem e dar aos seus críticos um motivo para desacreditar o evangelho. Ele escreveu em 1 Coríntios 9:12 que "Nunca exigimos pagamento de qualquer espécie temendo que, se o fizéssemos, vocês pudessem ficar menos interessados na nossa mensagem da parte de Cristo para vocês".

Essa atitude de Paulo nos ensina que o ministério não é uma profissão, mas uma vocação. Todos os cristãos são chamados a servir a Deus, utilizando seus dons e talentos para fazer avançar o Reino de Deus. Nosso trabalho secular, portanto, não deve ser visto como um obstáculo ao nosso chamado, mas sim como uma oportunidade para testemunhar de Cristo e servir aos outros.

A questão da remuneração de líderes religiosos é complexa e gera diversas interpretações. Nascimento (1992, pp. 336-337) argumenta que a relação entre o pastor e a congregação não se enquadra em um contrato de trabalho tradicional. O autor destaca que o trabalho religioso é motivado por uma vocação e não por interesses financeiros, e que a remuneração recebida pelos líderes religiosos não é um salário, mas sim uma contribuição para o sustento daqueles que dedicam suas vidas ao serviço de Deus.

No entanto, a prática atual muitas vezes diverge dessa perspectiva. A exigência de salários elevados para líderes religiosos, especialmente em grandes igrejas, tem levantado questionamentos sobre a pureza de seus motivos. Jesus, em suas instruções aos discípulos, enfatizou a importância de um estilo de vida simples e itinerante (Mateus 10:10; Lucas 10:4). Ele os enviou para pregar o evangelho sem exigir pagamento, confiando em que as comunidades os acolheriam e sustentariam.

A transformação do ministério em uma profissão pode gerar conflitos de interesse e comprometer a mensagem do evangelho. Quando o foco se desloca da proclamação do reino de Deus para a obtenção de recursos financeiros, a integridade do ministério é colocada em risco. Como Paulo alertou, a preocupação com o sustento material pode levar a tentação de explorar os fiéis, em vez de servi-los.

Capítulo IV

A Empresa da Fé Ridicularizando o Dom da Pregação

A prática de transformar a obra missionária em um empreendimento empresarial, com a contratação formal de pastores e a exigência de doações regulares, levanta sérias questões. Afinal, por que aderir a um sistema que se assemelha tanto a uma empresa secular? A seleção de obreiros por meio de processos seletivos, a oferta de benefícios como férias e aposentadoria, e a exigência de qualificações formais parecem contradizer a essência do chamado cristão.

O evangelho de Jesus Cristo não se restringe a instituições religiosas formais. A pregação do evangelho é um chamado universal, e qualquer pessoa pode participar, independentemente de formação teológica ou de vínculos institucionais. A história da igreja está repleta de exemplos de leigos que, movidos pelo Espírito Santo, realizaram um trabalho missionário poderoso.

A ideia de que a pregação do evangelho seja uma profissão remunerada contraria o exemplo de Jesus e dos apóstolos. Jesus enviou Seus discípulos para pregar sem exigir pagamento, confiando em que seriam providos pelas comunidades que visitavam. Os apóstolos, por sua vez, combinavam seu trabalho missionário com ocupações seculares para se sustentar.

Ao transformar o ministério em uma profissão, corre-se o risco de mercantilizar o evangelho e de desviar o foco do que realmente importa: a proclamação das boas novas de salvação. A ênfase em qualificações formais e em estruturas organizacionais pode limitar o alcance da mensagem de Cristo e impedir que pessoas com diferentes dons e talentos participem do trabalho missionário.

IV.1-Comete Pecado Quem não Paga Dízimos?

Paulo, em sua visão sobre o ministério, demonstrava uma clara preocupação com a pureza do evangelho. Ele se recusava a receber pagamento por sua pregação, temendo que isso criasse a impressão de que ele estava explorando os outros ou que o evangelho fosse uma mercadoria a ser vendida. Como ele mesmo afirmou em 1 Coríntios 9:12, "Nunca exigimos pagamento de qualquer espécie...".

Imagine a seguinte situação: um crente, seguindo o exemplo de Paulo, oferece uma contribuição financeira ao seu pastor, e este se recusa a recebê-la. Nesse caso, o crente estaria pecando por não oferecer sua contribuição? Certamente não. Pelo contrário, o apóstolo Paulo, ao se negar a receber dinheiro, estava demonstrando um desprendimento e um amor genuíno pelo evangelho.

Essa postura de Paulo e dos outros apóstolos era motivada pela observação dos resultados da prática de cobrar dízimos entre os fariseus. Como Jesus observou em Mateus 23:28, os fariseus "pareceis por fora justos aos homens", mas seus corações estavam longe de Deus. A ênfase no cumprimento de leis religiosas e no pagamento de dízimos havia se transformado em uma mera formalidade religiosa, sem um verdadeiro compromisso com Deus.

A teologia da prosperidade e a ênfase no dízimo como uma obrigação religiosa podem ter efeitos semelhantes, incentivando a ostentação e a busca por benefícios materiais em vez de um relacionamento genuíno com Deus.

IV.2-Como valorizar o ministério individual?

A responsabilidade de cuidar dos outros é um chamado divino que se estende a todos os cristãos. Somos chamados a ser mordomos dos bens de Deus e a compartilharmos com aqueles que necessitam. Como afirma Heppenstall (1976, p. 133), "Aquele que experimenta o poder salvador de Deus deve participar da vida dos que o cercam, tomando sobre si as necessidades e encargos daqueles que não conhecem a Cristo".

Jesus nos ensinou que servir ao próximo é, na verdade, servir a Ele. Em Mateus 25:34-40, Ele declara: "... O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que sempre que o fizestes a um destes pequeninos irmãos, a mim o fizestes". Ao atendermos às necessidades dos mais necessitados, seja no âmbito espiritual ou material, estamos, na verdade, demonstrando nosso amor por Cristo.

IV.3-Qual Deve Ser Nosso Envolvimento com a Tesouraria da Igreja Local?

A questão da doação para a igreja e a responsabilidade individual do cristão em relação aos seus bens é um tema complexo e delicado. Muitos se perguntam: é pecado confiar o cuidado dos recursos financeiros da igreja a um tesoureiro? A resposta não é simples, pois depende de diversos fatores, como a gestão dos recursos e a transparência da igreja. No entanto, é fundamental que cada cristão assuma sua própria responsabilidade em relação aos seus bens e não transfira essa responsabilidade para a igreja.

O apóstolo Paulo nos adverte sobre os perigos da conivência com o mal. Em Romanos 1:32, ele afirma: "Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais cousas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem". Ao doar para uma igreja, é importante que o cristão tenha a certeza de que seus recursos estão sendo utilizados de forma justa e transparente.

A parábola dos talentos, em Mateus 25, nos ensina que Deus nos confia bens para que os administremos com fidelidade. Cada um de nós é responsável por seus próprios talentos e recursos, e será cobrado por Deus por como os utilizamos. Como afirma Heppenstall (1976, p. 133), "Dar dinheiro à igreja como substituto do cuidado pelo povo, é negação daquilo que significa ser cristão".

Venden (1981, p. 292) argumenta que não somos responsáveis por julgar o uso dos fundos da igreja, a menos que tenhamos sido designados para essa tarefa. No entanto, essa afirmação pode levar a uma postura passiva e irresponsável por parte dos membros da igreja. É importante que os cristãos estejam engajados na vida da igreja e se certifiquem de que seus recursos estão sendo utilizados para o propósito para o qual foram doados.

Em resumo, a responsabilidade de cuidar dos necessitados é individual e cada cristão deve agir de acordo com sua consciência e com as orientações bíblicas. Ao doar para a igreja, é fundamental que o cristão tenha a certeza de que seus recursos estão sendo utilizados de forma justa e transparente. A omissão em relação às questões financeiras da igreja pode ser considerada um pecado, pois Tiago 4:17 afirma: "Lembrem-se também de que, saber o que deve ser feito e não fazer, é pecado".

Cada cristão é um mordomo de Deus, responsável por administrar os recursos que lhe são confiados. Essa responsabilidade inclui a decisão de como, quando e onde doar. Como afirma Romanos 14:12, "Assim, pois, cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus". Deus nos confiou tudo o que possuímos, como afirma o Salmo 24:1: "Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e todos os que nele habitam".

A responsabilidade de compartilhar o evangelho não se limita aos pastores ou líderes religiosos. Cada cristão é chamado a ser um missionário e a utilizar seus recursos - tempo, talentos e bens materiais - para alcançar outros com a mensagem de Cristo. A igreja deve ser um facilitador desse processo, não um obstáculo. Como afirma White, "A comissão do Salvador aos discípulos incluía todos os crentes. Abrange todos os crestes em Cristo até ao fim dos séculos".

Ao restringir a utilização dos dízimos e ofertas, a igreja pode estar impedindo que seus membros participem ativamente da obra missionária. Jesus, ao comandar Seus discípulos a fazerem discípulos de todas as nações, não estabeleceu uma burocracia religiosa, mas sim um movimento de pessoas comprometidas em levar as boas novas ao mundo.

No dia do juízo, cada um de nós prestará contas de como utilizamos os recursos que Deus nos confiou. Aqueles que enterraram seus talentos, como o servo inútil da parábola, serão condenados. É fundamental que cada cristão assuma sua responsabilidade individual e utilize seus recursos para o avanço do reino de Deus.

IV.4-Em que condições o Cristão está Livre para Contribuir?

Em vez de exigir dízimos, a igreja deve incentivar ofertas voluntárias. A oferta voluntária, dada com alegria e livremente, demonstra um coração grato e generoso. Como afirma Riggs (1980, pp. 204-205), "Assim como o Senhor Jesus Se assentou para observar como o povo lançava suas ofertas no gazofilácio, assim também podemos estar certos de que, ainda hoje, Ele observa não apenas a quantia que depositamos, mas principalmente o espírito com que o fazemos".

O dízimo, por ser uma obrigação imposta, pode transformar a expressão da fé em uma mera transação financeira. Santos (1992, p. 32) destaca que o dízimo "é um pagamento a Deus daquilo que Ele nos abençoa", o que pode gerar uma visão mercantilista da relação com Deus. A oferta voluntária, por outro lado, é fruto de um coração agradecido e de um desejo genuíno de contribuir para a obra de Deus.

A prática de ofertar não deve ser confundida com a de pagar o dízimo. A oferta é uma expressão de amor e gratidão, enquanto o dízimo pode ser visto como uma obrigação legalista. Ao transformar a oferta em uma obrigação, corre-se o risco de desviar o foco da essão espiritual da prática e de criar um ambiente de cobrança e controle.

Venden (1981, p. 338) afirma que "Não há nada em nossa devolução do dízimo, em nossos jejuns ou em qualquer de nossas boas obras que nos recomende a Deus". A salvação é um presente de Deus, não algo que podemos comprar com nossas ofertas. As boas obras são o fruto de uma fé genuína, mas não são a base da nossa salvação.

A igreja deve criar um ambiente onde os membros se sintam livres para expressar sua generosidade de acordo com suas próprias convicções e possibilidades. Ao enfatizar a importância da oferta voluntária, a igreja promove um relacionamento mais autêntico e pessoal com Deus.

A prática do dízimo, muitas vezes, é apresentada como uma exigência religiosa e uma forma de garantir a bênção divina. No entanto, essa perspectiva pode distorcer a verdadeira natureza da dádiva e gerar uma relação de troca entre o crente e Deus. Como afirma Woolsey (1979, p. 277), “O Senhor, porém, não precisa de nosso dinheiro. Ele quer o nosso coração”.

A Bíblia incentiva a generosidade e a boa vontade nas doações, como podemos ver em 2 Coríntios 9:7: “Que cada um dê conforme resolveu seu coração, não com tristeza nem por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria”. A oferta deve ser um ato espontâneo, motivado pelo amor a Deus e ao próximo.

A prática dos primeiros cristãos, descrita em Atos 4:34-35, serve como modelo para nós: "Não havia entre eles indigentes. Os proprietários de campos ou casas vendiam e iam depositar o preço do vendido aos pés dos apóstolos. Repartia-se então a cada um segundo sua necessidade". Essa atitude de compartilhar os bens com os necessitados demonstra um genuíno amor ao próximo e uma confiança em Deus.

A teologia da sã consciência nos ensina que cada cristão deve ser livre para decidir como e quanto doar. A ênfase não deve estar na quantia doada, mas na motivação do coração. Como afirma 2 Coríntios 8:12, “Pois se há prontidão de vontade, será aceita segundo o que qualquer tem, e não segundo o que não tem”.

Ao transformar a oferta em uma obrigação, o dízimo pode criar um ambiente de cobrança e culpa, afastando as pessoas de uma relação autêntica com Deus. A generosidade deve ser fruto de um coração transformado pelo amor de Cristo, e não de uma lei religiosa.

Análise das alterações:

A exigência de dízimos e ofertas, muitas vezes, cria a falsa impressão de que podemos comprar a salvação ou garantir as bênçãos de Deus. Jesus, em Mateus 17:26, afirma que "os filhos estão isentos de impostos", referindo-se à didracma, um tributo pago no Templo. Embora tenha pago a didracma para evitar escândalos, Jesus não o fez por concordar com essa prática, mas sim por um motivo estratégico.

A Teologia da Sã Consciência nos ensina que a dádiva deve ser fruto de um coração grato e não de uma obrigação. Como diz Mateus 10:8, "Recebestes de graça, dai de graça!". A Bíblia incentiva a generosidade, mas não estabelece um sistema de pagamento por bênçãos divinas.

O apóstolo Paulo, em 1 Tessalonicenses 2:9, exemplifica o serviço desinteressado ao pregar o evangelho sem buscar lucro pessoal. A motivação para servir deve ser o amor a Deus e ao próximo, e não o desejo de recompensas materiais.

É importante distinguir entre os impostos civis e as ofertas religiosas. Os impostos são pagos ao governo em troca de serviços prestados, enquanto as ofertas são dadas voluntariamente como expressão de gratidão a Deus. Jesus, ao dizer "Pagai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus" (Mateus 22:21), estabelece uma clara distinção entre os dois.

A exigência de dízimos pode criar um ambiente de legalismo e mercantilismo, desviando o foco da verdadeira essência da fé. A dádiva deve ser um ato livre e espontâneo, motivado pelo amor a Deus e ao próximo.

IV.5-É Importante para o Doador o Destino da Doação?

A verdadeira religião, segundo Tiago 1:27, consiste em "ajudar os órfãos e as viúvas nas suas aflições". Jesus, em Mateus 25:40, enfatiza que servir aos mais necessitados é servir a Ele. Paulo, em Atos 18:28, nos encoraja a não discriminar ninguém, ampliando nossa responsabilidade para com todos os necessitados.

A Bíblia nos mostra exemplos de como os primeiros cristãos cuidavam uns dos outros, compartilhando seus bens. Em Atos 4:34-35, lemos que "não havia entre eles indigentes". A comunidade cristã primitiva vivia uma vida de comunhão, onde as necessidades de todos eram supridas.

No entanto, ao longo da história da igreja, muitas vezes a ênfase se desviou do cuidado para com os necessitados e passou a se concentrar na construção de grandes templos e na manutenção de uma estrutura eclesiástica complexa. Malaquias 3:10 nos adverte sobre a importância de trazer todos os dízimos à casa do Senhor, mas essa passagem não deve ser interpretada isoladamente. O contexto histórico e cultural da época precisa ser considerado.

A teologia da sã consciência nos ensina que a dádiva deve ser fruto de um coração grato e não de uma obrigação legal. Quando a igreja se torna uma instituição que exige dízimos e ofertas, corre o risco de transformar a fé em uma transação comercial. Jesus condenou aqueles que transformavam a casa de Deus em um covil de ladrões (Mateus 21:13).

A Bíblia nos mostra que a verdadeira riqueza está em servir a Deus e ao próximo. Paulo, em 1 Tessalonicenses 2:9, declara que trabalhou dia e noite para não ser um fardo para ninguém. O amor ao próximo deve nos motivar a servir e a dar, sem esperar nada em troca.

É fundamental que a igreja volte às suas raízes e resgate os valores do cristianismo primitivo. A ênfase deve estar no cuidado dos mais necessitados, na pregação do evangelho e na construção de comunidades de fé autênticas.

Capítulo V

O Porquê das Igrejas

A origem da igreja remonta ao chamado de Jesus aos seus doze discípulos. No entanto, a igreja que emergiu desse chamado evoluiu de diversas maneiras. Enquanto a igreja invisível, composta por todos os verdadeiros seguidores de Cristo, transcende denominações e locais de culto, a igreja institucional, com suas estruturas e hierarquias, se multiplicou ao longo dos séculos.

Jesus prometeu estar presente em qualquer lugar onde dois ou três se reunissem em seu nome (Mateus 18:20). Essa promessa garante a continuidade da igreja invisível, independente de denominações ou organizações religiosas. A igreja institucional, por outro lado, tem sido marcada por divisões e disputas, muitas vezes motivadas por interesses pessoais e não por princípios bíblicos.

Edmund Morais Neto, em um artigo, descreve o processo de formação de novas igrejas evangélicas, destacando a facilidade com a qual grupos podem se organizar e se estabelecer. Essa proliferação de igrejas, muitas vezes, ocorre sem um acompanhamento teológico adequado, o que pode levar ao surgimento de movimentos religiosos questionáveis.

É importante distinguir entre a verdadeira igreja, que é o corpo de Cristo, e as instituições religiosas que se dizem representantes dela. A igreja invisível é composta por todos aqueles que genuinamente creem em Jesus e o seguem, independentemente de sua afiliação denominacional.

A proliferação de novas igrejas evangélicas nos últimos anos tem gerado debates sobre a qualidade teológica e a ética dessas instituições. A facilidade com que qualquer pessoa pode se autodenominar pastor e fundar uma igreja levanta questões sobre a natureza da fé e a busca por lucro em nome da religião.

A liberdade religiosa garantida pela Constituição permite a criação de novas igrejas, mas essa liberdade não isenta os líderes religiosos de uma responsabilidade ética e teológica. A proliferação de igrejas sem uma base sólida na Escritura Sagrada e sem um preparo adequado dos seus líderes pode levar à disseminação de falsas doutrinas e à exploração dos fiéis.

A oferta de cursos rápidos e baratos para formação de pastores, muitas vezes por correspondência, evidencia a falta de rigor teológico em algumas dessas igrejas. A motivação financeira parece ser o principal fator que impulsiona a criação de novas denominações, em detrimento da busca por uma fé autêntica e transformadora.

É preocupante a forma como algumas dessas igrejas direcionam seus esforços para atrair pessoas com menor instrução religiosa, explorando a fé simples e a esperança de muitos. A falta de conhecimento bíblico e teológico por parte dos líderes dessas igrejas pode levar à disseminação de heresias e práticas antibíblicas.

A história do cristianismo demonstra que as grandes divisões religiosas ocorreram em função de profundas divergências teológicas e filosóficas. A criação de novas igrejas sem uma base sólida na tradição cristã e sem um diálogo com outras denominações pode levar a um fragmentação da fé e a um enfraquecimento do testemunho cristão.

É fundamental que os cristãos sejam mais exigentes em relação às igrejas que frequentam, buscando aquelas que se baseiam na Bíblia, que valorizam a educação teológica e que se preocupam com o bem-estar espiritual e social de seus membros.

A proliferação de novas igrejas, muitas vezes, tem se mostrado mais preocupante do que edificante. Enquanto a religião genuína busca conectar o indivíduo a uma força superior e promover valores éticos, muitas dessas novas denominações parecem mais interessadas em números e lucros do que em espiritualidade.

A definição clássica de religião envolve uma crença profunda, uma filosofia de vida e um compromisso com valores morais. No entanto, muitas dessas novas igrejas reduzem a fé a um mero espetáculo, utilizando técnicas de marketing e manipulação emocional para atrair seguidores. A ênfase em rituais extravagantes e mensagens simplistas, muitas vezes acompanhadas por altos volumes de som, pouco contribui para um aprofundamento espiritual.

A prática de utilizar alto-falantes em volumes excessivos durante cultos religiosos, além de incomodar os vizinhos, demonstra uma falta de respeito pela comunidade e pela própria fé. A religião não deveria ser uma imposição, mas sim uma experiência pessoal e transformadora.

A questão do barulho excessivo gerado por essas igrejas levanta importantes questões sobre os direitos dos cidadãos e a regulamentação das atividades religiosas. A liberdade religiosa não significa liberdade para infringir as leis e os direitos dos outros.

Muitas vezes, a igreja institucional, com suas estruturas e hierarquias, parece priorizar atividades sociais em detrimento da experiência espiritual individual. Essa inversão de prioridades pode levar à atrofia do crescimento espiritual dos fiéis.

Como afirma Spangler (1988), a igreja institucional visível e a comunhão espiritual dos crentes não são sinônimos. A verdadeira igreja é aquela formada por todos aqueles que genuinamente creem em Cristo, independentemente de sua afiliação a uma denominação específica.

A carta de João (1 João 2:27) nos ensina que o Espírito Santo habita em cada crente e nos guia na verdade. Isso significa que não precisamos de intermediários para ter um relacionamento pessoal com Deus. A verdadeira comunhão cristã ocorre quando os crentes se reúnem para estudar a Bíblia, orar e se encorajar mutuamente, sem a necessidade de uma estrutura eclesiástica rígida.

Essa comunhão espontânea é a única que pode levar à plena realização do plano de salvação de Deus. É a igreja invisível, composta por todos os verdadeiros seguidores de Cristo, que será reunida no dia do juízo final, conforme as promessas bíblicas (João 10:16).

É importante questionar o papel da igreja institucional na vida dos cristãos. Se a igreja se limita a oferecer serviços sociais, ela pode ser facilmente substituída por outras instituições. A verdadeira igreja deve ser um lugar onde as pessoas encontram significado, propósito e uma comunidade de fé.

Conclusão

A Bíblia nos ensina que dar é um ato de fé e gratidão, e que Deus multiplica nossas ofertas quando as fazemos com um coração generoso. Jesus prometeu grandes recompensas para aqueles que o seguem, mesmo que isso implique em renunciar a bens materiais (Lucas 18:29-30).

A decisão de como e quanto doar deve ser pessoal e motivada pelo amor a Deus e ao próximo. Ao darmos livremente, sem esperar nada em troca, estamos demonstrando nossa confiança em Deus e participando de sua obra na terra.

Muitas pessoas são atraídas por igrejas que prometem prosperidade material e sucesso financeiro. No entanto, a verdadeira riqueza espiritual não se encontra em bens materiais, mas em um relacionamento pessoal com Deus. A Bíblia nos adverte contra os falsos profetas que prometem coisas que não podem cumprir.

O Espírito Santo nos guia e nos ensina todas as coisas (João 14:26). Ao seguirmos a orientação do Espírito, podemos tomar decisões sábias e evitar sermos enganados por falsas doutrinas.

Ao longo da história, muitos crentes têm sido desafiados a escolher entre seguir a Deus ou as tradições humanas. A decisão de seguir a Cristo exige fé, obediência e um compromisso de renunciar à própria vontade.

É comum que os membros de uma igreja se sintam pressionados a manter determinadas práticas, como o pagamento de dízimos, por medo de serem marginalizados ou perderem seus cargos. Essa pressão social pode levar muitos a agir contra sua própria consciência e a tomar decisões que contrariam os princípios bíblicos.

A decisão de seguir a Cristo nem sempre é fácil. Ao longo da história, muitos cristãos foram perseguidos e marginalizados por causa de sua fé. Como afirma Heppenstall (1976), "Nos dias atuais, requer-se muita coragem moral para viver corretamente. Virá sem dúvida o tempo em que teremos de permanecer sozinhos pelo que cremos".

É importante lembrar que a verdadeira fé não se baseia em regras impostas por homens, mas sim em um relacionamento pessoal com Deus. A Bíblia nos chama a seguir a Cristo, mesmo que isso signifique ir contra a corrente e enfrentar oposição.

É comum que aqueles que questionam nossas crenças utilizem argumentos distorcidos ou inventados. Quando confrontados com tais afirmações, podemos recorrer à Palavra de Deus para encontrar a verdade. A Bíblia nos adverte contra aqueles que negam a divindade de Jesus e distorcem suas palavras para seus próprios fins.

A afirmação de que Jesus exigia um dízimo de 10% para o templo é um exemplo claro de deturpação das Escrituras. Não há nenhuma passagem bíblica que suporte essa afirmação. Ao contrário, as Escrituras nos ensinam que o verdadeiro seguidor de Cristo é aquele que ama a Deus e ao próximo, praticando a justiça, a misericórdia e a humildade, como ensina Miqueias 6:8: "Foi-te anunciado, ó homem, o que é bom, e o que Iahweh exige de ti: nada mais do que praticar o direito, gostar do amor e caminhar humildemente com o teu Deus!"

É importante que estejamos sempre atentos às falsas doutrinas e que baseemos nossa fé exclusivamente na Bíblia. Ao confrontarmos as heresias, devemos fazê-lo com amor e respeito, apresentando as Escrituras como a única autoridade em matéria de fé e prática.

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