Todos temos poder*

John Acton, historiador do século XIX, escreveu: “O poder tende a corromper”. Cito essa frase porque ela é lembrada pelas pessoas que entendem o poder como algo mal, identificado com os maus. Mas o poder é mesmo algo sempre negativo? Os dicionários registram que o termo poder vem do latim potere e significa: “governar o estado; ser capaz de produzir eficácia, efeito; ter capacidade de fazer uma coisa; ter força militar; ter força ou razões para; ter grande quantidade, abundância; ter importância, consideração; ter mando; ter meios e recursos; ter posse, domínio, atribuição; ter possibilidade, autoridade, influência”.

Note: o termo poder se refere a um leque imenso de coisas. Contudo, cada ideologia produzida ao longo da história humana o define conforme os valores que julga válidos para a conformação existencial e societária da pessoa humana. O que é forçoso é tentar ver o poder como um bem, uma posse, algo que se localiza num lugar, numa instância ou em uma instituição social. O poder é difuso. Ele está onde está o ser humano.

Nessa perspectiva, o poder é uma relação. Ele permeia as interações humanas. Todas elas. Ele qualifica a convivência entre pais e filhos, filhos e amigos entre si, professores e alunos, compradores e vendedores, entre todos e todas que compartilham modos de ser, estar, pensar, escolher, decidir e agir na sociedade, no mundo. Assim, o ditado “Se quer conhecer alguém, dê-lhe poder”, só faz sentido quando se especifica que espécie de poder é dado, pois, em tese, não se pode dar a alguém algo que ele já possui.

Mas quais as implicações que esses entendimentos trazem para nós? Trazem a compreensão de que o poder, não sendo algo que está lá ou em alguém específico, mas em todos e em todas, todos e todas estão, diuturnamente, influenciando uns aos outros, modificando o comportamento de uns aos outros, motivando comportamentos, atitudes, ações e realizações.

Portanto, do poder ninguém pode fugir. Se o assunto é poder, nenhum ser humano pode dizer-se desprovido da potencialidade de ação. Por isso o poder não é negativo nem positivo. Positivo ou negativo é o uso que podemos fazer do poder. Quer saber a saúde do poder? Pergunte, então, a serviço de quem e de que causa ele está sendo exercido. Daí o fato de as relações humanas serem sempre conflituosas, antagônicas e, muitas vezes, prenhes de animosidade, pois, sendo diferentes entre si, os humanos concebem diferentes maneiras de emprego do poder.

Como “O boi obedece à cerca por não saber a força que tem”, muitas pessoas e grupos se submetem à influência dos outros por terem medo de lançarem mão da potencialidade que detem de pensar, raciocinar, julgar, valorar, escolher, decidir e executar a ação correspondente à escolha que podem fazer. Faz sentido, então, a frase de Eleanor Roosevelt: “Ninguém pode fazê-lo se sentir inferior sem o seu consentimento”.

Chega a hora na vida que, em nome do crescimento pessoal, profissional e social, torna-se imprescindível determinar que consentimentos negativos estamos praticando, deixando que façam isso e aquilo de nós, contra nós e conosco. E ordenar o stop!, o pare!, positivamente. Para isso todos e todas temos poder.

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* Artigo publicado no Wellness Club, dia 14/04/2009.