QUEM PRECISA DE MÉDICO? Minha experiência pessoal com o budismo tibetano.

Aqueles que acompanham meus escritos já devem ter percebido que não escondo meu ateísmo de ninguém. Muitos vezes sou até mesmo um militante deste ateísmo, mais por ver as contradições daqueles que se dizem religiosos do que por acreditar piamente em minhas convicções.

Aliás convicções nem sempre são coisas muito inteligentes. “Toda unanimidade é burra” já dizia o falecido Nelson Rodrigues. Talvez seja “burro” aferrar-se a ideias e delas não abrir mão de maneira alguma.

Michel Foucault era assim, um filósofo sem forma. Mudava sempre de ideia e assumia-se como alguém passível de ter suas opiniões mudadas.

Ás vezes penso que meu ateísmo surgiu muito mais por ver as contradições daqueles que se dizem religiosos, mas que no fundo são demasiadamente humanos. Mostrando apenas uma “casca espiritual”. Esta “casca espiritual” não passa de uma pele bem fininha para encobertar toda a corrupção escondida por debaixo. Todo desejo sórdido de poder, toda a hipocrisia de quem quer ter uma vida devassa, mas prega uma santidade impossível.

Estes são os religiosos que conheço. Que erram por acreditarem que estão acima de sua condição humana, por pensarem que podem cumprir impossíveis mandamentos.

Meu ateísmo continua firme. Deus para mim ainda é um ser estranho. Contudo, meu ceticismo em relação à religião foi quebrado. Conheci uma religião ou filosofia que realmente merece apreciação pelo trabalho mágico que pode operar na vida das pessoas.

Falo do budismo tibetano. Este trabalha com meditação e estudo, e através destas duas ações instrui o praticante a livrar-se de todas as suas confusões mentais e sofrimentos. Para eles do budismo tibetano, o maior mal do homem é o sofrimento e Buda ensina como tornar a vida melhor.

Nesta vertente budista fala-se que o observador e o objeto são inseparáveis, quando o objeto surge este não está desvencilhado de seu observador, que a experiência última é o vazio e este vazio é a impermanência e a inseparatividade.

Difícil não? Mas vou tentar explicar de acordo com minha experiência pessoal.

Quando temos a experiência de algum fenômeno podemos ter diversas interpretações deste. Um mesmo fato é observado por duas pessoas e estas relatam de maneira diversa aquilo que viram, ou seja, não há uma verdade efetiva das coisas, não há uma coisa em si, uma verdade última, mas apenas visões de mundo.

Por sermos livres, podemos escolher aquilo que vamos pensar e crer, assim criamos uma série de confusões e tornamos nossas vidas e as vidas das pessoas com quem nos relacionamos em fontes de problemas. Na verdade, há sempre opções para se seguir. Nunca há uma versão definitiva dos fatos, e se damos concretude aos eventos, se colocamos identidade nas coisas, vem a impermanência, que é a faculdade do mundo em estar mudando a todo momento, e destrói nossas construções. Se somos apegados ao que construímos, se temos as coisas como sólidas elas quebraram e com essa quebra sofremos. Sofremos por tentar controlar a vida, coisa que é virtualmente impossível.

A meditação nos faz ter contato com a nossa natureza última que é a de uma mente tranquila, sem agitações e pronta para a felicidade. Meditar é experimentar momentos de paz e tranquilidade, é treinar a mente para a felicidade, é abandonar os condicionamentos da vida cotidiana e ter liberdade para escolher como se vai agir. Causando menos problemas para si e para os outros.

O que o budismo ensina é que a vida é simples e temos em nós mesmos todas as ferramentas para sermos felizes. Nós é que complicamos as coisas, inventamos, criamos coisas, adicionamos, subtraímos, multiplicamos e dividimos os fatos. Colocando nestes verdades inexistentes.

Quanto a moralidade, o budismo prega uma moral que o próprio indivíduo deverá reconhecer ser uma fonte para que não cause sofrimento para si e para os outros. Esta, a moralidade, não vem do exterior, não vem pela repressão, mas pelo reconhecimento de que este é o caminho em que se pode atingir um bem maior, qual seja, a felicidade própria e a dos outros. Não há imposições de comportamentos, apenas os praticantes são exortados a agirem de maneira correta, pois eles mesmos serão os beneficiados. Não há culpa no budismo.

O treinamento da mente para a estabilidade traz benefícios inimagináveis. O praticante começa a analisar os eventos cotidianos e começa a pensar antes de agir causando muito menos confusão do que causara no passado. Isto é liberdade, é viver sem condicionamento.

Achei interessante essa vertente budista desde o primeiro contato que tive com ela. Estou em um namoro intermitente. Já comecei a praticar diversas vezes, depois parei e comecei novamente. Desta vez, venho de confusões muito grandes. Estava lendo Schopenhauer, e sua sabedoria me atraía muito. Ele tem frases magníficas, de uma perspicácia estonteante, mas ele é um pessimista terrível.

Eu estava levando a sério a filosofia de Schopenhauer. O resultado foi uma forte depressão e um sentido de vazio enorme. O que tirei de lição foi o seguinte: Mesmo sendo inteligentíssima esta filosofia, não posso tê-la como parâmetro para minha vida, pois me faz muito mal. De que adianta ser inteligente, sábio e infeliz?

Busquei a sabedoria de Buda e minha vida melhorou muito. Muito mesmo. Não é à toa que o chamam de médico.

Se você está cansado de sofrer, experimente o remédio do Buda. Talvez ele ajude você a ter uma vida mais estável e feliz.

Para maiores informações acesse:

www.cebbsp.org

Felicidades.

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 21/04/2009
Código do texto: T1551232
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