D. IRENE

Sempre que posso dou uma baldeada pros lados de Barbacena. Vou na casa de uns padrinhos de casamento que moram no Bairro Santo Antônio, já que quando o Sr Édson se aposentou, queria ir para o Rio de Janeiro mas a patroa dele achou que a cidade de barbacena, serviria bem para morar depois de cumprida a jornada pois era mais sossegada e sem poluição.

Minha mulher tem mais afinidade com o jeito deles porque todos (menos eu) são evangélicos e as vezes isso dá margem para umas contradições que me obrigam a buscar no silêncio o desconforto de um ponto de vista contrário onde estou perdendo na base de três por um, na verdade diria quatro por um pois a opinião da mulher valeria por dois e a minha seria reduzida a quarta casa depois de zero, se ela concordar só com isso.

Eis que surge tal e qual passe de mágica uma personagem que não cultua tais hábitos e na contra mão de tudo se permitia a exageros irreverentes e incômodos que não se furtava a disfarçar mas era antiga conhecida da família do Sr Édson e fizemos todos em um raio de 10 anos uma única roda social mesmo com a gente morando em BH, que incluia o pastor evangélico da igreja deles e mais um vizinho que tinha na parte de cima do mesmo lado da rua e deixava-nos guardar o carro em sua espaçosa garagem sendo essa do outro lado da rua. Pois é. voltando a personagem, estou falando da dona Irene, figura pitoresca que a um só olhar mostrava-se de idade avançadissima. de aspecto receoso e jeito assustador , mas era tudo dismistificado logo na sua fala agradável e seu jeito de quem enturmava rápido a seu modo, sem saber se agradava ou era um incômodo o que em alguns casos acontecia de ser.

Vi que as duas principais preferências de entretenimento da D Irene eram seu violão e as anedotas engraçadas mas de um humor sordido e vulgar, improprio à quem anda por ai com uma bíblia nas mãos como era o caso de todos por ali menos eu e ela que tinha uns santos dentro de casa.

Na verdade me divertia de sem demostrar com tudo aquilo, pois exprimentem imaginar uma senhora de quase 85 anos contando anedotas pesadas (sem o espalhafato da Derci) e rindo como se fosse a primeira vez passando a impressão que ela estivesse ouvindo de outro esquecendo que ela própria contava as piadas? o resultado era o mesmo: Tão logo se punham distante dela faziam comentários ácidos e reprimiam sua conduta avacalhada.

Me contou certa feita o Sr. Édson que a proposito de ser a D Irene proprietária de um violão, a intimidade dela com ele exigia uma historia à parte ainda que nos primeiros tempos em que seu entusiasmo por aquele popularíssimo instrumento era maior, cerca de uns trinta anos antes, ela vestia uma roupa de artista, não poupando o exagero dos mais excêntricos: (esqueci de dizer que ela era excêntrica) colorido visível à distância e botas evidentes ao extremo. Detalhes femininos como baton e tinta nos cabelos não serão assuntos para atrasar a historia por aqui pelo que continuo dizendo que aparamentada por tal indumentária ela descia no ponto mais atrasado da avenida Bias Fortes lá em Barbacena mesmo, de modo qiue deveria ter vitrine para sua pessoa ao longo da av. até subir finalmente pela rua do "Ginos ILL Candellabro" dai que pessoas nos ônibus, carros à pé e de toda sorte a viam pensando tratar-se de uma sumidade que faria por certo uma apresentação na Rádio Globo ou Correio da Serra. Certo é que na verdade ela desaparecia por uma estreita viela e onde se enfiava ninguém descobria sendo possível que desse uma volta e enfiasse no ônibus de volta para casa deixando apenas a impressão que queria sobre sua "veia artística" de instrumento silencioso e voz que o povo conhecia apenas mesmo pelo "bom dia" ou "boa tarde" o que lhe salvaguardava de futuros apertos já que descobri sem demora que ela não cantava coisíssima nenhuma e arranhava o violão da forma mais sofrível que podia, devendo pois continuar nas suas piadas de peso a causar inveja as baleias e vez por outra fazer companhia ao Sr. Édson em viagens pelo Brasil afora onde ampliava seu público de repertório para as piadas, preferencialmente pessoas mais jovens de senso de humor apurado e um pouco menos de responsabilidade.

Na última vez que estivemos lá, (Fevereiro) fizemos a ela uma visita e a achei bastante animada, e resolveu agora adotar um teclado, me ofereceu tocar umas músicas no violão mas vinhamos cançados de Santa Bárbara do Túgurio onde havia um restaurante especializado em traíra a parmegiana e ficou mesmo para outro dia, estavamos cançados. Quem sabe com um dueto sendo eu no violão e ela no teclado? Viva a irreverência!

Pacomolina
Enviado por Pacomolina em 19/04/2009
Reeditado em 19/06/2009
Código do texto: T1548395
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