Substantivos concretos e abstratos
É muito comum, até mesmo entre os estudiosos da semântica contextual da língua portuguesa, a confusão entre os dois conceitos. Isso se dá em parte pela informação armazenada no início da vida estudantil em que esse conceito é exclusivamente construtivista, ou seja, baseia-se na ideia do “ver para crer” ou ainda na dificuldade de compreender o sentido claro de abstração. Para exemplificar, entenda-se que abstrair é a capacidade humana de, apreendido certo conceito, reconhecer em similares as mesmas características que o distinguem como tal, dispensando-se as especificidades acessórias. Ou seja, aprende-se que uma casa, mormente, serve de moradia e suas características primordiais são: teto, telhado, paredes, portas e janelas; logo, se uma é pintada de azul, de tamanho reduzido, feita de madeira e outra é vermelha, grande, de alvenaria, ambas não deixam de servir para o mesmo fim, ainda que não se veja uma para ser capaz de identificá-la mentalmente.
Esse conceito, no entanto, baseia-se numa concepção filosófica, emocional. Consoante definição do eminente gramático Mattoso Câmara Jr.: “A distinção entre concretos e abstratos é mais filosófica do que linguística e, dentro da filosofia, muito fugidia”. Por si só, já se percebe a dificuldade de tais propriedades.
Numa concepção mais gramatical, é correta a afirmação de que concretos são os substantivos que se referem aos seres materiais ou reais: carro, bola ou boneca e aos imateriais ou fictícios: sereia, lobisomem, alma ou Deus. Um terceiro grupo diz respeito às conversões que remetem aos seres ou às designações humanas: o brasileiro, o camponês, o barão ou a francesa.
Por outro lado, abstratos são substantivos que representam os atributos: inteligência ou imaginação; os estados: disposição ou cansaço; as qualidades: beleza ou agressividade; os sentimentos: amor ou ódio; as emoções: alegria ou decepção; e as ações: briga ou embriaguezque derivam de um conceito original e primário, desprovido de autonomia, forma ou conteúdo característicos, por isso, não detectável pelo olhar humano.
Ainda que pareça simples, há momentos em que alguns se veem diante de um dilema: “Se estou sentindo... Então é concreto?”. Não! Para entender: se alguém declara “Estava com calor, e agora estou com frio” tem-se a impressão de que são de natureza concreta, mas não o são, afinal, não existe o calor pelo calor ou o frio pelo frio, há agentes externos que fazem com que a temperatura do corpo baixe ou se eleve, provocando essas oscilações. São, portanto, dependentes. Entretanto, se outro afirma que sente o vento em seus cabelos, certamente quer denotar um conceito concreto, pois é um vocábulo que se “autodesenha”, tem força de conceito original.
Tecnicamente é possível afirmar que os substantivos abstratos derivam de verbos e de adjetivos ou com eles mantêm relação: feliz ou felicitar = felicidade; contente ou contentar = contentamento; belo ou embelezar = beleza; alegre ou alegrar = alegria. De outro modo, não se pode imaginar que o verbo saciar seja originário do substantivo concreto e fictício saci.
Assim, o bom desempenho no aprendizado das categorias gramaticais é ainda a forma mais precisa de se estabelecer essa diferença conceitual.
Nelson Maia Schocair
É muito comum, até mesmo entre os estudiosos da semântica contextual da língua portuguesa, a confusão entre os dois conceitos. Isso se dá em parte pela informação armazenada no início da vida estudantil em que esse conceito é exclusivamente construtivista, ou seja, baseia-se na ideia do “ver para crer” ou ainda na dificuldade de compreender o sentido claro de abstração. Para exemplificar, entenda-se que abstrair é a capacidade humana de, apreendido certo conceito, reconhecer em similares as mesmas características que o distinguem como tal, dispensando-se as especificidades acessórias. Ou seja, aprende-se que uma casa, mormente, serve de moradia e suas características primordiais são: teto, telhado, paredes, portas e janelas; logo, se uma é pintada de azul, de tamanho reduzido, feita de madeira e outra é vermelha, grande, de alvenaria, ambas não deixam de servir para o mesmo fim, ainda que não se veja uma para ser capaz de identificá-la mentalmente.
Esse conceito, no entanto, baseia-se numa concepção filosófica, emocional. Consoante definição do eminente gramático Mattoso Câmara Jr.: “A distinção entre concretos e abstratos é mais filosófica do que linguística e, dentro da filosofia, muito fugidia”. Por si só, já se percebe a dificuldade de tais propriedades.
Numa concepção mais gramatical, é correta a afirmação de que concretos são os substantivos que se referem aos seres materiais ou reais: carro, bola ou boneca e aos imateriais ou fictícios: sereia, lobisomem, alma ou Deus. Um terceiro grupo diz respeito às conversões que remetem aos seres ou às designações humanas: o brasileiro, o camponês, o barão ou a francesa.
Por outro lado, abstratos são substantivos que representam os atributos: inteligência ou imaginação; os estados: disposição ou cansaço; as qualidades: beleza ou agressividade; os sentimentos: amor ou ódio; as emoções: alegria ou decepção; e as ações: briga ou embriaguezque derivam de um conceito original e primário, desprovido de autonomia, forma ou conteúdo característicos, por isso, não detectável pelo olhar humano.
Ainda que pareça simples, há momentos em que alguns se veem diante de um dilema: “Se estou sentindo... Então é concreto?”. Não! Para entender: se alguém declara “Estava com calor, e agora estou com frio” tem-se a impressão de que são de natureza concreta, mas não o são, afinal, não existe o calor pelo calor ou o frio pelo frio, há agentes externos que fazem com que a temperatura do corpo baixe ou se eleve, provocando essas oscilações. São, portanto, dependentes. Entretanto, se outro afirma que sente o vento em seus cabelos, certamente quer denotar um conceito concreto, pois é um vocábulo que se “autodesenha”, tem força de conceito original.
Tecnicamente é possível afirmar que os substantivos abstratos derivam de verbos e de adjetivos ou com eles mantêm relação: feliz ou felicitar = felicidade; contente ou contentar = contentamento; belo ou embelezar = beleza; alegre ou alegrar = alegria. De outro modo, não se pode imaginar que o verbo saciar seja originário do substantivo concreto e fictício saci.
Assim, o bom desempenho no aprendizado das categorias gramaticais é ainda a forma mais precisa de se estabelecer essa diferença conceitual.
Nelson Maia Schocair