O MASSACRE DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA
O MASSACRE DA INFÂNCIA.
Fui criança no fim da década de cinqüenta a meados da década de sessenta. Digo no fim, porque até meus três ou quatro anos de idade só tenho três lembranças. Uma do meu avô morto e as pessoas velando seu corpo na sala de estar de sua casa; outra quando eu, de luto dele, fui empurrado dentro do pequeno rio da minha cidade por uns colegas da escola; e por fim, quando um dia, na escola, nossa professora primária nos colocou para correr e eu joguei um pedaço de pau entre as pernas de um dos colegas que havia me empurrado no rio e ele caiu. Depois disso, até uns seis anos de idade de nada me lembro, só a partir dos oito anos minhas lembranças são mais afloradas.
Estou fazendo esta pequena introdução para entrar definitivamente no que gostaria de escrever.
Este artigo surgiu na minha cabeça ontem, quando recebi um e-mail em que várias perguntas de provas foram respondidas por estudantes da forma mais estapafúrdia possível. Diria até engraçada. Se ainda existisse a Escolinha do Professor Raimundo, não tenham dúvidas, indicaria os sujeitos ou para escrever ou para fazer parte do programa com atores.
Minha infância foi numa pequena cidade do interior do Ceará, onde se acordava cedo, e pasmem, na época de chuva, sob um frio de doze graus, aqui no Ceará, para tomar banho frio e ir à escola. Frio, pois naquele tempo além de não haver água encanada, chuveiro quente nem pensar. No máximo, quando a temperatura baixava muito, pois baixava mesmo, se esquentava água no fogão à lenha para quebrar um pouco a frieza.
Depois da aula, voltava-se para casa e à tarde, após se fazer os exercícios escolares, tinha-se que trabalhar, para ajudar os pais, e somente lá pelas quatro horas é que se podia sair para brincar. Geralmente, jogar bola. O que quase todos faziam, pois afora isso, as opções seriam jogar botão; brincar de bila – bola de gude; soltar arraia – mas tudo isso tinha sua época própria. Mas estudar e fazer o dever de casa era obrigatório.
Naquele tempo, os colégios, quase todos, eram de padres, ou públicos. Se o aluno fosse reprovado em qualquer um deles, não poderia repetir o ano no mesmo colégio, e aí teria de procurar outro. Nas cidades onde existi somente colégio público, ser reprovado era o fim. Não havia a proteção que se tem hoje, em que o aluno nunca pode ser reprovado, e sempre há um jeito para passa-lo de ano.
Pois bem, hoje em dia, vemos um verdadeiro massacre infantil, as crianças são proibidas de trabalhar, mas era o que fazíamos quando pequenos, trabalhar e estudar, entretanto, são submetidas às exigências do capital, ou seja, depois da aula dos cursos regulares, tem aula de caratê, de balé, de inglês, de natação, de francês, reforço de Matemática, de Português. Nada disso tivemos. Tivemos uma infância, melhor e mais proveitosa sem as tais exigências de hoje.
Hoje, diante de tanta exigência, em que a criança não tem mais tempo para ser criança, vemos um ensino fracassado, sem qualquer aprendizado, e a violência nas escolas tomando conta de tudo. O reflexo disso tudo, é fruto da falta que a criança tem de ser criança, e também da imposição de limites, porque proibido se brigar ou reclamar de um aluno.
Na escola se aprende desde cedo que temos de ser vencedores, ensinando a crianças a competir entre si. Tudo que é ensinado é voltado para o sucesso profissional, as crianças são tão pressionadas, que muitas ao chegar à adolescência estão totalmente desorientadas e partem para o que vê na televisão. Nos ensinamentos da Globo, com seus Big Brother e outros programas idiotas, que mostrar a importância de ter de qualquer maneira, consumir, consumir e consumir.
Pois, além de toda imposição da escola, nessa de transformar o tempo de criança em competição, temos a televisão, como dito, cuja melhor programação, no caso específico da Rede Globo, para citar um exemplo, o Telecurso vai ao ar no horário mais impróprio, pela madrugada, enquanto a imbecilização tem horário nobre, por não haver compromisso de nenhuma emissora com a população. Porque esta tem que se torna imbecil e servil ao poder.
Portanto, se não houver um compromisso das autoridades, Ministério Público, que em tantos outros assuntos tem atuado, nosso país não terá solução. A violência nas escolas, onde professores são espancados por alunos, e alunos por alunos, tende a aumentar. Antigamente, os professores podiam colocar alunos de castigo e nem por isso deixamos de ser honestos e ter uma formação humana adequada. Hoje, é uma violência, é assédio moral e outras idiotices que se espalham por aí. Quantas e quantas vezes fui suspenso no colégio por indisciplina, posto para fora de aula, ou até mesmo obrigado a assistir aulas em pé na porta da classe. Nada disso me afetou, ou afetou outros colegas na mesma situação minha. Hoje, se alguma coisa assim acontecer, o professor vai apanhar, será expulso do colégio, processado por assédio moral e obrigado a pagar indenização por danos morais.
Afora isso, como dissemos há a falta de aprendizado. Os cursos de graduação nada ensinam, tem-se que fazer uma pós graduação, um mestrado, um doutorado, para se obter um nível razoável de conhecimento, porque os conhecimentos dos cursos de graduação são tão fracos, já tive oportunidade de ensinar em curso superior e vi o nível dos alunos, que talvez não chegue nem próximo ao conhecimento de qualquer aluno do antigo curso ginasial, que estudou nas décadas de cinqüenta, sessenta e até meados dos anos setenta.
Atualmente, massacramos nossas crianças e nossos adolescentes com tantas baboseiras e não deixamos que elas sejam o que realmente são: crianças, adolescentes e estamos criando uma geração de analfabetos violentos e inescrupulosas, sem qualquer compromisso social, pois o importante é ter e não ser.
Nós, como pais, devemos educar e não nos prender às exigências do capitalismo. Se assim não agirmos, o futuro das próximas gerações será sombrio. Assim como não podemos deixar que políticos criem nossos filhos, com suas leis estúpidas, que impedem um pais de bater nos filhos quando necessário. Não estou falando de espancamento, mas de impor limites. Umas palmadas quando necessários e deixar as crianças serem crianças, não matéria prima a ser explorada na mais tenra idade pelo capital.
HENRIQUE CÉSR PINHEIRO
FORTALEZA, ABRIL/2009