As mulheres estão se libertando?
Nos primórdios da África, há milhões de anos, gerando nossos ancestrais, ainda caçavam animais de grande porte e colhiam raízes e frutas para viver, eles desenvolveram uma espécie de padrão de sexualidade humana.
Era comum que a mulher tivesse um filho a cada quatro anos, que é o período natural de espaçamento entre o nascimento e outro na raça humana. As mulheres tinham muitas ajudantes para cuidar dos filhos, como as tias e primas. Quando saiam para trabalhar, ou seja, buscar comida, da mesma forma que as mulheres trabalham fora hoje em dia, entregamos os filhos aos cuidados dos outros.
Na estrutura da sociedade da época, as mulheres eram tão poderosas quanto aos homens, tão sexuais quanto aos homens.
A grande mudança na maneira como homens e mulheres se relacionavam uns com os outros ocorreu com o começo do cultivo da terra, quando nossos antepassados se estabeleceram ao longo das planícies do Crescente fértil, no Oriente Médio, 8000 anos a.C. com a invenção do arado, os povos fixaram nas terras e a mulher perdeu sua antiga função de buscar alimentos. Perdeu sua independência econômica e seu principal papel passou a ser o de gerar filhos. O papel dos homens tornou-se muito mais importante. Eram eles que guerreavam e aravam o solo, e aconteceu então uma virada – o que era igualdade entre os sexos transformou-se em mulheres subordinadas e homens e dominadores.
Com a agricultura, o homem e a mulher ligaram-se à terra e um ao outro, e sob essas circunstâncias ecológicas emergiu um espectro de novos credos sexuais.
O objetivo da mulher era gerar filhos, assim vemos a ascensão de rituais diferentes em torno do casamento e da sexualidade. Surge o conceito de virgindade, para o quais muitos povos que ainda vivem da caça e da busca de alimentos não tem sequer um vocábulo próprio. Junto com essas mudanças nas práticas sexuais instalaram-se dois preceitos: Honre o teu marido e até que a morte nos separe. E dessa nova situação cultural surge a associação do sexo com o pecado e do celibato com a religiosidade.
Foi com o início da Revolução Industrial que homens e mulheres começaram a trazer dinheiro para a casa. Hoje, podemos observar um retorno ao nomadismo e ao modo de vida e da busca de alimentos. Nossa tendência é migrar do trabalho para a casa, escola e casa de campo. Não criamos mais galinhas nem plantamos os vegetais que comeremos no jantar. Em vez disso buscamos comida no supermercado.
Mas será que tudo mudou realmente desde que o senhor de engenho dom Pedro de Mello assassinou sua mulher por ela ter sonhado que um homem a olhava? Quanto caminhamos desde a época em que os pedaços de preguiça eram crimes até os dias de hoje, quando há condenação de métodos anticoncepcionais artificiais e de atos julgados contra natura, prazer sexual sem o víinculo com a procriação? O que mudou para nós, mulheres que depois de Leila Diniz mostramos nossas barrigas de grávidas nas praias?
As diferenças entre sexos são temas controvertidos, que suscita paixões, sobre o qual podemos apenas revelar nossos preconceitos e sensibilidades, para que os outros tirem suas próprias conclusões. Muitas vezes somos nós mesmas as disseminadoras das teorias misóginas que dizem que as mulheres são a encarnação do demônio, a origem dos crimes, a arma do diabo, a saliva da serpente, sempre prontos a morder, seres que sabem chorar porque tem o coração formado sobre uma roda movediça e a astucia aninhou-se no seu seio como disseram homens chamados de santos ou sábios. Mas porque a realização pessoal (profissional) da mulher deveria significar a usurpação da legitimidade de suas funções naturais de sedução, de sua força mágica de amar?
Mulheres e homens herdaram uma diferença sexual que atrapalhará sua vida romântica. As mulheres ganham intimidade conversando cara a cara – sem dúvida, esse traço vem do hábito antigo de conversar com os mais jovens. Os homens, por outro lado, adquirem intimidade fazendo coisas lado a lado – como jogar ou observar a prática de esportes. O que é um jogo de futebol se não uma ação espacial e competição agressiva, como era a caçada para os nossos ancestrais?
Na verdade, sentar lado a lado com alguém para assistir um jogo de futebol pela televisão não é muito diferente de plantar-se atrás de um arbusto na selva africana, tentando adivinhar em que direção o antílope correrá. Os homens quase sempre pensam que as mulheres falam demais, enquanto as mulheres se sentem abandonadas porque seus maridos assistem ou praticam esportes. Talvez, agora, no século XXI, comecemos a tirar vantagens do conhecimento dessas diferenças de gênero.
Stella Bernardes
14/05/09