BOTULISMO
Aspectos Clínicos
Descrição - O botulismo clássico é uma intoxicação grave, de origem alimentar, caracterizada por comprometimento agudo e bilateral de pares cranianos, fraqueza e paralisia flácida das vias descendentes. Pode estar acompanhado, inicialmente, de diplopia, boca seca, disfagia, disfonia e fraqueza muscular progressiva, que evolui para paralisia respiratória. Não cursa com febre. Tremores e vômitos podem estar presentes. O botulismo do lactente atinge, principalmente, menores de 1 ano, e, ocasionalmente, adultos; caracteriza-se por tremores, hipotonia, inapetência, disfagia, podendo evoluir para insuficiência e parada respiratórias.
Aspectos Epidemiológicos
Agente etiológico - O botulismo clássico é causado pelas toxinas do Clostridium botulinun, bacilo anaeróbio, estrito esporulado, nos tipos A, B, E e, em raras ocasiões, pelo tipo F. O botulismo dos lactentes é causado, principalmente, pelos tipos A e B.
Clostridium botulinun
Reservatórios - Os esporos estão distribuídos no solo, estando presentes com freqüência em produtos agrícolas, inclusive no mel. Estão presentes, também, em sedimentos marinhos e nas vias intestinais dos peixes.
Modo de transmissão - Botulismo clássico (alimentar) é adquirido através da ingestão de alimentos contaminados com a toxina botulínica. O botulismo do lactente ocorre por ingestão dos esporos botulínicos, que proliferam nas vias intestinais.
Período de incubação - No botulismo clássico, varia de 12 a 36 horas, podendo, ocasionalmente, durar vários dias. Desconhece-se o Período de incubação para o botulismo do lactente.
Período de transmissibilidade - Apesar da excreção da toxina botulínica nas fezes, durante semanas ou meses de doença, não se detectou transmissão secundária entre as pessoas.
Complicações - Pneumonia por aspiração, infecção e paralisia respiratórias, levando a óbito. O botulismo do lactente é responsável por 5% de morte súbita nesse grupo.
Diagnóstico Laboratorial
Botulismo clássico: além do quadro clínico-epidemiológico, o diagnóstico é confirmado pela identificação da toxina botulínica nas fezes, no soro, aspirado gástrico ou alimento suspeito; cultura das fezes de um caso suspeito.
Botulismo do lactente: identificação direta do C. botulinum, sua toxina ou ambos, nas fezes de doentes ou através de necropsias.
Diagnóstico diferencial - Poliomielite bulbar (erradicada no Brasil), síndrome de Guillan-Barré, meningoencefalites, polineurites, miastenia gravis, outros tipos de intoxicação, de origem bacteriana, vegetal, animal e química.
Tratamento - O paciente deverá ser encaminhado à Unidade de Tratamento Intensivo, para tratar insuficiência respiratória aguda e receber tratamento de suporte às Complicações. Quando disponível, poderá ser utilizada antitoxina botulínica trivalente. Seu uso não é recomendado em crianças.
Características epidemiológicas - Doença de distribuição universal, relacionada ao uso de produtos alimentícios preparados ou conservados por métodos que não destroem os esporos do C. botulinun, permitindo a formação de toxinas. Não se conhece a distribuição real do botulismo do lactente, por ser entidade pouco reconhecida pelos médicos. Há relatos de intoxicações provocadas pelo uso de verduras e frutas inadequadamente acondicionadas, por defumados, salsichas e conservas. No botulismo do lactente, o uso do mel parece ter importância.
Vigilância Epidemiológica
Objetivo - A partir de casos suspeitos, identificar as prováveis fontes de contaminação para adoção das medidas de controle pertinentes.
Notificação - Apesar de não estar incluído na Lista de Doenças de Notificação Compulsória, todos os casos devem ser informados às autoridades de saúde por se tratar de agravo inusitado, que deve ser investigado para a adoção de medidas de prevenção, em particular alerta à vigilância sanitária para apreensão de alimentos.
Medidas de Controle
a) Vigilância sanitária: do processo de industrialização e preparação de alimentos enlatados e em conserva.
b) Educação para saúde: orientação das pessoas que se dedicam à preparação de enlatados e conservas caseiras quanto às técnicas de conservação (tempo, preparo e temperatura adequada para destruição dos esporos). Informar à população sobre o risco de consumo e aquisição de alimentos em latas com tampas estufadas, ou com odor rançoso, que não podem ser ingeridos.
c) Desinfecção concorrente: alimentos contaminados devem passar por ebulição antes de serem descartados. Eliminação sanitária das fezes de lactentes doentes. Desinfecção terminal.
Fonte: Guia Brasileiro de Vigilância Epidemiológica 1998. 1998.
Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde