ENTENDENDO A NORGASMIA ( MOMENTO INTIMO DA MULHER)
Houve um tempo em que se acreditava existirem dois tipos de orgasmos: o clitoriano e o vaginal. Porém, já se sabe que o orgasmo independe da região que o desencadeia, podendo ser provocado pelo estímulo de qualquer região do corpo.
Antes, a relação sexual tinha como objetivo a satisfação do homem. Hoje, apesar de muitos tabus sexuais terem sido derrubados, ainda é grande o número de mulheres que sofrem na cama.
Mitos e conceitos equivocados sobre o orgasmo, ou melhor, sobre a sexualidade de forma geral, sempre estiveram presentes em nossa cultura, onde a mulher deveria ser um ser assexuado, sem desejo, sem tesão, à disposição do outro.
Às mulheres, coube se encaixarem em tal "script". E hoje, o que se percebe é um medo de se entregarem, de se conhecerem, se perceberem e viverem com prazer. Ou, por outro lado, vivendo uma falsa liberdade de sentir um orgasmo que nunca chega como esperado.
Atualmente, se percebe uma busca descontrolada pelo orgasmo, que passou a ser o objetivo único de uma relação, esquecendo-se o prazer do relacionamento, de estar com determinada pessoa. Praticar sexo é uma escolha; ter prazer, uma possibilidade. Essa obrigatoriedade infundada na busca do prazer-gozo e não pelo prazer de estar vivenciando tal situação, tira a pessoa do contato com a relação, passando a ser mera espectadora.
Conceito
A anorgasmia é a dificuldade em atingir o orgasmo, mesmo que haja interesse sexual e todas as outras respostas satisfatórias para a realização do ato. Ocorre com freqüência entre as mulheres – estudos indicam que seria entre 50 e 70% dos casos [1]. Ou seja, a mulher aproveita as carícias e se excita, mas algo a bloqueia no momento do orgasmo, transformando a relação sexual em sexo sem prazer, pois, na grande maioria dos casos, é difícil se envolver eroticamente com o parceiro.
As mulheres negam a ausência do orgasmo como uma forma de defesa. Assim, mentem, fingindo um prazer que não existe. Tal comportamento deve ser repensado, pois ao fingir para si própria, a mulher está se privando da obtenção de um prazer e da possibilidade de desvendá-lo por completo.
Etiologia
Dentre os fatores que levam a tal quadro, destaca-se de forma praticamente integral os aspectos psicossociais. A questão orgânica tem baixa relevância, ficando em torno de 5% dos casos.
Psicossociais: falsas crendices, falta de informação, tabus, religião, medo de ser abandonada ou engravidar, experiências traumáticas, falta de intimidade com o próprio corpo e/ou com o parceiro, envelhecimento, culpa, ansiedade, depressão, tensão corporal, educação sexual castradora, insatisfação corporal, baixa auto-estima, dificuldade do cotidiano, entre outros.
Orgânicas: algumas doenças, uso imoderado de álcool ou drogas psicoativas e dores na relação.
Outras causas dizem respeito à má-formação congênita - que pode impedir o acesso ao clitóris -, hipertrofia dos pequenos lábios – que pode encobrir o acesso à vagina-, entre outras.
Tratamento
O enfoque principal é a disfunção, devendo-se fazer uma leitura do conflito, a fim de saber se existe alguma dificuldade emocional ou psicológica, ou se o problema é físico.
O objetivo é combater a ansiedade existente, desmistificando crenças falsas, e trabalhando os aspectos psicológicos que não permitem um completo funcionamento corporal. Propõe-se que a mulher tome ciência dos seus impulsos sexuais, de modo ajudá-la, sem a obrigação do orgasmo, a liberar emoções e viver a espontaneidade de sentir prazer.
Para tanto, a psicoterapia pode estar baseada numa terapia individual, terapia de casal ou, ainda, o conjunto dos dois processos.
A terapia individual objetiva criar condições para ampliar o autoconhecimento e possibilitar o prazer consigo mesma, a partir de um aprendizado sobre como é construído tal sintoma. Ou seja, o que esse quadro tem a contar sobre a pessoa, sobre a sua forma de funcionar na relação e com o meio. É na terapia, portanto, que se revê falsos conceitos e se fornece orientação, possibilitando novas perspectivas, admitindo-se sua associação a exercícios e, muito raramente, ao uso de medicação.
Muito freqüentemente, a mulher passa a ter maior curiosidade sobre o próprio corpo. Faz-se importante que ela se conheça, se toque, saiba do que gosta e o que não lhe agrada. E, essencialmente, pedir ao parceiro que a "acenda".
A terapia de casal objetiva facilitar a comunicação do mesmo, além de mediar um conhecimento maior sobre o funcionamento da relação, ajudando a descobrir, entre outros fatores, de que forma o casal se perde em sua vida cotidiana, e como isto se reflete na dinâmica sexual.
A superação de um quadro como esse leva ao aprendizado e ao autoconhecimento, provocando transformações além da sexualidade.
O tratamento de qualquer disfunção sexual deve ser acompanhado por um profissional
que possua conhecimentos dos mecanismos da resposta sexual, assim como os seus estágios.
De acordo com pesquisa recente realizada pelo Instituto Kaplan - Centro de Estudos da Sexualidade Humana de São Paulo - a cada 100 mulheres que buscam tratamento, 70 afirmam que não conseguem ter orgasmos.