Chamamé

Chamamé

"¿Qué es el chamamé?- yo diría que es una expresión cultural que trasciende la música. Es danza. Es expresión personal y colectiva. Cuando alguien puede expresar el sentimiento de todos en la música , en la letra, entonces brota el sapukay, atenazado en el alma".

Padre Julián Zini.

Llamame, chama-me para dançar o legítimo chamamé, mas tem que ser em baixo de uma ramada, em cima de um chão batido que é a maneira mais bonita de se homenagear o poema, a obra e o homem. Se originário de Corrientes ou da nação guarani, não sei, o que importa dizer é que este gênero musical está encravado na nossa pele, faz parte da nossa formação como ser humano fronteiriço. Tem um amigo que diz que o chamamé é uma religião, complemento pois: o chamamé é um estado de espírito. Ouça-o e sinta a mistificação dos acórdes invadir-lhe a alma. Garanto nunca mais serás o mesmo. Até respeitarás outros gêneros, mas estarás inebriado, embriagado pelo chamamé e vai querer ouvi-lo tão somente. Ficarás, aos olhos dos incautos um chato de galocha, mas intimamente sorrirás, com ar de superioridade, porque suas entranhas estarão sentindo a vibração, a pulsação da mágica duma alma feliz. É um ritmo dançante de compasso ternário em 6/B, dançado meio valseado, face a face, só não me venhas com aquelas frescuras de dançar pulando que nem cabrito novo, senão mando o bugre Nirceu ter contigo para ensinar-lhe que o chamamé mais que uma música carrega consigo a tradição, a cultura, a luta de um povo, sofrido é verdade, mas acima de tudo altivo e feliz. Se soubesses que nos raros instantes de alentos, o bugre tinha na bailanta o seu momento, era onde ele reinava, volteava três vezes pra esquerda, depois três vezes pra direita, como que querendo dizer a todos - aqui é meu reino, neste pedaço de chão mando eu -. Dançava, não, flutuava, com sua companheira pesando pena e esquecia por instantes os problemas com o mayormordomo, com as dívidas na comissaria, com o peso do raído e do mundo que carregava nas costas sem conseguir se libertar daquele mundo verde. Amanhã teria que fazer viagem extra, acordaria mais cedo, se Deus quisesse a mina estaria fervendo a produção ia ser boa, mas hoje não, não pensaria nisso, hoje o mundo é seu, só seu. Sente queimando na pele os olhares ciumentados dos que não nasceram por aqui e conseqüentemente não herdaram esta cultura. E o chamaceiro grita!!! Um grito recheado de saudades não se sabe ao certo do quê ou de quem, se dos tempos antes dos colonizadores espanhóis onde viviam livres, leves, soltos, se antes da grande guerra onde tinham altivez, riquezas e orgulho próprio ou de um tempo que está por vir, onde poderão se expressar livremente e não haverá mais tanta fome e desmandos. O fato é que sapukay é um grito diferenciado carregado de sentimentos: de amor, de paixão, de revolta, de faceirice, de esperanças. E o chamameceiro reza!!! Primeiro pra virgencita de Itati pra protegê-lo sempre, pra lhe dar forças pra suportar a bruteza da vida, depois reza pro escuro da noite continuar, pro galo, invejoso dos acórdes que saem da sanfona, do violão e do violino, que invadem a madrugada, pra esse galo não cantar logo, que o canto dele significa o aviso pro findar do baile, que o dia já vem vindo. Outras dessas??? Quem sabe quando...e ainda tem muita cunhatay pra ser tirada pra bailar. Entender não precisas, pois como diz o Manuel de Barros, poesia não é pra entender é pra incorporar. E o chamamé é poesia pura. Incorpore-o.