"Casal Preso Por Espancar Filho de Quatro Meses de Idade" =Crônica do muitas vezes maldito cotidiano"
“Casal preso por espancar filho de quatro meses de idade.”
“Casal preso por espancar filho de quatro meses de idade.”
“Casal preso por espancar filho de quatro meses de idade.”
Dá pra acreditar numa coisa dessas logo à primeira ouvida?
Quatro meses de idade!!!
Cento e vinte dias de vida!!!
Vinte e oito semanas entre nós e ser espancado pelos pais!!!
Pais? Desculpem minha falha. Espancado por dois animais que transaram, geraram uma criança, deixaram que ela viesse ao mundo, e agora queriam enviá-la ao outro mundo à base de porradas.
Quatro mesinhos de vida...Uma coisinha indefesa, uma coisinha tão fraca e pequena que chega a ser mais indefesa que um cachorrinho recém-nascido,ser espancada por dois adultos...Difícil de acreditar, mas estou em uma altura da vida em que acredito em todos os absurdos que me contarem sobre a capacidade do ser humano em praticar o mal.
Quatro meses de vida...Um serzinho que nos arranca um sorriso ao olhar, que precisa ser amada, acariciada, cuidada, alimentada, ter as fraldas trocadas, que ainda tem aquele cheirinho de quem acabou de chegar, aquele cabelinho ralo e gestinhos desconexos...Dá vontade de chorar, e chorar muito, só de pensar que alguém tenha a coragem de espancá-lo.
O efeito de uma notícia desse tipo é muito grande sobre mim. Leva-me a pensar, de imediato, nas milhões de crianças espalhadas pelo mundo que neste exato momento estão sofrendo com as guerras, com as bombas, com a fome, com as pestes, com os pais, com os preconceitos, com a ignorância, com a falta de uma perspectiva para o futuro, e tenho vergonha de pertencer à raça humana.
Tenho vergonha de viver em um mundo no qual existem centenas de ONGs inventadas para “proteger os índios da Amazônia”, que moram em cima de fortunas materiais incalculáveis, e apenas algumas para defender e proteger as crianças famintas do resto do mundo. Entenda-se por “resto do mundo” todos os territórios carentes de riquezas materiais.
Lembro-me de meus filhos quando pequenos e fico pensando como me sentiria se os visse chorando de medo das bombas caindo em cima de minha casa; se os visse com as costelas à mostra e eu não tivesse como levar mantimentos para minha casa; se os visse tremendo de frio e não pudesse agasalhá-los; se os visse doente e não tivesse como tratá-los e hospitalizá-los; se os visse bebendo urina de camelo para matar a sede. Fico pensando nisso tudo e não dou graças a Deus. Eu daria graças a Deus se soubesse que nada disso acontece com os filhos dos outros. Eu daria graças a Deus se soubesse que existe uma possibilidade em um bilhão de que um dia o mundo viva em paz, harmonia e prosperidade, entendendo-se que prosperidade não seria riqueza material concentrada nas mãos de poucos e sim com a humanidade vivendo como seres humanos. Decentemente. Sem violência. Sem guerras. Sem picuinhas religiosas. Sem tanta maldade permitida, consentida, aceita como inevitável. Tenho vergonha de pertencer à raça humana. Se eu acreditasse em outra vida além dessa, gostaria de voltar cachorro. Voltaria bem evoluído se isso acontecesse.