Um caso de solidão

Definitivamente estou cansada. Meus olhos ardem. Sinto uma tremenda dor de cabeça e um desconfortável incômodo na coluna. Meu pulso está tenso e meus dedos exaustos. Estive sentada há horas diante de um computador navegando por uma infinidade de sites, acessando páginas e abrindo links.

Conversei com meus “amigos” no MSN e mandei recados para tantos outros pelo Orkut. Enquanto baixava alguns vídeos no youtube, escutei minhas músicas preferidas no MP4.

Isso é tecnologia. Graças a ela nunca estive tão informada, antenada no mundo. Posso me considerar uma pessoa moderna, atualizada e porque não dizer, interessante.

Sei que durante esse tempo diante da tela do computador pessoas passaram por mim, mas agora eu não posso identificá-las. Não as vi e nem as cumprimentei. Estava completamente imersa nas sensações do mundo virtual. Enquanto isso, instintos reais lançavam à minha mente aqueles reflexos inevitáveis de presenças humanas.No início me incomodei mas depois de alguns minutos meu cérebro compreendeu que elas não representavam perigo para mim, e eu poderia concentrar - me cada vez mais no que fazia.

Quando terminei, desliguei a máquina e fui embora para casa. Enquanto caminhava, lembrei das pessoas que não vi enquanto estava no computador. Não sei dizer se eram homens, mulheres ou crianças. Eram altas ou baixas? Morenas ou loiras? Sorriam ou tinham aspecto triste? Estavam apressadas ou não? Será que precisaram de mim? Para falar a verdade não sei dizer.

Estive ocupada demais vivendo outra realidade sem ser a minha. Passei horas buscando informações que agora, não tenho com quem compartilhar. Perdi tempo conversando com pessoas que nunca vi, mandando recados que serão lidos e apagados. Não vi as pessoas ao meu redor. Não olhei nos olhos de ninguém. Não recebi nenhum sorriso. Não ofereci o meu.

Sabe, existem centenas de pessoas iguais a mim. Fazendo exatamente o que fiz sem se dar conta. Deixando o hábito de falar cara a cara de lado, de dar um telefonema para dizer oi, encontrar um amigo e lhe dar um abraço.

Espero que esse não seja o seu caso, mas se for você vai concordar comigo. Atitudes como essa são tidas como bregas e ultrapassadas. Mas na tentativa de ser como eu, informada, antenada e moderna as pessoas preferem estar sós a realmente partilhar suas emoções.

Sinceramente cansei. Resolvi mudar antes que seja tarde. Espero que você faça o mesmo.

Denisia de Oliveira
Enviado por Denisia de Oliveira em 20/04/2009
Reeditado em 23/04/2009
Código do texto: T1549314
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