INSENSÌVEIS AO TERROR
Antes de qualquer coisa aprendemos que notícia é produto. Produto deve ser comercializado, deve gerar lucros e cair no gosto popular. O jornalismo seguiu a fórmula, assim como manda a regra das relações comerciais e os interesses dos donos das grandes mídias.
Não importa o meio midiático. Seja pelo rádio, TV jornal ou internet, a mensagem está lá do jeitinho que o povo gosta de ver. E o povo gosta de ver as mazelas do mundo, gosta de tocar na ferida, descobrir o que está além dos sacos pretos, gosta de ver sangue, de sentir o terror.
A repugnância da cena noticiada é proporcional ao público de espectadores. Passivos diante da desgraça alheia pouco se surpreendem com aquilo que vêem, e quando isso raramente acontece, logo é esquecido no intervalo entre uma notícia e outra.
De quem é a culpa? Dos meios ou da sociedade? Em parte dos dois, em parte de ninguém. É preciso esclarecer que a grande influenciadora desse gosto popular é a cultura, ou melhor, a falta dela. O pouco conhecimento, a falha educacional, a estrutura familiar, as condições econômicas são alguns dos aspectos que tornam esse tipo de notícia tão atraente aos olhos do grande público.
Além disso, torna-se necessário entender que os veículos de comunicação precisam vender para continuar no mercado, e a lei da oferta e da procura vigora de maneira a não deixar outra saída a não ser a espetacularização.
Enquanto anônimas vítimas participam de um show na mídia por um fato qualquer, a banalização do sofrimento alheio torna-se freqüente. Não há mais um despertar de consciência ou comoção. O sentimento que nasce é o mesmo das novelas, apenas expectativa pelo próximo capítulo ou pela próxima “produção”.
Essa falta de sensibilidade agrada e preocupa ao mesmo tempo. Agrada aqueles, que na manutenção do poder, conseguem controlar a massa devido ao baixo conteúdo que oferecem, e preocupa aqueles que sabem que uma sociedade sem conhecimento é dominada de maneira assustadoramente fácil.
São inadmissíveis esses jogos de sentimentos humanos, de linguagens sutis, de detalhes que parecem coincidências e que na verdade não são. A mídia é uma mestra na arte da interpretação e para ela, nada é por acaso. Nada está solto ou é apresentado de maneira aleatória porque o investimento é alto e não pode ser desperdiçado com riscos.
O talento dos profissionais da área poderia ser empregado em disseminação de conhecimento para que a sociedade possa reconhecer na cultura uma fonte de poder. Ao estimular o povo a crescer, a participar, a ser crítico e construtor de sua realidade estariam exercendo sua função social. É uma pena que o choque de interesses seja inevitável e que a corda arrebente sempre do lado mais fraco.